terça-feira, 24 de janeiro de 2023

eSports é Esporte?

A declaração da atual ministra de esportes, Ana Moser, acerca de não considerar os eSports como esporte tem provocado um interessante debate sobre o tema.
Pelo prisma legal, toda atividade em que haja competição com regras estabelecidas e que requeiram esforço físico e/ou mental se trata de esporte, o que já nos permitiria encerrar a discussão por aqui, porém, creio que exista espaço para outras reflexões que fujam da questão semântica.
Os atletas oriundos do que chamamos de esporte tradicional, principalmente os de alto rendimento, costumam encarar a equiparação como absurda, visto o maior esforço físico despendido em seus treinamentos e competições.
Deve ser ressaltado que não há indícios de que os praticantes dos eSports tenham a pretensão de serem vistos como atletas, aliás, na verdade, é provável que a associação com o esporte, no que tange às competições de alto rendimento, nem lhes seja benéfica, visto a alta significância e perspectivas de crescimento das receitas que auferem.
A divergência, na verdade, acontece primordialmente em relação às verbas públicas que o governo dedica à iniciação esportiva, a qual traz inúmeros benefícios relacionados à saúde e à formação do cidadão. Essas, sim, têm sido pleiteadas pelo segmento de eSports.
Mas será que vale dedicar recursos que seriam voltados para as crianças aprenderem e praticarem atividades físicas intensas para um segmento onde tais valências não são tão desenvolvidas? E se sim, em que proporção?
Particularmente, deixando claro que não tenho a devida isenção por ter forte relação com o esporte tradicional, penso que não, o que faço com total respeito aos que venham a divergir.
Justifico essa posição, por considerar que a atividade física, se bem ministrada e associada a um bom ensino formal, tem o poder de incutir valores que, talvez por ignorância, não vejo em nenhuma outra atividade.
Assim como a ministra, vejo os eSports como uma atividade de entretenimento, o que, aliás, não é nenhum demérito, ao contrário, chegar a esse estágio deveria ser o objetivo de toda modalidade esportiva, pois, graças a essa característica, se consegue atrair patrocinadores e popularizar as atividades.
E aqui entramos em um dos assuntos que costuma permear a linha editorial deste blog: o marketing, mais precisamente, a importância do posicionamento.
O esporte tradicional de forma geral já conseguiu se associar a valores interessantíssimos para o fortalecimento de qualquer marca, tais como saúde, respeito, fraternidade, superação, etc., ainda que as modalidades de forma individual, com raras exceções, ainda não tenham se atentado para essa necessidade. Aliás, é bem provável que o esporte tenha conseguido se apoderar dos nobres valores sem que se tenha adotado um trabalho elaborado de marketing, mas isso pouco importa agora.
Todavia, quando olhamos os eSports sob essa ótica, vemos que há um enorme espaço a ser percorrido, o qual é também uma ótima oportunidade de dirimir eventuais rejeições e de enaltecer valores que contribuiriam para uma boa percepção.
Dessa forma, seria mais salutar ignorar a discussão semântica e voltar baterias para desenvolver um trabalho de posicionamento que viesse a solidificar seus valores e até atrair marcas que queiram deles se associar.






Nenhum comentário:

Postar um comentário