Seria hipocrisia de minha parte afirmar que o tema desse artigo não foi influenciado pelas últimas eleições brasileiras, pois, sem dúvida, elas serviram de inspiração para abordar um assunto bastante corriqueiro no mundo corporativo e, por que não dizer, na vida de forma geral: a tendência de as pessoas se acharem donas da verdade, dominando todos os assuntos, independentemente se estudaram suficientemente sobre eles.
Peço licença para uma breve interrupção sobre o tema para abordar uma situação que adiante convergirá para o assunto principal.
Em grande parte das empresas é comum a prática de avaliações periódicas, nas quais os subordinados costumam receber um feedback acerca de suas performances e onde são assinalados os pontos que precisariam ser desenvolvidos. Pois bem, numa dessas dinâmicas ouvi uma frase que muito me marcou, me fez refletir, mudar e que certamente foi importante na minha trajetória: “você precisa aprender a ser voto vencido”.
Pego de surpresa, no primeiro momento, pensei em contestar sob a alegação de que minhas opiniões eram embasadas em estudos e dados.
Após alguns dias de reflexão, na verdade até hoje o exercício ocorre, pude ponderar que estudos e dados são interpretativos e, como tais, passíveis de formarem opiniões divergentes.
Qual seria a certa? Não creio que seja possível afirmar, mas provavelmente aquele que não admite que sua opinião seja contestada tem enormes chances de estar errado, visto não dar margem ao contraditório.
Numa empresa, a situação é até relativamente mais tranquila, pois caberá ao líder definir e como tal arcar com as consequências da escolha. Evidentemente que um bom líder saberá ouvir e ponderar a respeito, de forma a se municiar do máximo de informações antes de tomar as decisões, aliás o fato de não haver unanimidade é inclusive salutar.
Já no caso das eleições, o regime preconiza que a decisão da maioria seja soberana. Dito isso, causa espanto ver as pessoas revoltadas pelo fato de sua escolha não ter prevalecido. Trata-se, no mínimo, de muita prepotência em se acharem os mais “preparados” para decidir, sendo que poucos têm o devido conhecimento para analisar aspectos ligados às questões socioeconômicas, ambientais, política externa, etc. E mesmo os que conhecem não têm condições de afirmarem que suas teses são as melhores, visto haver a influência de variáveis exógenas incontroláveis, incluindo aqui o dinamismo da sociedade.
Sei lá, há horas em que a inteligência parece guardar perfeita correlação com a capacidade de estar aberto à reflexão sobre argumentações contrárias à própria convicção.
A tristeza pela derrota, assim como a alegria pela vitória nas urnas, ainda que causem estranheza, podem até ser entendidas em função do grau de engajamento e da atmosfera criada no período pré-eleitoral. Todavia, não deveriam ser intensas, tampouco prolongadas, visto ser impossível se ter a certeza do que seria melhor para o país, objetivo que deveria nortear a escolha dos eleitores.
Voltando ao feedback sobre “aprender a ser voto vencido”, posso dizer que o considero o mais útil que recebi, pois serviu de alerta para fortalecer minha crença de que a humildade para ouvir e acatar às opiniões alheias é um dos principais requisitos para o desenvolvimento profissional e humano.
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