Já faz algum tempo que chamo a atenção para a utilização da palavra “marketing” com vistas dar um cunho de, digamos, refinamento, a algo em que o objeto não tem o menor vestígio de marketing.
Ilustram essa condição o marketing esportivo, no qual muitos dos frequentadores da área dominam e/ou gostam de esporte, mas nada conhecem efetivamente de marketing. Podemos incluir nessa relação o marketing político, o digital, o pessoal e por aí vai.
Em um movimento similar surgem as startups de segmentos, muitos dos quais tradicionais, que, visando passar a percepção de algo inovador/tecnológico, adicionam tech ao final do setor que atuam. Fintech, Foodtech, Editech, Healthtec, Legaltech...enfim, a variedade é extensa e com viés de crescimento.
Entendo que a denominação de fato ajuda a “impressionar”, mas cabe também questionar se as empresas que não se classificam como uma tech, abdicam da tecnologia ou não valorizam a inovação.
Sendo um crítico ferrenho das generalizações, não vou cair na tentação de responder negativamente ao questionamento anterior, visto poder haver corporações que não se atentem para a tecnologia, porém, essas, se existirem, certamente são em número reduzido e/ou em vias de extinção.
Na verdade, qualquer empresa que esteja há bastante tempo no mercado se preocupa com a inovação, o que vai desde a atualização de conhecimentos acerca dos anseios do público-alvo até a redefinição desses, o que implica em desenvolvimento de produtos/serviços apropriados. Mecanismos de controles, softwares de gestão são também, entre outras iniciativas de atualização, demonstrações de inovação, mas que, sabe-se lá por qual razão, não recebem esse nome, tampouco fazem dessas corporações uma tech.
No setor financeiro, vemos os bancos digitais sendo considerados fintechs, enquanto os tradicionais, mesmo com soluções digitais avançadas, não desfrutam desse “sufixo”.
Será que as necessidades de integração entre agências físicas e virtuais não são tão complexas a ponto de serem consideradas techs? E a gestão de clientes e produtos não impõe pesados desafios tecnológicos e de inovação? Aliás, não descarto que estes sejam até maiores do que os das que se intitulam techs.
O que pode ser colocado em pauta é a proporcionalidade de investimentos em tecnologia das “techs” em relação às empresas maiores, as quais, talvez, tenham essa participação menor, já que precisam dedicar atenção a outros aspectos da gestão. Mesmo assim, penso que a busca por soluções que, aparentemente, não tenham relação com inovação, na verdade tenham forte influência desta. Aqui podemos exemplificar com as plataformas de recrutamento e seleção, softwares de CRM, entre outros.
Vejo assim que a apropriação dessa bandeira esteja muito mais relacionada a um trabalho de posicionamento, no qual as empresas para se diferenciarem adotam o tech e o foco na inovação como atributos de diferenciação. Iniciativa válida, contudo, deixam de considerar que se trata de algo facilmente copiável, ou seja, por mais que as soluções sejam efetivamente inovadoras, nada impede que a concorrência se apodere dessa percepção com investimentos até menores.
Claro que as empresas pioneiras conseguem “surfar bem” nesse mar, no entanto, as "seguidoras" podem estar seguindo um caminho que as levará para um oceano vermelho do qual se necessitirá de algo mais do que modismos para se safar.
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