No artigo "Title Sponsor no futebol" - https://halfen-mktsport.blogspot.com/2024/07/title-sponsor-no-futebol.html, no qual abordamos o crescimento das operações de title sponsor, citamos alguns patrocínios inusitados tais como o de marcas de cigarro.
Apesar do provável espanto com o fato, não se trata de algo inédito, pois, sob outras formas de comunicação a indústria de tabaco esteve ou está presente tendo o esporte como mote.
Uma delas se dá através do desenvolvimento de embalagens que trazem temas esportivos, registre-se que elas costumam ser um meio bastante poderoso de incentivo ao consumo.
Outra iniciativa adotada, ainda que em alguns países seja proibida, é a utilização de ídolos para endossar alguma marca de cigarro. O tricampeão da Copa de 70, Gerson, estrelou um anúncio em que terminava com a frase “gosto de levar vantagem em tudo, certo?”.
Por mais que as restrições ao fumo venham aumentando e coibindo a participação dos ídolos nos grandes centros esportivos, vimos alguns deles participarem de campanhas em países onde não há restrição à prática. O inglês Beckham, por exemplo, teve sua imagem utilizada pela British American Tobacco em anúncios na Malásia.
Da mesma forma, as federações locais de países em que o futebol não é muito desenvolvido se aproveitam da reduzida autoridade da FIFA sobre eles, para terem marcas de cigarros como patrocinadoras de suas competições.
Nesse vácuo, a popular Marlboro chegou a patrocinar a liga chinesa como parte da estratégia da Philip Morris para atingir o mercado asiático, utilizando o futebol como complemento às ações que já praticava na Fórmula 1.
Podemos também citar a marca indonésia Gudang Garam que, sendo proprietária de um canal de conteúdo esportivo – Interespost -, teve o ex-jogador do Manchester United, Rio Ferdinand, como uma espécie de embaixador. Registre-se que ao tomar ciência da relação o jogador rompeu a parceria.
A propósito, a estratégia de se tornar dona de outro negócio diferente ao tabaco tem sido uma das maneiras dessas marcas se fazerem presentes, sem explicitamente propagarem seus produtos. A Djarum, empresa de tabaco indonésia, adquiriu através de uma de suas subsidiárias - a SENT Entertainment - o Como 1907, time de futebol que está jogando a Serie A da Itália na temporada 2024-25. O grupo indonésio também é dono de um clube de badmington.
Antes disso, em 2017, a Nyasa Manufacturing Company de Malawi, comprou o Big Bullets FC do mesmo país. Temos também o emblemático caso do Cairo Eastern Company Sporting Club, também conhecido como El Sharkia Lel Dokhan, que recebeu o nome da empresa de tabaco egípcia e, no cúmulo da falta de noção, chegou a fazer um apelo para que todos os fumantes apoiassem o time.
No varejo, a VPZ, que opera lojas de cigarros eletrônicos, lançou em 2022 uma campanha contra o fumo se utilizando do ex-jogador Neil Ruddock. Evidentemente que a ação tinha como objetivo atacar o cigarro usual para subliminarmente incentivar os eletrônicos.
Para terminar, vale citar que até eventos de grande magnitude já tiveram as empresas de tabaco bem presentes. A Copa de 1982 teve a RJ Reynolds como patrocinadora oficial, a do México, idem, mesmo com as restrições à publicidade naquele país.
Desde 2010, a FIFA proíbe o fumo nos estádios durante as suas competições, sendo que a partir de 2017, o eletrônico também foi banido.
Infelizmente, os casos são inúmeros e a citação de todos deixaria o artigo muito longo. Aliás, embora tenha sido feita a contragosto, a divulgação dos nomes teve como único intuito ilustrar que o marketing é uma ferramenta importante até para produtos com pesadas restrições regulatórias.
Por mais que eventos, equipes e atletas necessitem de verba para poderem se manter, não faz o menor sentido ver produtos maléficos à saúde associados a algo que, entre outros valores, está a da preservação da saúde.
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