terça-feira, 27 de maio de 2025

Número ou nome?

Como tentativa de ordenamento das praias do Rio de Janeiro, o prefeito da cidade anunciou recentemente algumas medidas que geraram e geram bons debates.
Uma delas, a que estabelece que as “barracas” passem a ser identificadas por números e não mais por nomes como vinha sendo até então. Pelo fato de a discussão envolver conceitos de marketing, mais precisamente de naming, vamos focar esse ponto do decreto para desenvolvermos o presente artigo.
Diante da medida, os barraqueiros/comerciantes, argumentam que seus estabelecimentos são conhecidos pelos nomes das barracas e não pelos números. Fato! Contudo, isso não significa que não possam vir a ser.
A título de exercício, vamos trazer para a discussão as cidades que, seguindo um planejamento urbano, adotam sistemas de numeração para a designação de ruas e avenidas, de forma a facilitar a localização de endereços.
Nova York numera as ruas no sentido leste-oeste e as avenidas em norte-sul desde 1811. Pittsburgh começou a adotar os números em 1868, a atual Sixth Street, por exemplo, era denominada de St. Clair Street.
Vale citar o caso de Georgetown, originalmente uma cidade independente que, ao ser incorporada a Washington D.C., em 1895, teve as ruas “numeradas” para se alinhar ao padrão do Distrito de Columbia.
Nessa relação, podemos incluir ainda Chicago, entre muitas outras, que estabelece a State Street e a Madison Street como eixos principais para, a partir deles, numerar as ruas.
Embora o movimento de “numerar” pareça ser uma tendência, é preciso registrar que algumas localidades fizeram o movimento inverso, tal como St. Louis que, registre-se, ainda abriga algumas ruas com números.
Se formos derivar o debate pelo prisma de identidade de marcas, teremos pontos positivos e negativos em ambas as situações, dependendo dos objetivos de branding, do posicionamento a ser adotado e, evidentemente, do público-alvo.
Nomes únicos e criativos facilitam a lembrança e a diferenciação da concorrência, além de propiciar conexões emocionais. Na mão contrária, podem demandar investimentos adicionais em marketing, principalmente quando se tratar de nomes abstratos. Não podemos descartar os aspectos jurídicos, vide a necessidade de se encontrar nomes disponíveis para registro.
Em relação a números, a simplicidade e o impacto visual deles auxiliam o fortalecimento da marca, assim como o caráter de “universalidade”, isto é, são reconhecidos em diferentes idiomas. Os pontos negativos abrangem a dificuldade de se passar os valores da marca e na eventual percepção de falta de criatividade. Problemas relacionados às buscas online e memorização entram no rol dos desafios.
Mas,  então, qual opção é melhor? Difícil responder, até porque cada caso é um caso, ou seja, não se pode generalizar. No que tange a marcas, a frase anterior traduz perfeitamente a minha posição.
Já em relação às ruas e às barracas que suscitaram a inspiração para o artigo, tendo a ter uma leve preferência pelos números, pois, "democratizam" a localização, independentemente de se conhecer ou não as regiões visitadas.

terça-feira, 20 de maio de 2025

A onda dos boicotes


As notícias do boicote à Coca-Cola no México, na Dinamarca e no Canadá nos fornecem bons motivos para refletirmos sobre a maior atenção que a comunicação precisa receber.
A razão do boicote nada tem a ver com aspectos ligados à saúde, à nutrição ou a alguma prática nociva da marca. Na verdade, trata-se de uma reação da população local aos discursos do presidente Trump em relação às suas intenções geopolíticas e comerciais.
Ao não discernirem que uma empresa tem pouca ingerência nas falas e ações do mandatário do país em que a matriz está sediada, passam a acreditar que uma ação de boicote pode levar à reversão das intenções. Esquecem, ou ignoram, que o citado refrigerante, mesmo tendo sua origem e matriz nos EUA, tem a produção realizada no próprios países onde é comercializado, ou seja, uma eventual queda no consumo certamente trará impactos nos resultados das unidades regionais, os quais implicarão no corte de empregos dos funcionários nativos.
Na verdade, o boicote acontece também com outras marcas vistas como norte-americanas.
Mas o que as populações canadense, dinamarquesa e mexicana podem fazer para pressionar o presidente dos EUA?
Boa pergunta! Não sei responder, mas é certo que o boicote trará mais problemas para a economia local que, além de sofrer com o aumento da taxa de desemprego, pode vir a arrecadar menos tanto em função da queda da renda dos trabalhadores que perderam o emprego, como na menor receita com impostos. 
A propósito, essa “onda” de boicotes vem tomando proporções que nos levam a pensar no quão individualistas estão as pessoas. Basta ter uma insatisfação com a marca para se deflagrar ações que primariamente vão prejudicar os que nada têm a ver com o problema.
Vamos tentar entender o processo que leva a isso, voltando ao caso da Coca-Cola. A fala do Trump, impactante, sem dúvida, gera uma grande propagação, a qual, imediatamente, causa revolta e indignação. Os receptores da notícia, exasperados, pensam em reagir, mas não se dão ao trabalho de entender como se dá o processo compreendido entre a produção e o consumo. Até que alguém tem a ideia de boicotar e, num efeito manada, consegue a adesão de muitos que, igualmente, não se dão ao trabalho de entender, ou pior, não conseguem.
Assim como está acontecendo com a Coca-Cola, pode acontecer com qualquer marca. Mais grave: pode ocorrer até com notícias falsas que, muitas vezes, são capazes de causar catarses e deixam o restabelecimento da verdade quase que impossível.
A citação de exemplos levaria o texto para uma esfera política, que é o que menos pretendo.
A liberdade de expressão é sagrada, acho que poucos duvidam disso, porém, há uma grande diferença entre opinar e vaticinar. A opinião é sagrada e, mesmo que vá contra a realidade, deve ser preservada, afinal, não se pode querer que um ignorante se torne sábio do dia para a noite. Já a informação mentirosa é inadmissível, assim como a propagação dela.
Nada contra os que acham que a terra é plana e tentam explicar os motivos que os levam a acreditar nisso, mas tudo contra os que asseveram ser esse formato. A diferença talvez esteja em ser definitivo na fala. Complexo? Sim!
Mas algo precisa ser feito, de forma que a liberdade de expressão não venha se tornar uma salvaguarda para mentiras numa sociedade em que as pessoas têm cada vez menos tempo e, quem sabe, vontade, para efetivamente se informarem.
Os que hoje clamam por tal liberdade como salvo conduto para disseminarem mentiras, não podem jamais se esquecer que a mentira é uma arma que todos os lados podem dela se utilizar e sem a necessidade de porte. 
Será que não vale um desarmamento?





terça-feira, 13 de maio de 2025

Marcas e suas estratégias - Atletismo Paris

Assim como foi feito em relação aos Jogos Olímpicos de Londres, do Rio de Janeiro e de Tokyo, apresentamos a seguir uma análise baseada no estudo produzido pela Jambo Sport Business sobre as marcas esportivas que vestiram os 200 países participantes das competições de atletismo nos Jogos de Paris 2024.
A quantidade de equipes, considerando que o time de refugiados seja uma delas, subiu de 197 para 200. O número de atletas caiu de 2.179 para 2.018, já a quantidade de marcas aumentou de 32 para 37, sendo que 25 equipes não apresentaram fornecedores de material esportivo, as quais abrigaram 77 atletas. 
A Nike se manteve como a marca mais presente, enquanto a Puma assumiu a vice-liderança, ambas tanto em equipes como em atletas.
Das 37 marcas que apareceram nos uniformes das 200 equipes que disputaram o atletismo em 2024, dez subiram pelo menos uma vez ao pódio, sendo que representantes de times sem “patrocínio” também conquistaram medalhas. 
Vale lembrar que doze marcas tiveram atletas ganhando medalhas em Tokyo e treze no Rio. Tais números podem indicar que poucas marcas possuem capacidade para investir nas equipes com mais chances de medalhas, visto que, provavelmente, requerem mais verbas.
A Nike foi a marca com mais medalhas de ouro, quatro a mais do que em 2020, além disso, lidera em quantidade de prata e de bronze. A Puma permaneceu como a 2ª marca em conquistas de ouro e a Adidas ficou em 3ª desbancando a Asics que ficou na 4ª posição. No computo geral de medalhas, as três principais marcas são Nike, Puma e Adidas, sendo que dessas só a marca das três tiras cresceu em relação à edição anterior.
A análise não considerou os investimentos financeiros por parte das marcas de material esportivo, já que eles não costumam ser revelados, todavia, acredita-se que grande parte das equipes obteve apenas o fornecimento do material específico.
Em relação aos Jogos do ciclo anterior, houve 109 alterações de marcas nos uniformes das equipes. No comparativo Tokyo em relação ao Rio tinham sido 120. Nessas incluem-se também as equipes que não tinham fornecedor e passaram a ter, e vice-versa, além das trocas propriamente ditas entre fornecedores. 
As principais mudanças ocorreram nas seguintes equipes: França (de Asics para Adidas), Itália (de Asics para Joma), Brasil (de Nike para Puma), Nigéria (de Afa Sports para Acitively Black), Rep. Tcheca (de Nike para Joma), India (estava sem fornecedor em Tokyo e competiu com JSW em Paris) e Ucrânia (de Asics para Puma). As demais mudanças foram em equipes com menos de 20 atletas. 
As marcas que mais conquistaram times foram: Adidas e Puma (14 cada), Nike (11), Joma (9), Asics (8), Mizuno (7) e New Balance (6). Onze equipes que tinham fornecedor ficaram sem nenhum. Já as que mais perderam foram: Nike (24), Adidas (15), Mizuno (12) e Asics (9). Dezesseis times que não tinham fornecedor em 2020 passaram a ter em 2024.
Sem entrar no mérito do investimento financeiro, o estudo, que será publicado em 14 de maio no LinkedIn, sugere também, com relativo grau de assertividade, quais foram as estratégias das principais marcas esportivas.




terça-feira, 6 de maio de 2025

A cor da nação



Entre os temas que tomaram conta do noticiário da semana passada, um particularmente provocou enorme engajamento: a suposta cor da nova camisa da seleção brasileira. 
A Nike é comunista! O presidente Lula pressionou a empresa norte-americana! Vermelho não faz parte das cores da nossa bandeira!
De todas as três afirmações, a única que é verdadeira diz respeito às cores da bandeira. 
Porém, não custa lembrar, entre outros fatos, que a seleção italiana e a japonesa usam camisas azuis, a holandesa veste laranja e que a própria seleção brasileira já teve recentemente uma na cor preta. A relação de uniformes com cores divergentes é maior, principalmente com o advento das terceiras camisas, mas para não me estender muito, finalizo com a informação de que a utilização de camisa vermelha por parte da nossa seleção não seria inédita, tendo ocorrido em 1917 e 1936. 
Faz-se, no entanto, imperioso esclarecer que não se tratava de um uniforme oficial, e sim uma improvisação em função de os adversários estarem com camisas nas mesmas cores da brasileira. Todavia, se formos considerar o uniforme de goleiro, veremos que nossa seleção teve o vermelho em 2011 e 2014 de forma oficial.
Cumpre lembrar que vários clubes tiveram camisas em cores diferentes da sua bandeira. A “laranja” do Fluminense é um ótimo exemplo, pois, apesar do sucesso comercial, foi muito criticada pelos “tradicionalistas”. Faz parte!
Geralmente, os clubes e seus fornecedores de material esportivo lançam uma coleção por temporada, a qual, além de contemplar uma considerável gama de peças com variadas cores e modelos para treinos e viagens, vem com três camisas de jogo: a home - utilizada nas partidas em que se tem o mando de campo – a away para os jogos na casa do adversário e a terceira camisa, que não costuma ter a mesma frequência de uso das demais.
Particularmente, gosto da ideia da utilização de outras cores no terceiro uniforme, só faço a ressalva quanto aos cuidados para que o modelo não traga matizes que remetam a rivais tradicionais.
Esclarecimentos feitos e opinião dada, podemos focar no vermelho.
Historicamente, é fato que a cor esteve/está associada à esquerda, contudo, imputar ideologia às cores não me parece razoável. Seria a Coca-Cola de esquerda? E o iFood? Quem sabe o Santander? 
Se formos enveredar para esse tipo de associação, há o risco de aparecer gente questionando se a camisa preta da seleção – modelo 23/24 – tinha relação com o fascismo, visto a utilização de camisas dessa cor por parte dos apoiadores de Mussolini, os camisas negras (camicie nere). 
Pelo prisma de marketing, acho errado ter uma camisa com as cores diferentes das que constam na bandeira como a número 1 (home) ou 2 (away), exceto nos casos onde a tradição já tenha consolidada a tal cor, como é o caso, por exemplo, da Azurra italiana. Por outro lado, reitero que gosto da possibilidade de outras cores para o terceiro uniforme, desde que se respeite as restrições estatutárias e estéticas - aqui a subjetividade se faz presente, admito.
Sobre branding, consta que a camisa que gerou a discussão deve vir sob a marca Jordan, a qual pertence à Nike e está presente em um dos uniformes do Paris St. Germain. Trata-se, caso efetivamente aconteça, de uma estratégia que visa modernizar a imagem da seleção e atrair um público mais jovem e conectado à cultura urbana, de forma a aumentar o alcance da equipe para fora do universo do futebol, colocando-a como um ícone de lifestyle.
A propósito, essa estratégia, que podemos chamar de “colaboração”, já aconteceu no Real Madrid com adidas e Y-3 e no Arsenal com a mesma adidas e a 424.
Voltando ao tema que originou a polêmica, as informações mais acuradas dão conta que a cor da camisa seria uma espécie de magenta, e não vermelha, a confirmar. Entretanto, o ponto que, no meu modo de ver, deveria ser debatido se refere à utilização de símbolos do esporte na política. Nessa linha de raciocínio, considero que o uso da camisa amarela da seleção deveria ficar restrita às manifestações do esporte, assim como a vermelha, caso ela realmente viesse a existir. 
Afinal, os princípios e valores do esporte são definitivamente diferentes dos da política e, dessa forma, deveriam ser preservados. 
Acorda nação!
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