Com relativa frequência nos deparamos com estudos que questionam a viabilidade econômica de se sediar os Jogos Olímpicos.
Evidentemente vários casos, exemplos e comparativos são apresentados tanto para justificar os investimentos nesse tipo de evento como também para criticá-los.
Na verdade, as conclusões são bastante diversas e muitas vezes influenciadas pela ótica que se queira dar ao assunto, além do que, cada cidade apresenta características socioeconômicas e estruturais diferentes entre si.
Independentemente das eventuais argumentações prós e contras, alguns benefícios auferidos costumam servir de parâmetros para as análises quantitativas sobre o tema, são eles, as obras de infraestrutura desportivas e urbanas, o fluxo de turismo, a geração de empregos, a criação de novos negócios e os índices que avaliam o aquecimento da economia.
Sendo de vital importância que tais parâmetros sejam mensurados dentro de critérios rígidos e honestos, o que algumas vezes não ocorre, provocando equívocos que comprometem a análise e sobre os quais valem alguns alertas.
Suponha-se que faça parte do investimento em infraestrutura desportiva, a construção de uma instalação para a prática de competição esportiva. Para essa tarefa, profissionais da construção civil serão contratados, o que por si só já se caracteriza como geração de empregos, e materiais relativos à construção serão adquiridos, o que fatalmente aquecerá a economia.
Contudo, se essa instalação não tiver um nível de utilização compatível com os custos operacionais para sua manutenção, os benefícios da geração de emprego e do aquecimento da economia serão inócuos.
Num raciocínio extremado sobre o conceito de geração de empregos, é possível até se supor que seria mais interessante a realização de alguma construção desde que essa fosse destruída imediatamente após sua conclusão, pois nesse caso estariam expurgados os custos de manutenção posteriores.
Raciocínio similar deve ser aplicado num cenário onde seja necessário se decidir pela construção de uma estrutura permanente ou provisória para um esporte sem perspectiva de crescimento.
Exemplos de subutilização das instalações não faltam:
Em Atenas, sede dos Jogos em 2004, o centro esportivo construído para as competições de ginástica rítmica e tênis de mesa, com capacidade para 5.200 espectadores e custo de US$ 62 milhões, está sem uso desde o término das competições olímpicas. O mesmo ocorre com o complexo que comporta os estádios de hockey sobre grama, softbol e beisebol, esportes sem tradição no país, cujo custo foi na ordem de US$ 213 milhões.
Em Pequim, sede em 2008, o espetacular estádio que recebeu as competições de natação, conhecido como Cubo d’água, acaba de se transformar num parque aquático com brinquedos e praias artificiais, pois não conseguia ter a utilização para o qual foi concebido.
Outro alerta importante diz respeito ao fato de que muitas vezes não se contemplam nos projetos, os custos de oportunidade, isto é, não há nenhum estudo que estime o que ocorreria caso os investimentos destinados à realização dos jogos olímpicos fossem destinados diretamente para as áreas de segurança, saúde e educação. Ou seja, não avaliam o que seria mais vantajoso para a cidade em termos de infraestrutura urbana.
Parecem se esquecer de que ações de desenvolvimento para uma cidade não precisam estar atreladas à realização de eventos, mas sim a um planejamento criterioso e sustentável.
O que pode ser contra argumentado aqui é que a realização do evento tem um efeito acelerador nas obras de infraestrutura, argumento realmente incontestável sob a ótica de prazo.
Já em relação ao turismo, não há dúvida de que eventos da magnitude de uma olimpíada incrementam a atividade, entretanto é importante que ações paralelas ocorram, de forma que a cidade passe a ser inserida no circuito turístico independentemente da existência de eventos. Caso contrário, a subutilização da rede hoteleira, por exemplo, sofrerá os mesmos problemas da subutilização da infraestrutura desportiva, ou seja, os custos de manutenção inviabilizarão o investimento na sua construção.
Ressalto que esse artigo não tem como intenção questionar a escolha do Rio de Janeiro como sede dos jogos olímpicos de 2016, mas sim, alertar para alguns pontos que podem vir a influenciar os resultados financeiros do projeto.
Por fim, resta o alerta sobre os benefícios intangíveis e não quantificáveis proporcionados pela realização das olimpíadas, os quais têm um alto grau de importância, mas muitas vezes não são considerados nas avaliações sobre o tema. Refiro-me à inclusão social com base numa maior participação esportiva por parte da população, ao aumento do orgulho cívico e do patriotismo, à mudança no nível dos serviços em função dos treinamentos para o evento e na melhoria da saúde pública influenciada pelos hábitos esportivos adquiridos.
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