terça-feira, 19 de abril de 2011

Politicamente correto...

Alguns incidentes ocorridos recentemente no esporte têm chamado a atenção da mídia para um assunto que pouca relação tem com a atividade esportiva, a suposta homofobia por parte de atletas e torcedores.
A campeã olímpica de natação, a australiana Stephanie Rice perdeu o patrocínio da Jaguar por ter postado no seu twitter o comentário “chupem essas, seus gays”, após a vitória da Austrália sobre a África do Sul numa partida de rugby.
O time de voleibol do Sada/Cruzeiro foi multado e sua torcida tachada de homofóbica por terem xingado insistentemente um jogador do time adversário de "bicha".
O jogador de basquete Kobe Bryant do Lakers foi multado em US$ 100 mil dólares pela NBA por ter chamado o árbitro da partida de “fucking fag”, após ter recebido uma falta técnica na partida contra o San Antonio Spurs. A expressão, que não traduzirei ao pé da letra, significa algo relacionado aos gritos proferidos pela torcida do Cruzeiro.

Antes de prosseguir, vale ressaltar que não há nesse artigo nenhuma intenção em defender a homofobia, mas sim, levantar a discussão sobre os eventuais oportunismos que podem ocorrer em situações como essas.
Se repararmos os casos citados, veremos que todas as manifestações ocorreram em situações sob efeito de emoção, não que isso justifique qualquer tipo de xingamento, quero apenas ressaltar que não foram atos premeditados, o que com certeza seria um agravante.
O Vôlei Futuro, time do jogador xingado pela torcida do Cruzeiro, resolveu abraçar a causa ao distribuir peças na cor rosa para sua torcida, vestir seu líbero com as cores do movimento homossexual e estender uma bandeira de luta contra o preconceito.
Tal episódio, curiosamente, trouxe nos meios de comunicação nacionais um espaço provavelmente muito maior à equipe do que essa obtinha anteriormente graças aos aspectos técnicos.
Mas o que chama mais atenção é que essa mesma torcida que agora defende a causa, já xingou de "bicha" vários jogadores, inclusive o personagem desse triste episódio quando defendia outra equipe.
Deixando de lado eventuais suspeitas de hipocrisia, a iniciativa do Vôlei Futuro até poderia ser valorizada pelo ponto de vista de marketing, pois conseguiu adotar um posicionamento de defesa a uma causa nobre,  e dessa forma, conseguiu espaço na mídia e uma imagem de instituição politicamente correta.
Lamentável, no entanto, é ter deixado para a torcida do Cruzeiro a imagem de ser preconceituosa, pois manifestações de xingamento, mesmo condenáveis, ocorrem em qualquer torcida e sem intenções mais profundas de ofender a honra e a moral de quem quer que seja.
Já em relação ao episódio do Kobe Bryant, não tenho dúvidas de que ele mereceu a punição, porém não acho correto que ela seja creditada a um suposto ato homofóbico, mas sim ao fato dele ter ofendido o árbitro, caso contrário, poderemos até vir a inferir que qualquer tipo de xingamento estará liberado, desde que não se faça alusões ao homossexualismo.

Cabe aos gestores do esporte coibir qualquer espécie de preconceito, porém, é importantíssimo que estejam atentos aos exageros que podem ocorrer, e que algumas vezes confundem reações impulsivas de indisciplina em atos de intolerância contra opções, classes, grupos e raças.
Além disso, não é interessante para nenhuma modalidade esportiva estar associada a escândalos, preconceitos e demais aspectos negativos, pois potencializa-se o risco de afastamento de patrocinadores e novos praticantes, peças vitais para o desenvolvimento das modalidades.


3 comentários:

  1. Idel, concordo plenamente com o seu post. Hoje em dia não podemos mais ser "surpresados" pelas emoções calorosas. Um grande abraço, Wanda Rodrigues Pagy (irmão do Wilson Jr do Promenade)

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  2. Idel,

    Anteontem, o Ronaldo (ex-goleiro) contou no programa 90 mins da Kiss FM que sempre era chamado xingado de viado.

    O Richarlyson também é xingado de viado o tempo todo.

    Exemplos como esses tem aos montes, já que isso é normal do esporte. A torcida sempre vai tentar desestabilizar os jogadores do time adversário

    Por outro lado, o time fazer uma campanha contra a homofobia e contruir uma "marca" de ser um clube politicamente correto é válido. Porém, usar o caso do xingamento do jogador para ajudar na construção da marca é oportunismo.

    E tem outro problema aqui. Como será que a torcida desse clube vai se comportar no futuro? Será que nunca mais vão xingar um atleta advesário? E se xingarem, como ficará a imagem do clube que torcem?

    Abs,

    Marcio Santos

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  3. Caro Marcio

    Excelentes colocações.

    Abraço

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