O conceito de se administrar um clube tal qual se administra uma empresa é perfeito e deve ser meta de todos os gestores que têm essa responsabilidade.
Entretanto, é bom que se esclareça que existem características na gestão de um clube, que por não existirem no meio empresarial, tornam a tarefa bastante árdua.
Refiro-me à paixão, que cega e faz com que torcedores assumam o papel de cliente, mesmo que não consumam nada desse clube.
Empresas podem até despertar a admiração do mercado, porém não possuem torcedores fanáticos dispostos a defendê-las incondicionalmente.
Ninguém torce de forma apaixonada por uma corporação, podemos até encontrar fãs de alguma marca, alguns até com exacerbado grau de fidelidade, porém, nenhum deles reclamará se os resultados operacionais da mesma forem ruins, no máximo reclamarão durante pouco tempo se o produto for descontinuado.
Alguém já viu algum torcedor da Ipiranga discutindo com o da Shell sobre qual das duas é melhor?
Ou mesmo reclamando que o presidente deveria ter investido na inovação dos produtos ao invés de priorizar a estrutura de logística?
Além disso, os executivos do mercado corporativo prestam satisfações sobre os resultados aos seus superiores hierárquicos, conselho de administração e representantes dos acionistas, os quais, em tese, têm embasamento e conhecimentos suficientes para os devidos questionamentos.
Nesse mercado os objetivos são estabelecidos e avaliados a curto, médio e longo prazo, sendo que as devidas alterações de percurso ocorrem após detalhados estudos.
Já nos clubes, a grande maioria dos torcedores discute por qualquer divergência que possa deixar o rival em suposta superioridade.
As críticas e elogios a respeito da gestão são fortemente, se não totalmente, influenciadas pelos resultados esportivos.
Torcedores que não têm a menor noção do que é marketing, por exemplo, criticam sem nem cogitarem que qualquer tipo de iniciativa mercadológica deve ter como motivação algum tipo de retorno positivo, seja financeiro ou de imagem, além do que, como as verbas são limitadas os investimentos precisam ser priorizados.
Objetivos de médio e longo prazo são esquecidos e desprezados caso o time tenha uma sequencia, por menor que seja, de maus resultados.
Esse cenário faz com que projetos de longo prazo, tão necessários para a continuidade das instituições, percam algumas vezes posições na hierarquia das prioridades, o que sem dúvida não é salutar para uma boa gestão.
Resta aos gestores dessas instituições encontrarem um grau de equilíbrio que permita suportar pressões, as quais muitas vezes nada têm a ver com sua área e, ao mesmo tempo, satisfazer aos anseios de curto prazo dos torcedores, que mesmo sem terem o devido conhecimento técnico das funções exigem ações imediatas.
Sem dúvida é muito mais complexo dirigir um clube do que uma corporação, tanto no que tange aos aspectos de remuneração, estrutura e conjuntura como também pelo fato de o próprio gestor ser antes de tudo um torcedor apaixonado, influenciado pela emoção, mas que deve tentar deixá-la de lado para que as decisões sejam as mais racionais possíveis.
De qualquer forma, mesmo diante de todas essas dificuldades, acho de vital importância que os executivos que atuam em clubes tenham além de conhecimento técnico para exercer suas funções, a paixão.
Uma frase do filósofo alemão Georg Wilhem retrata bem essa afirmativa: “Podemos afirmar com absoluta convicção que nada de importante no mundo foi realizado sem paixão”.
Se metade dessa paixão e dedicação dispensadas ao futebol fossem canalizadas para outras coisas, seria muito proveitoso...
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