terça-feira, 22 de julho de 2014

Ligas versus seleções


Ao término de um torneio como a Copa do Mundo costumam surgir os mais variados tipos de discussões acerca das razões que culminaram nos desempenhos das seleções.
Entre os temas mais presentes está a globalização no futebol. Ter jogadores estrangeiros é positivo para quem? Para o país que exporta ou para o país que passa a ter competições com melhor nível técnico graças à presença destes jogadores?
Para ajudar a responder tais questionamentos e avaliar as consequências que o êxodo de jogadores pode ter no futebol, a Jambo Sport Business desenvolveu um estudo onde analisou as Copas do Mundo realizadas desde 1970 até 2014, focando todas as seleções participantes e os clubes em que atuavam os jogadores de cada equipe.
O estudo mostra que em 1970, o percentual de jogadores que atuavam em clubes oriundos dos países da própria seleção era de 98,28%, passadas duas décadas caiu para 72,59, índice que foi decrescendo até chegar a 20,38% na Copa de 2014.
O número de ligas/campeonatos que tiveram pelo menos um representante na Copa também aumentou de forma significativa. Em 1970 eram 18, numa Copa em que participaram 16 seleções, nessa última foram 52, porém com o dobro de seleções participantes.
Foi identificado também que desde a Copa de 1998, os campeonatos de 5 países ocupam as 5 primeiras posições no tocante a “ligas com mais jogadores de seleções” são: Inglaterra, Itália, Alemanha, Espanha e França.
Para não deixar o artigo muito longo, não iremos discorrer sobre todos os dados que constam no trabalho, caso haja interesse, o estudo pode ser acessado através do link http://pt.slideshare.net/jambosb/efeitos-da-globalizao-nas-copas-1970-2014

Contudo, por mais dados que tenham sido coletados, estimar com a devida certeza a influência de se exportar e importar jogadores no que tange ao grau de competitividade das seleções é algo extremamente complexo.

É fato que as ligas mais ricas atraem os melhores jogadores, entretanto, isso não é garantia de uma seleção mais forte, até porque, nunca uma seleção oriunda do país que tivesse em seus clubes a maior quantidade dos jogadores selecionados venceu uma Copa do Mundo naquele ano.
Obviamente, argumentar que ter os melhores jogadores naquele campeonato prejudica o desempenho daquela seleção também não é correto, porém é possível afirmar sem a menor margem de erro que um campeonato com grande número de bons jogadores tem uma atratividade muito maior não só perante ao público, como também perante à mídia, aos patrocinadores e aos praticantes.
Essa maior atratividade é, sobretudo, geradora de receitas, mas também contribui para o fomento ao esporte no que diz respeito ao número de praticantes, isso porque, a existência de ídolos e a perspectiva de entrar num mercado de “boas oportunidades financeiras” fazem com que os mais jovens levem mais a sério a possibilidade de se tornar um “jogador de futebol”.
Jamais podemos esquecer que as modalidades esportivas concorrem entre si de alguma forma, seja na disputa pela audiência, pelos patrocínios ou pela quantidade de praticantes.

E aqui chegamos ao ponto nevrálgico da análise: Como incluir os jogadores vindos das divisões de base em equipes abarrotadas de estrangeiros?
Evidentemente que propiciar a oportunidade de um garoto conviver com uma estrela consagrada é bastante benéfico, porém temos que considerar que potenciais promessas podem ficar pelo caminho em função do menor número de oportunidades.
Assim, diante de todos os dados coletados, análises processadas e considerações feitas, chegamos às duas principais conclusões deste estudo:
1 – Existe uma “silenciosa” competição entre liga e seleção nos países.
Ou seja, uma liga repleta de estrelas fica mais atrativa, mas por outro lado diminui o espaço para jovens nativos daquele país, o que pode redundar num processo mais lento de renovação da seleção.
Eventuais processos de regulamentação, não são fáceis de serem implementados, pois envolve o risco de abrir espaço para outras ligas se fortalecerem.
2 – É crescente o nivelamento entre as seleções em função do intercâmbio.
O fato de uma seleção ter jogadores atuando em ligas fortes no exterior, faz com que esses sejam mais exigidos e consequentemente mais competitivos. Além do que, o país exportador tem o processo de renovação facilitado.
Obviamente, as conclusões estabelecidas são tendências que podem não se concretizarem na totalidade em função de conjuntura econômica, “safra” ou até mesmo de gestão, mas valem, ao menos, serem utilizadas como balizadores de resultados.


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