Depois de muito tempo, os clubes brasileiros passarão a ter um período de preparação um pouco maior para a temporada que se iniciará em 2015, aqui se inclui férias (descanso?) e pré-temporada, sobre essa última versará o artigo que pretende discutir a eficácia de se realizar tal etapa fora do país, sob o prisma de preparação técnica e mercadológico.
Primeiramente precisamos refletir sobre o argumento “internacionalização da marca”, que nada mais é do que fazer com que a marca seja, ou desperte o desejo de ser, consumida pelo mercado externo.
Vamos então analisar as linhas que compõem a matriz de receitas de marketing de um clube de futebol com o devido cruzamento em relação ao mercado externo.
- Captação de patrocínios - não acho que a pré-temporada seja tão importante para esse fim, visto que os eventuais patrocinadores procuram os clubes visando uma maior exposição da marca e/ou associar a um posicionamento mercadológico da mesma. Sendo assim, não será a realização de algumas partidas nos EUA que despertará a atratividade da marca.
- Venda de produtos licenciados – além de não representar uma soma significativa, ainda depende da distribuição por parte dos fornecedores e da divulgação da oferta.
- Venda de títulos ou bilheteria nos jogos - também me parecem desprezíveis em termos de valores no mercado externo.
- Cotas de TV – não tenho conhecimento se houve comercialização desses direitos, e se houve, precisaríamos saber qual foi o montante.
Podemos ainda incluir como benefício de marketing, a divulgação da marca para que no médio e longo prazo, as eventuais negociações sejam facilitadas.
No entanto, para esse fim, é necessário que o binômio cobertura/frequência tenha índices consideráveis.
Cobertura vem a ser o número de pessoas impactadas pela presença do clube no exterior, enquanto que frequência vem a ser o número de vezes que a marca aparecerá até o período em que se almeje colher o retorno.
Outra variável importante para a avaliação da pré-temporada no exterior é o papel que o clube lá desempenhará, pois caso os resultados sejam ruins, pode fazer do clube uma versão internacional do simpático Íbis de Pernambuco.
E aqui reside o meu maior temor: prejudicar o lado técnico de uma equipe que terá pela frente calendário e campeonatos dificílimos na temporada.
Deixo a avaliação científica sobre esse tema ao preparadores físicos, médicos e fisiologistas, mas penso que a fase “chamada” de base, aquela que ocorre na pré-temporada, é vital para dar a sustentação aos treinos específicos e minimizar os riscos de contusão no decorrer temporada.
Diante de tantos argumentos contra a pré-temporada, teremos provavelmente leitores ávidos para contrapô-los alegando que essa prática é bastante comum entre os times europeus, sendo inclusive uma excelente fonte de receitas para os clubes.
Alegação que sou obrigado a concordar, porém não posso deixar de afirmar que tratam-se de realidades diferentes e explicarei a razão baseado na análise que fiz de 11 times europeus em relação à temporada 2014/2015: Inter, Juventus e Milan da Itália; Barcelona e Real Madrid da Espanha; Arsenal, Chelsea, Liverpool, Manchester City e Manchester United da Inglaterra;Bayern Munique e Borussia Dortmund da Alemanha.
Entre as principais diferenças valem ser citadas:
- A temporada dos times europeus costuma durar cerca 280 dias, já a nossa ultrapassa os 320 dias, o que consequentemente exige um grau maior de esforço dos atletas.
- Apesar de não constar na minha análise, suponho que as distâncias percorridas pelos times europeus sejam menores que as dos brasileiros, além do estado dos gramados ser melhor.
- O clube que teve o menor período de férias na amostra foi a Inter de Milão, 50 dias e o que teve maior descanso foi o Chelsea, 62 dias. O Fluminense terá no apenas 29.
- O time que teve a pré-temporada mais curta foi o Real Madrid, 28 dias, apenas três dias a mais do que a do Fluminense, porém os espanhóis vinham de 57 dias de férias e fez o primeiro jogo em outro continente 12 dias após o início da pré-temporada, enquanto nosso time fará o seu jogo com 8 dias de treino.
- As maiores pré-temporadas foram do Milan e da Inter de Milão com 50 e 52 dias respectivamente.
- Bayern Munique e Juventus fizeram seu primeiro jogo de pré-temporada em outro continente depois de 23 dias de treinamento.
Creio não pairar nenhuma dúvida que o calendário do futebol brasileiro é extremamente prejudicial a ações “internacionais”, o que se agrava quando essa acontece logo no início da temporada.
Diante do exposto, penso que, principalmente no que tange aos clubes brasileiros, a ferramenta mais eficaz para se auferir receitas de marketing é ter um time vencedor, pois assim, se consegue auferir mais receitas tanto através da valorização do patrocínio, como também das vendas de produtos licenciados, títulos do clube e ingresso, além, é claro, de aumentar o poder nas negociações com os detentores dos direitos de transmissão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário