terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Preço dos ingressos

O Campeonato Carioca de 2015 começa com uma questão que coloca de um lado, o Fluminense, seu rival carioca e o consórcio do Maracanã, os quais defendem o preço livre dos ingressos, e do outro os clubes que aceitam a intervenção da Federação para o tabelamento dos preços.
A dupla de clubes alega que o tabelamento tira a atratividade dos programas de sócio futebol, já que elimina o benefício de se pagar um valor menor pelo ingresso.
Trata-se de uma argumentação pertinente, mas que julgo falha por achar que um programa de sócios não pode ser tão dependente do fator “desconto de preço” e por achar que a utilização de teorias econômicas deixaria a discussão mais técnica e menos emocional.
Já a federação tem como justificativa a popularização como forma de levar mais público ao estádio, esquecendo-se que o preço não é o único fator de atratividade.
Além do que, supondo-se que a intervenção tenha êxito, nada garante que essa maior demanda não superará a oferta de ingressos, o que, fatalmente criará um mercado paralelo, onde o preço será majorado, deixando o discurso do “preço popular” bastante frágil.


Outro ponto a ser analisado diz respeito ao prejuízo que o tabelamento pode causar aos clubes de maior investimento, que precisam ter esse remunerado.
Mesmo havendo outras fontes de receitas como cotas de TV e patrocínios, a arrecadação com ingressos tem forte participação na composição de receitas dos clubes.
Um resultado operacional negativo pode fazer com que os clubes passem a investir menos na contratação de jogadores e até na base, o que acarretará em times mais fracos e, consequentemente, na geração de um conteúdo – partidas de futebol – de baixo nível técnico.
Num cenário ainda mais trágico, esse pior conteúdo pode afastar patrocinadores e diminuir a audiência na TV, o que traria reflexos nas cotas que os clubes recebem.
Não podemos nunca nos esquecer de que um jogo de futebol tem inúmeros concorrentes, que vão desde as outras atividades de lazer até a própria poupança.

Que fique claro que minha defesa pelo preço livre, não pressupõe a prática de preços exorbitantes, até porque esses certamente afastariam o torcedor do estádio, mas sim que os clubes tenham o poder de precificar da forma mais adequada, levando sempre em consideração que o poder aquisitivo da população é uma variável importantíssima na formação do preço, assim como é o pagamento em dia dos salários, dos impostos, das demais obrigações, nas quais incluem-se um time competitivo que orgulhe cada torcida.



4 comentários:

  1. Quem efetivamente forneceu acesso universal aos jogos, INCLUSIVE de times menores foi a TV a cabo, especialmente o Pay-Per-View.
    Um torcedor brasileiro em 2014 pode ver de graça em qualquer bar o jogo do seu time. Não querendo ver em um bar pode fazê-lo em sua casa pagando um preço módico para sua família ou partilhando com amigos e vizinhos.
    O preço baixo de ingressos em tempos de Pay-Per-View já não é política de inserção.

    NO MAIS, é tão falaciosa a questão de preços altos em jogos de futebol, uma vez que assume-se que um torcedor deveria ir a TODOS os jogos, o que definitivamente não é verdade.

    O Fluminense cobrar R$80,00 por um ingresso não é abusivo nem excludente (valor hipotético). Um torcedor do Fluminense que desejar ir ao jogo, evidentemente, terá de se planejar, mas poderá ir. Alguém pode pensar que R$80,00 por jogo é muita coisa, mas e se pensar em R$80,00 por ano?

    Eu, por exemplo, não quero dispor grandes quantias com futebol nem tampouco abdicar do mesmo e faço isso. Escolho a dedo as partidas que quero ir ao estádio na temporada deixando saudavelmente dentro do meu orçamento de lazer estipulado para o ano. E sim... ano com muitos shows e concertos internacionais é ano com menos jogos do Fluminense.

    O cidadão tem de aprender a defender seu bolso sozinho aprendendo a definir suas prioridades e se planejar. Papai Estado não pode ficar passando a mão na cabecinha dos filhinhos o tempo todo, não.

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  2. Caro Victor
    Bom ler seus comentários.
    Vc levantou um ponto muito importante: a frequência de ida ao estádio.
    Acho que a discussão sobre preço é infindável, porém acredito que quem conhece seus números e o comportamento dos seus torcedores, está muito mais embasado para decidir o quanto cobrar do que federações e dirigentes dos demais clubes.
    Concordo ainda com a menção ao "Papai Estado", há coisas muito mais importantes para ele tratar do que "defender" o bolso do cidadão em relação ao preço do ingresso.
    Abs

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  3. Creio que a precificação deveria ficar a cargo dos clubes. A federação deveria apenas discutir junto aos mesmos um teto para os preços. Todos saem satisfeitos e os prejuízos seriam minizados.

    Está mais que claro que o tabelamento não trará torcida aos estádios, pelo contrário: com todo o ambiente hostil criado, os torcedores se afastarão cada vez mais de um campeonato, ao meu ver, quase falido, que é disputado em horários desrespeitosos, como N. Iguaçu x Flu às 17:00h de uma quarta feira ou Fla x B.Mansa quase às 22h.

    Sou adepto também de uma prática já existente na MLS: facultar ao torcedor a compra de todos os ingressos (da temporada ou do campeonato) para as partidas com mando do clube de uma só vez. Alia comodidade para o torcedor mais assíduo e certa segurança financeira no que se refere às entradas.

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  4. Caro Bruno
    Obrigado por seu comentário.
    Penso que o teto deva ser estabelecido pelo próprio mercado nesse caso, se o clube quiser arriscar e marcar o preço de forma abusiva, ele sofrerá as consequências.
    Quanto à prática citada, o chamado "season ticket", essa já é utilizada aqui no Brasil, o próprio Fluminense já o fez em 2011 para os jogos da Libertadores e campeonato carioca.
    Também acho uma modalidade interessante, mas aqui no Brasil sofre um pouco com o efeito do poder aquisitivo da população e faz com que o parcelamento na aquisição de bens e serviços seja preferido.
    Além disso, seria preciso termos um calendário imutável.
    Att.

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