Creio que não haja dúvida de que o esporte tem uma forte relação com a paixão, e que essa, por sua vez, tem a capacidade de prejudicar a visão e até de cegar.
Poucos admitirão perante a um torcedor “rival” que seu clube é pior do que o dele, mesmo que para isso seja necessário resgatar argumentos e dados históricos de um passado distante ou ainda “deturpar um pouco” esses dados. Faz parte...
Talvez, no calor da paixão, possa também ser aceitável que lances iguais recebam interpretações diferentes, no que tange ao rigor da arbitragem, apenas em função de quem seja o beneficiado naquele momento.
Entretanto, existem situações que, por afetarem a sustentabilidade da gestão, não há espaço para posições passionais. Refiro-me aqui, principalmente, à gestão de recursos econômico-financeiros.
Mas antes de desenvolver o tema, abrirei um pequeno parêntesis para falar de política.
Em todo e qualquer processo eleitoral, vemos acusações da oposição – independente a qual partido pertença – sobre o uso eleitoreiro da máquina pública, dos gastos em ações que têm como objetivo a “compra do voto” e outras coisas do gênero.
Esses eleitores oposicionistas pregam que o dinheiro recolhido pelo governo deveria ser direcionado a ações estruturais. Estão certos!
Entretanto precisam ter em mente que ações estruturais não são somente as que lhes beneficiam...
Paro por aqui, pois não pretendo transformar esse espaço num ambiente de debate político.
Voltemos então para a gestão esportiva e, dentro dessa linha de custos ou investimentos (apesar de serem diferentes, esses se confundem quando há interesses em jogo) encontramos dirigentes que, para ficar bem com a torcida/eleitores, gastam as verbas da instituição na contratação de jogadores e pagamentos de salários sem o devido comprometimento com a sustentabilidade e com o lado estrutural da instituição.
Evidentemente, a maioria dos torcedores do clube com tal tipo de dirigente ficará feliz com as prováveis conquistas e apoiará a iniciativa do gestor, mesmo que as finanças sejam comprometidas e levem o clube a situações complicadas no futuro.
Analisando os dois casos isoladamente, o dos oposicionistas às ações ditas “eleitoreiras” do governo e o dos torcedores felizes com as contratações que aumentam as chances de conquistas de seus clubes - mas também afetam o orçamento do clube -, podemos achar que são situações perfeitamente normais, afinal, todos têm o direito à opinião.
Mas para chegarmos ao cerne do artigo, precisamos considerar que há uma interseção entre o grupo de oposicionistas e o grupo de torcedores.
Daí surgem as dúvidas em relação aos participantes desse novo conjunto:
Seria ele como “torcedor” um ser irresponsável em relação ao futuro do seu clube?
Seria ele como “eleitor oposicionista” um ser extremamente preocupado com o futuro da nação?
Ou as pessoas simplesmente defendem o que lhes convém num dado momento?
Seja qual for a resposta – creio que todas trazem a marca da incoerência – elas nos dão uma boa noção do quanto é difícil gerir organizações em que a paixão e interesses de curto prazo falam mais alto do que a racionalidade e cegam quanto à existência do futuro.
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