terça-feira, 15 de setembro de 2015

Hora de parar?


"Eu não quero ser lembrado como um campeão que foi batido".


Essa frase dita pelo pugilista Rocky Marciano - campeão mundial de boxe na categoria peso pesado - , ao se aposentar da modalidade invicto em 1956, esteve bastante em voga nesse último final de semana, isso porque dois esportistas, ainda no auge, anunciaram suas despedidas do esporte.
A tenista italiana Flavia Pennetta fez a declaração após conquistar o US Open, enquanto Floyd Mayweather, a fez após conquistar sua 49ª vitória, igualando o recorde de Rocky Marciano.
Como em quase todos as decisões, há os que concordaram, reforçando que a retirada deve acontecer quando se está no auge e os que acharam cedo demais, afinal ainda estão vencendo.
A discussão em relação à manutenção da performance, apesar de interessante, está mais voltada aos aspectos de fisiologia e motivação do atleta, razão pela qual vou me abster de comentar.
Entretanto, vale trazer à reflexão para o prisma do marketing e aqui aplicarmos o conceito de ciclo de vida de um produto, guardadas as devidas peculiaridades. Sob essa ótica, teremos que tanto Mayweather quanto Pennetta foram “descontinuados” no período de maturidade, quando ainda possuem boa participação de mercado e, em tese, propiciam boa margem.

Imaginem, por exemplo, que a Alpargatas decida descontinuar as sandálias Havaianas ou que a Unilever faça o mesmo com o sabão Omo, produtos líderes de mercado com ótimas margens. Essas empresas, até encontrarem produtos substitutos “sofrerão” para recompor seus resultados. Assim como deverá ser impactado o boxe mundial e o tênis feminino italiano.

Mas por que o termo “em tese” foi utilizado quando fiz referência à margem que o atleta aufere? Afinal de contas, as bolsas, prêmios, patrocínios e demais benefícios estão bem maiores do que eram no início de suas carreiras, além do que, os custos de preparação não subiram na mesma proporção das receitas.
O “em tese” foi usado pelo fato de o atleta chegar num estágio da vida em que conviver com dores diárias, com pressão, com cobranças e abdicando do convívio de lazer com amigos e famílias, passa a ter um custo muito alto e pareça não compensar. Como tal custo é impossível de ser quantificado monetariamente, a decisão é tomada muitas vezes de forma instintiva, e com grande risco de vir a ser revogada algum tempo depois do anúncio.
Não obstante à incerteza quanto à data correta para se retirar, há uma condição que deve ser sempre perseguida: que é a de se ter o controle da situação, ou seja, a decisão deve caber ao atleta e não deixar que os outros a tomem em seu lugar. "Sair de cena", sem que seja uma decisão própria, pode ser equivalente à figura do “campeão batido” citada pelo Rocky Marciano.
Para isso, é importante que, mesmo diante da incerteza quanto ao futuro, exista um planejamento de carreira, no qual o fator “necessidade” não tenha um peso preponderante na decisão.

O mesmo raciocínio pode ser estendido à vida corporativa, na qual o executivo – ainda que com uma vida útil maior do que a do atleta – deve planejar sua carreira, de modo que haja relativa flexibilidade para eventuais mudanças geográficas, de cargos e empresas.
Por fim, temos que lembrar que na cadeia produtiva que envolve as atividades tanto esportivas quanto corporativas, há espaço para profissionais com as mais variadas características, isto é, ser o melhor é um aspecto bastante subjetivo.


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