No último domingo ocorreu a 42ª edição da Maratona de Berlim, considerada a mais rápida do planeta, tanto que por sete vezes a melhor marca do mundo foi obtida naquele percurso, sendo que em 1998 o protagonista do feito foi o brasileiro Ronaldo da Costa.
O vencedor no masculino esse ano foi o queniano Eliud Kipchoge, que tinha tudo para superar a melhor marca, mas um problema com a palmilha de seu tênis pode lhe ter custado preciosos 63 segundos.
Isso porque, já no início da prova as palmilhas do calçado se soltaram e parte delas ficou para fora, prejudicando a performance não só pela menor tração que provocou, como também pelo incômodo de ter a parte posterior da perna sendo tocada intermitentemente durante a corrida.
A possibilidade de arrancá-las e acabar com o tormento foi descartada pelo atleta, sob a alegação de que a performance seria prejudicada caso o maior impacto da passada não tivesse o efeito do amortecimento das palmilhas.
Pode ser, mas creio que o maior prejuízo seria com a quebra de ritmo que se daria com a execução da manobra.
Pode ser, mas creio que o maior prejuízo seria com a quebra de ritmo que se daria com a execução da manobra.
Deixo para os profissionais da área avaliarem as consequências técnico/esportivas do fato, e direciono minha análise para os aspectos mercadológicos que o envolvem.
Trata-se de uma maratona cujo patrocinador técnico é a Adidas e que desde a edição de 2004 tem como vencedor um atleta patrocinado por essa marca alemã, ou seja, há 11 anos o lugar mais alto do pódio masculino é ocupado por um corredor que veste a marca das três tiras.
Em 2015, enfim, a Nike conseguiu quebrar essa hegemonia com Kipchoge, porém, o problema ocorrido em seu calçado fez com que a vitória não pudesse ser capitalizada em sua plenitude.
Apesar do problema, a marca americana não deve ter a qualidade de seus produtos questionada pelo incidente, até porque outros atletas usaram o mesmo calçado, além de, provavelmente, o próprio vencedor tê-lo feito em outras competições.
Entretanto, é inevitável que a imagem sofra algum abalo - o qual precisa ser mensurado - , já que os que praticam atividades ligadas ao running e acompanham essas competições, poderão ficar receosos de se decidirem pelos calçados da marca quando forem comprar novos tênis.
Imagino que nesse momento já devam ter ocorrido dezenas de reuniões na Nike, não só com os responsáveis pela parte de design, fabricação e distribuição do produto, mas também com o pessoal de marketing, comunicação e até finanças, pois a possibilidade de um recall não deve ser descartada, assim como o de um comunicado de grande abrangência.
Tais reuniões certamente estão sendo embasadas por pesquisas e monitoramento das redes sociais, pois muitas vezes o “estrago” tem leituras diferentes, ou seja, pode ser que o público-alvo e os formadores de opinião não tenham sido impactados tão negativamente quanto poderia se supor num primeiro instante, ou talvez, tenham sido até mais.
Outro ponto a se considerar é a duração da repercussão, pois não é impossível que em dois dias o assunto seja esquecido e num momento de compra, o cliente nem se lembre mais da marca do "tênis da palmilha solta".
Enfim, decidir sem conhecimento e com alto grau de ansiedade é a química perfeita para uma solução ruim, e mesmo diante da óbvia pressão por parte de alguns executivos, é mandatório analisar detalhadamente o impacto do “acidente” para depois se definir o que será feito.
Nesse caso, o próprio Eliud Kipchoge pode servir como exemplo, pois mesmo correndo e pressionado pelos adversários, soube sentir a prova, analisar suas condições e buscar o triunfo, ainda que sacrificando o “recorde mundial”.
Parece q ele cometeu o erro básico de correr com um tenis novo não?
ResponderExcluirOi Ana
ExcluirNão tenho como afirmar que foi isso, pode ser...
Só não sei se, caso tenha sido essa a causa, os eventuais problemas para a Nike se atenuam.
Particularmente evito utilizar qualquer equipamento novo em competições, mas hoje alguns atletas arriscam o primeiro uso em provas sem sofrerem grandes consequencias.