terça-feira, 9 de agosto de 2016

Posto que é chama...olímpica

Transformar commodity em produto é um desafio dificílimo para qualquer gestor, afinal tal “metamorfose” não depende simplesmente da formatação técnica do produto, sendo fundamental nesse processo trabalhar a percepção do consumidor e/ou dos formadores de opinião.
A complexidade desse tema já rendeu inclusive um artigo nesse blog: http://halfen-mktsport.blogspot.com.br/2012/02/transformando-commodities-em-produtos.html
Agora voltamos ao assunto em função do momento olímpico, mais precisamente em função da tocha olímpica.
Se pararmos para pensar de forma pragmática no ato, chegaremos à conclusão que carregar um objeto por alguns pontos do país é algo absolutamente simplório, e mesmo se uniformizamos o condutor ou “sofisticarmos” o objeto, muito pouco será acrescido em termos de atratividade.
Porém incorporemos ao ato, a narrativa de uma história sobre o objeto – no caso a chama – onde a mitologia esteja presente, um ritual seja celebrado e toda uma simbologia possa ser agregada.
Há alguma dúvida que o ato, aparentemente simplório em termos práticos,
se transforma num produto altamente desejado pela população mundial e com elevado potencial para geração de receitas?
Atentos, os patrocinadores dos Jogos Olímpicos usam o evento da tocha para interagir com clientes, levar suas marcas a diversas localidades e ativar de forma criativa o patrocínio. Além de ter celebridades dos mais diversos segmentos endossando, mesmo que indiretamente, a iniciativa.
Reparem que os interessados em conduzir a tocha serão responsáveis por seus custos de locomoção até a cidade em que correrão/andarão por 200 metros carregando o símbolo olímpico, e para ficarem com a réplica do objeto precisarão pagar quase R$ 2 mil. Pois bem, mesmo diante de todas essas despesas sem nenhuma recompensa tangível, a demanda para se tornar um condutor é maior do que a oferta.
Para esses, pouco importa a tangibilidade, vide os textos publicados em redes sociais narrando a indescritível emoção da realização de um “sonho”, das fotos na mesma plataforma ou nas mensagens comunicando ou pedindo para irem ao local assistirem seus “desfiles”.
Diante desses fatos, penso que o desenvolvimento do produto “tocha olímpica” é um excelente case de marketing.
O que não deixa a iniciativa imune a críticas. Os "puristas", por exemplo, reclamam da participação de algumas “celebridades” em detrimento a pessoas que fazem ou fizeram muito pelo esporte. Entendo, e até concordo com a insatisfação diante da injustiça com os que foram preteridos. No entanto, não pode ser desprezada a importância de se ter entre os condutores, pessoas que representem todos os setores da sociedade, mesmo que, aparentemente, não tenham tanta relação direta com o esporte.
Entre os insatisfeitos, encontram-se também os que pretendem fazer suas manifestações de cunho político, e assim tentam se aproveitar dos holofotes apontados para o evento. Um típico caso de ambush marketing, só que voltado à questão de ideologia.
Atitude que não acho legal, não apenas por ser contra a mistura de política com o esporte, mas também por considerar o ambush marketing como um ato, digamos, pouco nobre, já que implica no aproveitamento de um espaço de alta visibilidade para divulgação de algo, sem se ter pago por ele.
E por favor, não evoquem a liberdade de expressão como justificativa para a utilização das arenas como um espaço para comunicação, seja essa comercial ou política, seja essa de esquerda ou de direita. Em resumo, não se trata de uma questão sobre o conteúdo do protesto - é democrático -, e sim sobre o local do mesmo.
Enfim, mesmo diante dos problemas conjunturais que o Brasil e parte do mundo sofrem, é impossível não reconhecer a ótima atmosfera criada pelos Jogos Rio 2016, e lembrando o poeta: que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure.




Nenhum comentário:

Postar um comentário