Todo atleta, seja esse de alto rendimento ou mero participante de competições, costuma colocar entre seus objetivos o atingimento de alguma meta - ou recordes, mesmo que pessoais.
Geralmente factíveis às suas possibilidades, os objetivos ganham um grau de dificuldade maior quando assumem a condição de barreira. Explico melhor o que quero dizer com o case que narro abaixo.
Na semana passada a Nike anunciou seu novo projeto voltado ao segmento running: o Breaking2, que consiste em preparar alguns de seus principais atletas para correr uma maratona abaixo de duas horas em 2017. Reparem que a Nike não busca apenas o recorde, busca quebrar uma barreira.
Para os menos afeitos à modalidade, informo que o recorde atual é de 2:02:57, obtido pelo queniano Dennis Kimetto – atleta patrocinado pela Adidas – em 2014 na Maratona de Berlim, que tem também a marca alemã como patrocinadora.
Considero tal marca um assombro, assim como tenho considerado a maioria das quebras, principalmente as que aconteceram a partir de 1998, quando o brasileiro Ronaldo da Costa correu a mesma prova para 2:06:05.
Questiono as previsões que são feitas a respeito, essas, apesar de estatisticamente embasadas, não contemplam, nem teriam como contemplar perfeitamente, os avanços que têm se dado em termos de treinamento, alimentação e equipamentos.
O que não me impede de arriscar um palpite, esse aponta que será impossível obter a quebra pretendida pela Nike em 2017.
Não faço essa previsão por conhecer as dificuldades da prova, tampouco confio no meu modelo de regressão que também aponta um intervalo superior de anos para alguém correr abaixo de duas horas. A razão da minha aposta se deve a uma análise puramente mercadológica, vamos a ela.
Por mais investimento que a Nike faça nessa preparação*, não é possível garantir que outros atletas ou outros métodos de preparação não sejam mais eficientes. Sendo que esses podem estar sendo patrocinados por marcas concorrentes.
Evoluindo nesse raciocínio, seria um risco enorme para a marca norte-americana lançar um projeto que fosse “furado” por outra marca de calçado de corrida. Afinal, estariam chamando a atenção para um desafio que seria alcançado por quem nada investiu na divulgação do objetivo.
Tal conjuntura me leva a crer que a própria Nike julga como impossível atingir essa meta em 2017, mas com a campanha consegue associar seus produtos à velocidade, superação e demais valores tão importantes nesse mercado, além, é claro, de se destacar para os olhos do varejo.
Ressaltando que a marca, que já foi uma das maiores referências no segmento running, tem perdido espaço não só para as tradicionais concorrentes, como também para outras marcas que invadiram com sucesso esse mercado.
Além do provável ganho de market share, o desafio coloca holofotes sobre a prova, o pode impactar no aumento do número de praticantes e, consequentemente, no crescimento no mercado de equipamentos para corrida.
Se efetivamente é essa a estratégia da empresa só seus executivos poderão responder, mas se for, considerarei genial e com mais chances de sucesso do que correr 42,195 km em 1:59:59 em 2017.
* Há um outro projeto similar, denominado Sub2, que tem como objetivo atingir a marca no prazo de 5 anos.
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