terça-feira, 2 de maio de 2017

A anistia compensa?

A volta da tenista Maria Sharapova às quadras no torneio de Stuttgart provocou uma série de críticas por parte de algumas rivais, inconformadas com o fato de a russa não possuir a pontuação necessária para participar de um torneio daquela expressão.
O convite a atletas para participar de torneios (wild card) costuma ser uma prática usual, no entanto, os convidado geralmente iniciam suas participações nos primeiros dias da competição. No caso de Sharapova, sua estreia ocorreu mais tarde para que não conflitasse com o período da suspensão que lhe foi imposta por doping.
Discutir esse assunto é um exercício enriquecedor para os que gostam de gestão e de esporte, pois, tanto o organizador do torneio como as jogadoras insatisfeitas possuem razão, dependendo, é claro, do ângulo com que o tema é analisado.
Se olharmos pelo prisma meramente esportivo, teremos as jogadoras cobertas de razão, afinal de contas, uma rival obteve um benefício após cometer uma falta gravíssima, ainda que tenha pago por ela.
Já se focarmos os aspectos relacionados ao business, a decisão tomada parece acertada, visto ter aumentado o nível técnico e a atratividade do torneio. Para corroborar na argumentação em relação à importância do retorno do investimento nesse tipo de iniciativa, vale lembrar que o detentor do title sponsor da competição, a Porsche, é uma das patrocinadoras de Sharapova.
Se quisermos ser mais abrangentes na análise, iremos deduzir que as próprias jogadoras que “reclamaram” são também de alguma forma beneficiadas. 
Explico: para ser compensador dedicar uma vida ao esporte é fundamental que existam competições que lhe tragam visibilidade – o que rende patrocínios - e boas premiações. Tais condições são satisfeitas na medida em que haja patrocinadores e assim se instaure um círculo virtuoso, que inclui mídia, empresas, e fãs, entre outros, como partes.
Dessa forma, a presença da tenista russa, mesmo contemplando a hipótese de ela vencer e ficar com a maior parte da premiação, é interessante para as demais, por mais paradoxal que possa parecer num primeiro momento.
Em outras palavras, sua força em termos de atratividade para as empresas investirem na modalidade é tão grande que, de todo o montante que ela arrecadou em sua carreira até o momento, cerca de apenas 10% é advindo de premiação, enquanto que o restante é obtido através de contratos de patrocínio.
Indo numa vertente mais extrema, cabe argumentar que a ausência dela abriria espaço para que outras tenistas “herdassem” seus patrocínios. Um cenário até possível, mas com grandes chances de não se concretizar, pois as empresas bem estruturadas em termos de marketing escolhem seus patrocinados em função da sinergia que esses apresentam em relação aos valores que pretendem associar as suas marcas, ou seja, uma eventual substituição pode dirigir a verba para outras modalidades esportivas, tipos de patrocínio ou até para outros setores da economia.
Que fique claro que os valores acima citados não podem ser resumidos à plástica da jogadora, aos seus resultados ou qualquer outra característica de forma isolada. A escolha, quando feita de forma responsável, leva em conta um conjunto de atributos.
Continuando na busca por justificativas para se tentar condenar a volta da tenista, resta apelar para os aspectos relativos à isonomia de condições entre competidores, o que, em tese, confere mais seriedade às disputas. 
Creio que não haja discordância nesse aspecto, o que nos permite fazer mais uma provocação: será que eventuais benevolências em relação aos princípios esportivos não podem vir a afastar patrocinadores e fãs da atividade?
A resposta para esse questionamento passa mandatoriamente pela definição do percentual que representa o entretenimento/negócios no composto que rege uma competição esportiva, pois quanto maior esse for, menor será a preocupação com o esporte propriamente dito.

2 comentários:

  1. Excelente texto. Não tinha ideia de que, em certos casos, encontrar o equilíbrio entre o mérito esportivo e o negócio pode ser bem difícil. E há bons argumentos em ambos os lados.

    ResponderExcluir