terça-feira, 5 de dezembro de 2017

O quarto poder


A expressão "quarto poder" foi cunhada tendo como base uma espécie de equiparação da imprensa aos três poderes do Estado: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, de forma que o poder da mídia servisse como um contraponto no que diz respeito ao zelo pela liberdade de expressão e defesa contra eventuais ações de censura.
O tema é vasto e possui vários desdobramentos e pensamentos em torno dele, porém, nesse texto a proposta é questionar até que ponto é legítimo abusar do “poder” da mídia para sobrepujar as decisões dos demais poderes constituídos.
Como instrumento para esse questionamento vamos utilizar um infográfico publicado na seção de esportes do jornal O Globo em 4 de dezembro de 2017, no qual foram listados todos os clubes campeões brasileiros de futebol e os anos de seus respectivos títulos.
Nesse material foi possível constatar que o título de 1987 aparece tendo dois campeões, valendo salientar que o STF já havia decidido em favor de um deles. Claro que a decisão do tribunal dá margem a concordâncias e discordâncias, mas esse não é o ponto que pretendo explorar, e sim o respeito que deveria haver pelo veredito.
Essa necessidade se faz ainda mais presente nesse momento em que a disseminação de informações através de redes sociais atinge proporções absurdas, sendo que muitas delas aparecem distorcidas, ou pior, são totalmente mentirosas. Tal cenário seria uma ótima oportunidade para consolidar o posicionamento dos veículos dito independentes como guardiões e propagadores da verdade, contribuindo assim para referendar sua credibilidade, além de prestar um serviço honesto a quem demanda por eles. 
Não questiono o direito de a imprensa opinar ou mesmo de relatar toda a sua contrariedade sobre alguma medida, aliás, penso que esse é um dos seus deveres, pois dessa forma proporciona à população a possibilidade de refletir sobre os temas, ao invés de simplesmente acatá-los como verdades absolutas. 
Pode até ser que para alguns, o fato de um veículo de comunicação estabelecer por conta própria quem foi o campeão há 30 anos pareça um mero detalhe. Respeito, apesar de eu achar que qualquer competição esportiva deva ser valorizada e respeitada. 
Entretanto, o ponto que mais preocupa é a constatação de que a própria credibilidade e uma decisão proferida pela maior instância judiciária do país possam ser ignoradas por questões estranhas ao que o próprio jornal prega em seus editoriais.
É claro que não podemos ficar cegos ao fato de que os meios de comunicação, muito diferentes do que eram no passado, fazem parte de conglomerados que buscam obstinadamente a rentabilidade de seus ativos, o que poderia indicar que uma linha editorial favorável à maioria da população viesse a facilitar o atingimento dos objetivos econômicos. Contudo, creio ser possível "agradar" essa maioria através de artigos e opiniões sem que haja a necessidade de se distorcer os fatos e ignorar decisões judiciais.


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