terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Localizando mercados

Os que não são muito afeitos à corrida já devem ter ficado intrigados ao verem algum praticante parado antes de começar o treino olhando ininterruptamente para seu relógio e algumas vezes para o céu, até que acontece alguma coisa que parece ser o sinal verde para se iniciar o treinamento.
Na verdade, ele está esperando a captação do satélite que será responsável por auferir distância, ritmo e demais variáveis que permitirão monitorar seu treinamento. Ah, a olhada para o céu não tem nenhuma razão, ela nada mais é do que um movimento causado pela impaciência por uma eventual demora na conectividade, a qual leva o corredor a inconscientemente tentar avistar o satélite como se isso fosse possível e, mesmo que fosse, nada adiantaria.
Pois bem, esse aparelho que chamei de relógio é um smart watch, produto pertencente à categoria dos wearables – expressão que serve para identificar os dispositivos móveis que podem ser utilizados como peças de vestuário. Aliás, muitos já se referem ao aparelho pelo nome da marca do fabricante – Garmin -, o que, talvez, já possa deixá-la com o status de marca genérica. 
O caso narrado é bem interessante, pois no passado o dispositivo similar em referência era conhecido pelo nome de um concorrente, o Polar. Devendo ser ressaltado que este tinha como função principal a medição dos batimentos cardíacos. Hoje ambas as marcas apresentam basicamente as mesmas funcionalidades.
Mas de qualquer forma, vale a observação de que esse mercado é detentor de uma situação bastante rara: a mudança da marca genérica em um categoria - http://halfen-mktsport.blogspot.com/2017/01/marcas-genericas.htmlem função do comportamento das marcas concorrentes envolvidas e seus processos de inovação mercadológica.
O caso fica ainda mais fascinante ao se analisar como a Garmin galgou a essa posição, visto que originalmente a empresa tinha como principal produto o dispositivo GPS para automóveis, categoria que correspondia em 2007 a cerca de US$ 2,5 bilhões de receitas, o equivalente a 75% do faturamento total da empresa.
O mercado de aparelhos de GPS que parecia totalmente dominado se viu diante de um ofensor que, até então, não tinha sido encarado  inicialmente como um concorrente. Refiro-me ao lançamento do iPhone pela Apple, o qual disponibilizava um aplicativo gratuito de navegação, o Google Maps.
Esse aplicativo, supostamente inofensivo, fez com que as receitas advindas das vendas de GPS da Garmin caíssem o equivalente a US$ 1 bilhão em três anos.
Diante de um quadro sem perspectivas de recuperação para seu carro-chefe, a empresa buscou alternativas de aplicação para a tecnologia que dominava. Nesse processo identificou a crescente atenção da população com a qualidade de vida e também o aumento no número de praticantes de atividades esportivas.
Daí em diante começou a ser uma referência para corredores, triatletas, ciclistas, nadadores e até golfistas, ainda que a concorrência seja composta por marcas bastante fortes como a própria Apple, Samsung, Lenovo, além da Polar que vem tentando recuperar espaço junto a esse público.
A competição promete ser acirrada, até porque, como foi explorado no artigo, o mercado é dinâmico e pode trazer surpresas a qualquer momento, razão pela qual não é prudente ficar muito tempo olhando para o céu como costumam fazer os corredores em seus momentos de pré-treino. 




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