terça-feira, 22 de outubro de 2019

A incontinência digital

O texto que será aqui desenvolvido tem como motivação a polêmica criada pelo tuíte do gerente geral do Houston Rockets, equipe de basquete da NBA, porém a reflexão pode ser estendida a todos que, ocupando posições com relevantes responsabilidades, utilizam as redes sociais de forma inconsequente.
A frase “lute por liberdade, esteja com Hong Kong” postada pelo dirigente no seu Twitter causou sérios problemas para a NBA, inclusive a suspensão dos patrocínios advindos das empresas chinesas.
Antes que venham a evocar a liberdade de expressão como justificativa para a postagem, adianto que a discussão não passa por esse ponto, a liberdade é sagrada, entretanto, qualquer mensagem que seja pública deve ser previamente analisada, de forma que sejam avaliados os benefícios e as potenciais consequências negativas que possam existir.
No caso, a postagem pedindo para “se estar com Hong Kong” certamente não influenciará os destinos do território, até porque o tal dirigente não é nenhum estadista ou liderança que venha fazer diferença nesse sentido. Por outro lado, as reações por parte da China podem colocar em risco a situação financeira de muitos que nada têm a ver com o imbróglio.
A facilidade, isto é, praticidade e alcance, com que se consegue propagar alguma “citação” nas redes sociais atingiu um nível bastante elevado, daí, aqueles desprovidos de uma visão estratégica acabam criando situações constrangedoras tanto para si próprios como para as entidades que representam.
Diante deste tipo de problema, o qual acontece até com presidentes da república e seus assessores, vem a dúvida: será que o tempo utilizado para as postagens não poderia ser aproveitado para outro tipo de função? Aliás, até o exercício de pensar sobre as possíveis reações de cada ação poderia ocupar este tempo, supostamente ocioso.
Por mais que as opiniões como pessoa física sejam um direito inalienável de todos, ao se ocupar certos cargos o risco de as opiniões pessoais serem confundidas com as posições das entidades é enorme, razão pela qual preconizo que qualquer postagem, por mais “inocente” que possa parecer, seja exaustivamente discutida com um staff composto por pessoas inteligentes e de visão estratégica.
Nesse contexto as entidades passam por um momento bastante delicado, afinal de contas uma declaração "infeliz" pode impactar os mais variados indicadores de desempenho. 
Na iniciativa privada, a solução em tese parece mais fácil, pois bastaria o aprimoramento de alguns códigos de conduta para coibir esses problemas, todavia, a alegação de que se trata de uma opinião pessoal e que foi externada através de suas plataformas individuais prejudica a aplicação das sanções dispostas nos códigos de conduta, ainda que o prejuízo à imagem da marca seja enorme.
No que diz respeito a chefes de estados e seus fiéis escudeiros a situação é ainda pior, pois, ao se colocarem como senhores da razão e acima do bem e do mal, deixam a incontinência digital trazer instabilidade num campo onde a estabilidade é fundamental para se gerir uma nação.
Há uma frase de Fernando Pessoa que diz: “existe no silêncio uma tão profunda sabedoria que às vezes ele se transforma na mais perfeita resposta”
Um pensamento que beira a perfeição e que, por mais inusitado que possa parecer, se deu numa época onde nem se cogitava a existência das redes sociais e o marketing era pouco conhecido.











2 comentários:

  1. Caro Idel, parabéns pela capacidade de, em poucas palavras, abordar um problema recorrente. tanto no mundo corporativo como no da política, ou mesmo, das relações pessoais. Ótima contribuição, muito obrigado.

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