terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

O paradigma da idade

No próximo domingo – 7 de fevereiro – será realizada mais uma edição do Super Bowl, a LV. A organização deste evento, agora com o desafio da pandemia, será certamente explorada em diversas matérias com riqueza de detalhes. Todavia, outro fato sobre a final chama bastante atenção e serve de inspiração para o presente artigo: a décima participação do quarter back Tom Brady, recordista em número de conquistas e que se tornará, com 43 anos, o jogador mais velho a disputar uma final.
O fato de o seu novo clube, o Tampa Bay Buccaneers, ter se classificado para o Super Bowl, também é digno de registro, pois desde 2002 isto não acontecia. Embora tentador, não seria justo creditar estes méritos exclusivamente ao experiente jogador, principalmente se tratando de esportes coletivos. Brady, na verdade, é uma peça importantíssima na engrenagem de um bom time que carecia de alguém com seu perfil técnico, tático e pessoal.
Mas o que abordaremos aqui é como que um jogador considerado pela opinião pública como “velho” e que não despertou de seu antigo time nenhum grande interesse em mantê-lo na equipe, pode ter boas atuações, a ponto de chegar na final? A resposta para esta pergunta passa pela generalização da definição do que é "ser velho”, a qual faz com que a maioria das pessoas não dê a devida atenção aos skills necessários para se exercer dada função e faça do ano de nascimento a variável de avaliação, o que é, evidentemente, um erro crasso.
Ainda no esporte, é comum ver técnicos de futebol mais velhos ganharem a pecha de que estão desatualizados quando os resultados de suas equipes não estão a contento. Discurso que se esvai quando o mesmo treinador passa a performar. 
Claro que o fator “atualização” é importante, mas quem é capaz de garantir que o treinador não se mantém estudando e acompanhando o desenvolvimento do esporte? Ao invés de procurar saber e “se atualizar” sobre o assunto, é mais fácil -  e covarde - para os críticos, correlacionar o eventual mau resultado à idade.
No mercado corporativo não é diferente. Excelentes profissionais passam a ter suas capacidades questionadas em função da idade, desprezando-se assim a experiência e a vivência deles, as quais certamente ajudariam a superar muitos desafios.
Neste segmento, pelo menos, não há menções à desatualização – nem poderia, visto o risco de ter tal veredito desmascarado. Contudo, há o silêncio que fala, mas não explica, pois paradigmas não comportam explicações.
O mais curioso é que a sociedade explora tanto o tema  diversidade para gêneros, raças e orientações sexuais, enquanto que o fator "faixa etária" é desprezado na maioria dos discursos a respeito. No que, aliás, se faz muito bem, afinal, neste caso, a competência deve se sobrepor a qualquer tipo de medida inclusiva, só a mencionamos aqui para alertar sobre a “seletividade” presente nos discursos em prol na “não seletividade”.
Voltemos ao Tom Brady, cujo momento atual é exemplar para o cerne do artigo. Fica claro que não se pode esperar que ele tenha a mesma velocidade de locomoção de um jogador de 20 anos, porém, a rapidez de raciocínio aditivada pela vivência de lances que se repetem e viram automáticos, o fazem uma peça fundamental na engrenagem que comporta peças dos mais variados perfis.
Não enxergar a utilidade dos profissionais, preferindo se apegar a paradigmas é um claro sinal de "falta de atualização", ou quem sabe, já que estamos falando de idade, de senilidade.






2 comentários:

  1. Você levantou um interessante tema usando o esporte como exemplo, parabéns por levantar a bola de forma tão competente.

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  2. Muito obrigado. O esporte tem muito a acrescentar no mundo corporativo, e vice-versa.

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