terça-feira, 21 de junho de 2022

A SAF e os torcedores

A adoção do modelo da SAF (Sociedade Anônima no Futebol) por alguns times brasileiros têm provocado inúmeras discussões acerca da viabilidade da iniciativa. Ainda que o modelo pareça ser a salvação para os clubes endividados e sem perspectivas de reversão do quadro, há inúmeras falhas em sua redação, porém, não nos debruçaremos aqui sobre elas por envolver análises jurídicas e tributárias, o que não é a proposta do blog.
Cabe, no entanto, abordar o papel da torcida diante do modelo.
Inicialmente precisamos definir para efeito de nossa reflexão a diferença entre cliente e consumidor.
Enquanto o primeiro paga diretamente por algo, o segundo apenas faz uso do produto/serviço sem dispender recursos de forma direta. Guardadas as devidas peculiaridades, seria como diferenciar o torcedor que assiste aos jogos no estádio ou pagando o pay-per-view daquele que acompanha as partidas através da tv aberta.
E como deve ser o comportamento deles diante de uma insatisfação? Antes de respondermos essa pergunta, é necessário indagar o que será reclamado.
As queixas que uma empresa recebe costumam ser a respeito de alguma insatisfação em relação a expectativas sobre os produtos ou serviços consumidos.
Derivando esse racional, podemos afirmar que a expectativa do torcedor é que seu time ganhe todas as competições! Ok, mas é isso que a SAF promete entregar?
Imaginem um cliente – não me refiro a acionista - da Coca-Cola, revoltado pelo fato de o refrigerante ter perdido participação de mercado no canal de auto serviços com até nove check-outs na Grande São Paulo? Ou mesmo que o preço das ações tenha caído?
Ao contrário de uma empresa que atua no mercado, cujo objetivo é lucratividade e onde uma gestão eficaz é capaz de permitir que corporações mesmo sem grande capacidade de investimentos alcancem seus objetivos, no esporte a boa gestão operacional não é garantia de satisfação das expectativas, afinal os concorrentes podem também ser bem geridos, mas apenas um será campeão.
Ajustadas essas perspectivas, voltamos para as reclamações dos torcedores, chamando a atenção que muitos dos insatisfeitos pouco ou nada contribuem para as receitas dos clubes.
Superada essa reflexão, valem alguns questionamentos: com quem o torcedor irá reclamar? Assim como acontece nas empresas haverá um “fale conosco” ou algum tipo de canal para esse tipo de interação? Essa forma de contato será suficiente para amenizar suas insatisfações ou pleitearão um contato físico tal qual é feito atualmente junto a treinadores e jogadores? E se isso acontecer, como reagirão os acionistas dos clubes diante de atos violentos e desproporcionais?
Aí reside o problema, pode ser que parte dos torcedores não entenda o funcionamento de gestões profissionalizadas -  aliás já não entendem como é no clube -, fato que pode vir a afastar aqueles que estejam dispostos a investir no futebol.






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