terça-feira, 7 de março de 2023

Questionando a bonificação


Se há algo de bom que podemos extrair do escândalo da Americanas, este está relacionado às reflexões que devem ser feitas ao modelo de remuneração por ela adotada. 
De forma geral, as pessoas tendem a relaxar em relação às situações que aparentemente estejam dando certo, mas não ponderam eventuais possibilidades de mudanças. Pior, passam a ter certeza de que tais modelos são ótimos e tentam replicá-los sem sequer considerarem que cada corporação e pessoas possuem características diferentes, mas sobre essa tendência de “imitar” falaremos mais detalhadamente em outro artigo.
Voltando à Americanas, há dois pontos fundamentais a serem levantados:
Um, diz respeito ao estigma de “ser bom”, o que faz com que executivos e empresas não tenham suas performances questionados em função das percepções e resultados do passado, sendo que muitos dos quais nem correspondem à estrita realidade dos fatos. Sobre esse tema, o tempo se encarrega de mostrar, ainda que muitas vezes a verdade passe despercebida para o público em geral.
O outro traz à tona a eterna discussão acerca dos modelos de remunerações, os quais valem ter seus componentes explorados mais detalhadamente nesse artigo.
A introdução de bônus como forma de compensação por performance tem sido uma prática cada vez mais adotada pelas corporações. O que no passado estava mais presente entre os executivos da área comercial, através de comissionamentos por venda, hoje se estende a quase todas as funções.
Não parece haver dúvida de que premiar a meritocracia e, sobretudo, dividir os frutos das boas performances são medidas justas e motivacionais. Diante dessa certeza, a discussão que se coloca diz respeito ao peso que se estabelece às remunerações fixas e variáveis, evidentemente considerando os demais benefícios.
O discurso de que a parte fixa tem como função arcar com as despesas ordinárias faz sentido, porém, há de se convir que eventuais maus resultados podem acontecer, o que pode comprometer a parte variável e consequentemente as finanças dos colaboradores, afinal, é salutar fazer reservas. Evidentemente que também não é interessante que a empresa distribua bônus que venham comprometer sua saúde financeira, tampouco é razoável que, em busca de ganhos, os próprios executivos se utilizem de práticas desonestas para maquiar balanços ou mesmo para obter resultados não sustentáveis.
Outro argumento a favor de um equilíbrio entre o fixo e o variável remete ao futebol, onde clubes, como forma de motivação, distribuem o que chamam de “bicho” em caso de alguma vitória importante, fato que muitos criticam sob a alegação de que dessa forma, o salário parece ser a remuneração para perder e o “bicho” para ganhar.
Claro que há um exagero no raciocínio, mas é necessário admitir que a obrigação de todo colaborador, seja do nível hierárquico que for, é dar o melhor de si, independentemente da bonificação que isso pode lhe proporcionar. Daí a importância de uma parte fixa significativa, a qual, não deve comprometer o fluxo de caixa da empresa, mas que tenha o poder de atrair e reter bons profissionais.
Dessa forma, vejo o bônus como uma espécie de divisão de algum excedente em cima dos números objetivados, excedente esse, nunca é demais repetir, que tenha realmente existido.






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