terça-feira, 14 de março de 2023

Riachuelo no esporte

Ao anunciar a BodyWork, marca esportiva desenvolvida pela rede de varejo Riachuelo, como sua fornecedora de material esportivo, a CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) faz um movimento inédito no mercado brasileiro. Tal ineditismo, evidentemente, suscita vários questionamentos acerca do sucesso da iniciativa para as partes.
Antes de iniciarmos as reflexões acerca da nova parceria, convém salientar que o mercado de fornecimento de material esportivo tem passado por significativas mudanças nos últimos tempos. Se no passado as marcas privilegiavam a exposição e a associação aos times, hoje o resultado operacional da iniciativa tem peso maior na decisão do investimento em patrocínio.
O futebol evidencia bem essa mudança. No passado, além de todo enxoval de peças para treinos e competições, as principais equipes recebiam verbas fixas e royalties sobre as vendas dos produtos licenciados e até premiações em função das performances esportivas. Hoje, poucas recebem valores fixos e muitas vezes os royalties citados só começam a ser pagos após terem saldado os custos com o enxoval fornecido.
Neste contexto, fica claro que a oferta de fornecedores diminuiu, o que levou grande parte dos clubes e confederações a terem dificuldades de suprimento e buscarem alternativas para, pelo menos, não terem despesas com uniformes.
Sobre a parceria Riachuelo/BodyWork & CBV, temos que pelo prisma de co-branding, a parceria parece muito mais vantajosa para a varejista que, ao entrar no segmento de marcas esportivas, o faz se associando à confederação que rege o segundo esporte mais popular do país e cujo desempenho esportivo é um dos melhores do mundo. Isso sem falar que o esporte e seus valores têm a capacidade de rejuvenescer marcas e contribuir para a construção de posicionamentos valiosos.
Algumas marcas internacionais voltadas ao segmento fashion já fizeram esse movimento principalmente junto a tenistas, enquanto outras entraram no esporte fornecendo material para serem utilizados em cerimônias como desfiles e premiações esportivas. De modo geral, a estética destes produtos costuma ser um ponto positivo, o que no caso da BodyWork pode atrair também consumidores que não sejam fãs de voleibol, todavia, a qualidade é um fator que requer bastante atenção.
Já em relação à distribuição, a CBV, em tese, tem muito a lucrar, pois passa a ter seus produtos têxteis licenciados disponíveis em mais de 300 pontos de vendas físicos, além de um e-commerce bem estruturado. O termo “em tese” se deve à incerteza quanto à presença em quantidades e modelos suficientes em todas as lojas.
Estimar vendas não é tarefa das mais fáceis, ainda mais quando se trata de produtos novos. Assim, as chances de ruptura ou de ter produtos que não girem em alguns pontos é grande, o que pode vir a comprometer a satisfação do cliente e, ainda que infimamente, os resultados da loja.
Não ficou claro no noticiário se os produtos BodyWork poderão ser comercializados em outros varejistas. Entretanto, por mais que a Riachuelo tenha uma boa capilaridade, o fato de não comercializar produtos correlatos à modalidade como bolas e calçados inibe eventuais compras por impulso.
Seria prematuro ser definitivo na avaliação sobre o patrocínio em questão, há prós e contras para as partes envolvidas, os quais podem ser trabalhados no decorrer do processo e, quem sabe, fazer da operação um modelo a ser replicado no mercado esportivo como um todo.






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