terça-feira, 5 de setembro de 2023

Discutindo o assédio

A solenidade de comemoração da Copa do Mundo de futebol feminino nos colocou diante de uma situação de assédio, a qual precisa ser discutida seriamente. 
Para os que não acompanharam o caso, refiro-me ao beijo na boca que o presidente da Federação Espanhola de Futebol deu na jogadora Jenni Hermoso no momento em que entregava a premiação.
Mas o que tem de mais um selinho como forma de demonstrar alguma satisfação? Aos que se apoderam desse argumento e tentam justificar a covardia minimizando o poder efetivo do ato, evoco que, independentemente das consequências físicas, afinal um beijo não machuca nem tira pedaço, qualquer toque exige consentimento das partes envolvidas.  E, por mais que houvesse vontade da jogadora, o que não parece ser verdade, o momento e o local são totalmente inadequados.
"Ah, o mundo está muito chato", minimizarão outros. Ainda que a sociedade esteja passando de forma radical de um extremo onde tudo podia para outro que nada pode, é inaceitável que se coloquem atitudes condenáveis sob o manto dos "mimimis" e chatices.
Assédios precisam ser coibidos e punidos, creio que não haja nenhuma dúvida quanto a isso. A discussão que se permite gira em torno do que deve ser considerado assédio, além da penalização a ser imputada aos assediadores.
Todavia, enveredar por uma visão jurídica do que vem a ser assédio requereria saberes sobre leis e fugiria da proposta do blog, assim, para simplificar, sugiro partirmos da premissa de que qualquer ação, cuja reação seja inibida pela maior força de quem provocou, caracteriza-se como uma covardia e, como tal, pode ser enquadrada como assédio.
Imaginem as consequências que a jogadora espanhola sofreria se empurrasse ou afastasse de forma veemente o agressor. Sim, beijo sem consentimento é agressão. 
Trazendo para o ambiente corporativo, além de casos em que superiores hierárquicos tentam de alguma forma seduzir colaboradoras baseados nos cargos que ocupam, há também os que tentam levantar a voz e dar gritinhos como forma de impor suas convicções salvaguardadas pelo receio dos interlocutores em colocar seus empregos em risco.
Aliás, será que os assediadores teriam a mesma postura se as posições fossem invertidas? Será que um chefe que grita com algum colaborador grita também com seu superior? 
Evidente que não!
Está mais do que na hora de discutir seriamente o assédio e criar a consciência de que beijos forçados são atitudes de idiotas, assim como gritos são demonstrações de incompetência, isso sem falar no risco de reações, digamos, pouco afáveis, não é mesmo?





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