terça-feira, 13 de agosto de 2024

Seguidores a qualquer preço

Ao fim de mais um ciclo olímpico, pouca coisa mudou. Os críticos quadrienais continuam aparecendo municiados de artigos para atacar a estrutura do esporte brasileiro, isso sem falar no complexo de vira-lata de achar que tudo aqui é pior. Sem dúvida, muitas dessas manifestações abrigam pontos interessantes, porém, a grande maioria carece de embasamento sobre o modelo brasileiro, seus entes, suas responsabilidades e toda a complexidade de gerir algo que sofre a influência da economia, da educação e da cultura do país. Ainda assim, é válido o debate, desde que sem tons professorais e dissertações com fórmulas mágicas para resolver todos os problemas.
Feito o desabafo, quero abordar um ponto que efetivamente mudou muito: a comunicação. Vimos, entre outras coisas, uma remodelagem na linguagem dos canais oficiais que, no intuito de ficarem cada vez mais populares, passaram a adotar posturas que, no meu modo de ver, fogem da essência da atividade esportiva.
Uma postagem feita pelo  Comitê Olímpico do Brasil exemplifica bem essa mudança. Ela ocorreu após a vitória do surfista Gabriel Medina sobre o japonês Kanoa Igarashi e trouxe a frase “Chora q tou feliz! Hehehehe” (sic), postada no twitter (x) reeditando a publicação do atleta do Japão, na ocasião em que venceu o brasileiro nos Jogos de Tokyo.
Publicações bem infelizes de ambas as partes, afinal, saber ganhar e perder reforça os valores do esporte. Essa crença fica ainda mais evidente diante da atitude da maior ginasta norte-americana de todos os tempos, Simone Biles, ao exaltar a brasileira Rebeca Andrade no pódio, minutos após ter sido por ela derrotada. 
Ainda que a postagem do COB possa ter como explicação a reação à provocação do japonês, penso que não cabe por parte da instituição nenhum tipo de resposta. Valendo alertar que as eventuais intenções rancorosas de alguns dirigentes jamais podem ser extravasadas colocando as instituições que representam como escudo para a covardia. 
Admito que a iniciativa teve o poder de criar repercussão e trazer um público que talvez nem se interessasse por esporte olímpico. Ok, mas queremos simplesmente engajar, seja de que forma for?
Mais uma vez, o marketing é distorcido, nesse caso ao se utilizar o esporte como uma simples plataforma de atração de "fãs" e crescer sem identidade e posicionamento. Deixam assim de aproveitar os atributos incutidos na atividade e no olimpismo, os quais certamente pavimentariam um caminho mais sustentável para atração de fãs e patrocinadores.
Nem vou entrar no mérito das questões hierárquicas, que preconizam que respostas devem ser dadas a pares, meu ponto aqui é realmente o respeito ao esporte.
É fato que o futebol já vem adotando esse tipo de iniciativa ao reproduzir o comportamento dos torcedores em seus canais oficiais, o que também me incomoda, todavia, como os atributos envolvidos nessa modalidade vêm sendo contaminados por violência e outras demonstrações de falta de fair-play ao longo do tempo, creio que só resta lamentar e torcer para que os dirigentes cessem com essa prática provocativa.
Temo, e muito, que o esporte seja visto como zoação. Desculpem, mas esporte é coisa séria, é o trabalho de muitas pessoas, as quais abdicam da vida social, para viver com dores e incertezas, buscando constantemente a excelência de forma, espero eu, limpa.
O respeito a essa dedicação deve ser preservado. Uma coisa é zoar em grupo de WhatsApp, brincar entre si após uma competição - ou até durante - mas publicamente isso não combina com os princípios do esporte.
Aos gestores de marketing, apelo que olhem para figuras como Simone Biles,  Roger Federer, LeBron James, Michael Phelps e muitos outros que conquistaram admiração, seguidores e engajamento sem ter que apelar para ações que jogariam fumaça sobre o que eles têm de melhor:  talento, dedicação e respeito aos adversários. 





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