terça-feira, 6 de agosto de 2024

"Sena" de descaso

A cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, como quase tudo atualmente, provocou inúmeras reações, as quais versaram sobre a duração do evento, a infraestrutura para os espectadores que ficaram expostos à chuva e, principalmente, ao conteúdo.
Eventos são atividades sujeitas a inúmeros problemas, tamanha a quantidade de variáveis a serem contempladas, além da necessidade do equacionamento de recursos. Já sobre o conteúdo, se cai numa questão de gosto pessoal, porém, nesse caso, para não fugir da polarização que habita o cotidiano, envolveu até pautas de costume.
Que o atleta deve ser o protagonista dos Jogos Olímpicos, não se discute. Devem ser incluídos na cerimônia? Com a devida parcimônia, sim, mas não nos esqueçamos que eles estão lá para performar e que eventuais participações em algo que não esteja relacionado a competir, treinar, descansar e se alimentar, deve ser bem avaliado. Além disso, os espectadores anseiam por uma cerimônia de entretenimento, afinal, os atletas mostrarão o melhor deles nas competições. Diante desse quadro, vem a pergunta: qual a dose de entretenimento a ser “ministrada” nesse tipo de evento, sem que os princípios do olimpismo sejam afetados e que atletas participem sem prejuízo das respectivas preparações?
Independentemente de predileções individuais, não podemos jamais negligenciar que a atratividade perante outros públicos, além daqueles que já são fãs do esporte, deve ser buscada, pois isso impacta na capacidade de geração de receitas advindas da criação de novos “consumidores”. Todavia, há que se ter a devida consciência de que estamos falando de Jogos Olímpicos e não de concertos, shows ou desfiles de escola de samba.
Enfim, como não tenho a pretensão de encontrar aqui a fórmula ideal, fica o apelo para os que se propõem a discutir o tema,  que o façam de forma bem intencionada, ou seja, sem politizarem.
Prefiro usar o espaço para focar num ponto que guardasse, sim, relação com a organização dos Jogos, porém, voltado diretamente ao esporte, a quem deve caber o protagonismo das Olimpíadas.
Falarei da competição de Triathlon, cujo local escolhido, ainda que bonito e emblemático, colocou em risco a realização da prova e a integridade dos atletas. Nem vou explorar a perna de ciclismo que contemplou 27% em chão de paralelepípedo, tampouco da corrida com 25% sobre esse piso. 
Quero focar a natação, realizada no Rio Sena, opção que colocou em risco a realização da prova, que poderia ter sido transformada em um duathlon terrestre (corrida-ciclismo-corrida) caso as análises indicassem a insalubridade da água,  o que seria péssimo por várias razões, dentre as quais destaco a preparação dos atletas e a descaracterização da modalidade, aqui com o agravante de ser um esporte relativamente novo, principalmente em termos olímpicos, e que precisa se popularizar sem ter suas características distorcidas. O adiamento da prova masculina e o impedimento dos atletas fazerem o reconhecimento do percurso também prejudicaram bastante a preparação.
A alegação de que o evento precisaria ocorrer em Paris é legítima, afinal, supostamente, as autoridades locais tinham, enfim, conseguido despoluir o rio Sena e isso precisava ser mostrado. 
Não discordo da intenção de levar o esporte para pontos turísticos, até para o Triathlon é ótimo estar nos grandes centros, porém, avaliar riscos faz parte de qualquer projeto, sendo que talvez valesse mais ter a prova em localidades menos “charmosas” do que tê-la disforme e colocando em risco a saúde dos atletas. Lembro que as competições de surf, além de outras como vela e tiro ocorrem em outras cidades distantes de Paris.
Resta, por fim, lamentar que grande parte dos que postaram críticas à cerimônia de abertura, abdicaram dos textos veementes em defesa do esporte e dos atletas, que são a essência do olimpismo.





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