Ao fim de mais uma temporada do campeonato brasileiro, surge um debate que tem como objeto de discussão o modelo gestão no que tange à competitividade: associativo ou SAF?
Certamente os defensores do modelo SAF vão evocar o campeonato brasileiro e a Copa da Libertadores de 2024 como argumento de convencimento. No lado oposto, a Copa do Brasil e as três citadas competições em 2023 embasarão a defesa pelo modelo associativo.
Já sob o prisma dos rebaixamentos, dos quatro ocorridos na atual temporada, dois times são SAF, mesma quantidade de 2023.
Embora sejam parametrizações interessantes, é preciso considerar que análises que se baseiam em recortes, na maioria das vezes não inspiram muita confiança, visto carecerem de bases históricas robustas, as quais são essenciais para se avaliar a sustentabilidade dos resultados, isto é, entender se há realmente um projeto duradouro ou se não passa de algo ocasional.
Nesse contexto, um questionamento se faz mandatório: por quanto tempo os investidores das SAFs estarão dispostos a manter a posição acionária até realizarem seus lucros? Ainda que títulos tragam reflexos nas receitas, 20% dessas, em razão do regime centralizado de execuções (RCE), devem ser direcionadas à justiça para o pagamento das dívidas cíveis e trabalhistas, sendo que muitos juízes excluem do montante as advindas das vendas de jogadores e premiações. Preciso ser mais explícito?
Pelo outro lado, é preciso ver até quando os clubes “associativos” conseguirão rolar suas dívidas sem prejuízo das respectivas competitividades e operações. Há consideráveis casos de times que, numa espécie de all in, foram sendo geridos irresponsavelmente, até não conseguirem mais suportar o endividamento, culminando na conclusão de que o modelo de SAF era a única solução que restava.
A alegação de que as SAFs apresentam uma melhor governança pode até fazer sentido, mas não é regra, vide os escândalos que aparecem frequentemente no mundo corporativo, inclusive em empresas listadas na Bolsa e com fortes iniciativas de compliance. Claro que, no caso dos clubes “associativos”, o modelo de gestão costuma ser retrógrado em grande parte deles, o que torna maior o risco de desvios de conduta.
Mas voltando nossa análise para o prisma de desempenho esportivo, veremos que, desde que se iniciou o formato de pontos corridos em 2003, apenas três clubes nunca foram rebaixados - Fluminense, São Paulo e Flamengo -, todos sob o modelo associativo. Tal condição, aparentemente favorável a esse tipo de governança, também não significa que esta seja a melhor alternativa, até porque, em grande parte das vezes, a transformação para SAF acaba sendo consequência de algum rebaixamento, cujo impacto nas finanças é invariavelmente maléfico.
Dessa forma, reitero que, embora não seja um fã incondicional do atual modelo de SAF, penso ser ele fundamental para clubes que chegaram a um elevado nível de endividamento, só chamo a atenção de que esse tipo de processo requer estudos muito minuciosos, alinhamentos de expectativas e contratos que resguardem as organizações de “aventureiros”.
Mesmo não sendo impossível encontrar investidores que originariamente torçam para os times que aportam, vide os principais clubes mineiros, essa não é uma situação usual, o que aumenta o risco da continuidade dos projetos de performance esportiva, já que o objetivo da gestão de médio e longo prazo passa a ser voltado intensamente aos indicadores financeiros e remuneração dos investidores, situação que se agrava nos casos de grupos econômicos que detenham a participação em mais de um clube - multi-club ownership -, os quais precisam estabelecer prioridades para a alocação de recursos.
Quanto à pergunta em relação ao modelo mais competitivo, não vou me eximir de responder: partindo da premissa que se tenha a devida estabilidade financeira, aquele que for gerido por quem realmente conhece futebol e, evidentemente, gestão, terá uma sequência mais duradoura de bons resultados, independentemente de ser SAF ou não.
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