O incidente ocorrido recentemente em que um treino secreto do Fluminense foi filmado sem a devida autorização serviu como inspiração para a elaboração desse artigo.
Não vou discutir o papel da imprensa, se ela agiu corretamente ou não, mas sim analisar a vulnerabilidade que propiciou o vazamento da informação, a qual poderia ter tido como “espião” alguém da equipe adversária.
É importante também alertar que tais “vazamentos” não ocorrem exclusivamente através de “filmagens” não autorizadas, mas de diversas formas onde a falta de preocupação com o fato e a ingenuidade dos envolvidos são os principais responsáveis.
A partir disso, irei abordar de forma bem resumida o conceito de Inteligência Competitiva (IC), que, aliás, é mais um dos processos de administração que tem sua função distorcida, pois costumeiramente acaba sendo confundida com “análise da concorrência”.
Isso não quer dizer que esse processo não envolva tal tipo de análise, porém não fica restrito aos dados de mercado como vendas, market share e preços praticados.
A Inteligência Competitiva trabalha com fragmentos de informação oriundos de diferentes fontes, e a partir dessas são traçadas estratégias que embasarão a elaboração de iniciativas que se antecipem às tendências de mercado e ações da concorrência.
Ainda pouco difundida no Brasil, a IC está presente nas 500 maiores empresas americanas.
O grande crescimento dessa área se deu com o fim da Guerra Fria, com a migração de agentes de Inteligência de Estado para a iniciativa privada.
Torna-se importante ressaltar que tal tipo de atividade nada tem a ver com espionagem industrial, a qual se caracteriza pelo furto de informações e é ilegal, bem diferente da IC, que possui um código de ética para a coleta de informações.
Existem 3 etapas distintas num processo de IC, o planejamento da ação – que envolve o foco a ser dado e o que deverá ser coletado - , a coleta de informações e a análise destas.
Apesar de graus de importâncias similares, vale chamar a atenção aqui para a etapa de coleta.
Essa ocorre de diferentes formas e não tem a pretensão de numa única ação obter o que se objetiva, mas através de fragmentos de informações desenvolver cenários bem próximos da realidade, o que é chamado de teoria dos mosaicos.
Essa coleta pode ocorrer de várias maneiras, desde uma simples palestra de um executivo da empresa - aliás é assustador a inocência de certos palestrantes, que abrem números e estratégias de suas empresas sem a menor preocupação com a IC - até em entrevistas desses executivos a veículos de comunicação e pesquisadores.
Caberia às empresas dificultar ao máximo a ação da concorrência, e para isso não é necessária uma função explícita em sua estrutura, visto que o exercício da IC deveria ser uma atividade de todos, não obstante a isso é importante que se tenha bem definido quais seriam os poucos executivos que falariam pela empresa, seja com a imprensa ou em palestras, e que esses fossem treinados para nada revelar.
Tudo o que foi escrito acima, guardadas as devidas proporções podem e deveriam ser aplicadas em instituições esportivas, seja no âmbito da gestão ou da própria competição.
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