Como já foi abordado em artigos anteriores, a escolha de ponto, principalmente quando se fala do setor varejista, é algo que requer os mais rígidos cuidados, pois um erro pode fazer com que negócios promissores não tragam o retorno esperado.
Outra situação que também exige extrema atenção é a que contempla o processo de expansão, pois, além da necessidade de maiores investimentos, há mais uma vez a desafiante tarefa da escolha de ponto.
Podemos inclusive considerar que na fase de expansão, a dificuldade é ainda maior em função de já existir um formato/layout “estabelecido” - o que exigirá espaço similar - e da menor oferta de bons pontos, já que a disputa costuma ter uma velocidade maior do que a do crescimento das cidades.
Tamanha dificuldade faz com que muitas vezes certos detalhes sejam subestimados. Um bom exemplo para ilustrar o tema é o case Carrefour - San Lorenzo de Almagro, o time do Papa Francisco.
Esse clube do tradicional bairro de Boedo em Buenos Aires, teve ali sua casa, o Estádio Gasômetro, desde 1916 até 1979, quando a ditadura militar desapropriou o estádio, sob a alegação de precisar da área para um projeto de reurbanização, e o demoliu em 1983.
A tal urbanização prometida nunca se concretizou e tempos depois a rede Carrefour abriu no local um dos seus hipermercados.
No entanto, os executivos da rede francesa não consideraram a reação da torcida do San Lorenzo, 3ª maior da Grande Buenos Aires, que deixaram de comprar no hipermercado, além de promoverem boicotes, pichações e protestos.
A rejeição foi tão grande, que um dos principais concorrentes da rede, o Walmart, chegou a ser o patrocinador da equipe estampando a marca nas camisas do time durante algumas temporadas.
Os protestos então foram tomando cada vez mais corpo, até que em 2012 os torcedores do Ciclón, como é conhecido o time do Papa, reuniram cerca de 100 mil pessoas para marcharem até a Praça de Maio, ponto tradicional de protesto na capital argentina, e pleitearem a “volta para casa”, ou à "Terra Santa", como eles se referem ao Estádio Gasômetro.
Tamanho engajamento culminou na aprovação da Lei de Restituição Histórica, a qual devolveu o espaço ao San Lorenzo.
Houve ainda a necessidade de uma negociação com o Carrefour, findada em 2014, que, além de receber uma compensação financeira, terá direito a uma loja menor naquele espaço.
Como resultado do processo, muito em breve os torcedores poderão assistir às partidas do seu time no novo velho estádio.
Não me arrisco a fazer nenhuma previsão quanto à reação dos torcedores do San Lorenzo em relação ao Carrefour, mas creio que os gestores que tomaram ciência do ocorrido passarão a considerar a “paixão” como uma das variáveis nas futuras decisões de expansão.
Por fim, deve ser destacada e valorizada a mobilização dos torcedores rubro-celestes, que deram uma prova de que jogar junto com o time não é apenas torcer nas arquibancadas, mas também exercer seu papel de “cidadão” daquela instituição.
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