terça-feira, 28 de julho de 2015

Eu vou cantar essa paixão



Apesar de o esporte ser uma atividade secular, podemos considerar a gestão esportiva como algo relativamente novo. E como ocorre com grande parte das atividades “novas”, as evoluções costumam ser mais facilmente percebidas e maiores são as dúvidas e questionamentos a respeito.
Uma dessas discussões  mais ligada ao futebol – tem como tema a possibilidade de um executivo, torcedor de algum time trabalhar na gestão de outros clubes.
O mercado tem nos mostrado que se trata de algo bastante comum e corriqueiro, afinal de contas, o profissional não pode ficar restrito a um único empregador.
Outro argumento a favor dessa prática, se constrói ao equipararmos o segmento esportivo com o mercado corporativo, no qual vemos, com relativa frequência, executivos dos mais variados cargos indo trabalhar em empresas concorrentes.
Não podemos também nos esquecer dos jogadores, treinadores e demais integrantes da comissão técnica – aqui se incluem os gestores ligados ao futebol –  que certamente torcem por algum time e jogam contra esse como se fosse apenas mais um adversário.
Diante de tantos e tão bons argumentos, quem sou eu para discordar de que se trata de uma prática absolutamente normal.

No entanto, vou me permitir fazer algumas observações que não afetam minha opinião sobre o tema - reitero que não vejo problema algum -, mas que podem ajudar o leitor a refletir a respeito, já que não podemos desprezar  um componente que tem o poder de fragilizar todo o racional descrito acima: a paixão.
Trazendo para a analogia que foi feita anteriormente com o mercado corporativo, devemos admitir que por mais que um cliente ou fã de alguma empresa a admire, ele não acompanha – nem se tem como – seus resultados com a frequência e emoção que se faz em relação aos times.
Além do que, a rivalidade entre empresas não chega ao ponto de haver torcedores que discutam ou mesmo se provoquem.
A própria paixão que jogadores e afins nutrem por um time, é relegada a um plano secundário em função da adrenalina da disputa e da sede de vitória presente na personalidade de qualquer ser humano.

Sendo assim, talvez o único ponto em que a paixão possa ser um fator que iniba a contratação de um executivo torcedor de um clube por parte de outro, diz respeito ao grau dessa paixão e como ela vinha sendo e será demonstrada.
Não digo que o grau da paixão possa vir a prejudicar o trabalho desse executivo, pois tenho a plena convicção de que profissionais competentes empregam 100% de sua capacidade no exercício das atividades para que foram contratados, porém acho muito difícil que um torcedor fanático torça para o clube que o emprega quando este jogar contra seu time de coração.
O que também nada atrapalha, desde que o faça de forma silenciosa.
Aí chegamos ao segundo ponto que é a forma como essa paixão foi e/ou é demonstrada. Volto a dizer que por mais que o executivo tenha alguma vez  no passado exagerado nas  demonstrações de fanatismo e paixão por seu clube de coração, isso em nada afeta o desempenho de um bom profissional. Evidentemente, que por uma questão de respeito, é inadmissível que tais demonstrações continuem a existir quando ele estiver sendo remunerado por outro clube.
O problema, no meu modo de ver,  ocorre em relação à pressão da própria torcida, que costuma ser tradicionalmente crítica das gestões - mesmo sem ter o devido embasamento para tal -  e dessa forma agregam às usuais reclamações, o covarde argumento de que fulano torce para outro time, como se a competência do profissional pudesse ser aferida por suas preferências.

Enfim, penso se tratar de uma questão de foro íntimo, ou seja, o executivo que já tenha dado provas de sua paixão exacerbada, deve antes de aceitar qualquer proposta de trabalho em clubes rivais, deixar claro para quem o convida os problemas que sua contratação pode acarretar para a estabilidade da gestão, mesmo que tecnicamente esteja convicto de sua utilidade. 



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