Apesar de o
esporte ser uma atividade secular, podemos considerar a gestão esportiva como
algo relativamente novo. E como ocorre com grande parte das atividades “novas”, as evoluções costumam ser mais facilmente percebidas e maiores são as dúvidas e questionamentos a respeito.
Uma dessas discussões – mais ligada ao futebol – tem como
tema a possibilidade de um executivo, torcedor de algum time trabalhar na gestão
de outros clubes.
O mercado
tem nos mostrado que se trata de algo bastante comum e corriqueiro, afinal de
contas, o profissional não pode ficar restrito a um único empregador.
Outro
argumento a favor dessa prática, se constrói ao equipararmos o segmento
esportivo com o mercado corporativo, no qual vemos, com relativa frequência,
executivos dos mais variados cargos indo trabalhar em empresas concorrentes.
Não podemos também nos esquecer dos jogadores, treinadores e
demais integrantes da comissão técnica – aqui se incluem os gestores ligados ao
futebol – que certamente torcem por
algum time e jogam contra esse como se fosse apenas mais um adversário.
Diante de tantos
e tão bons argumentos, quem sou eu para discordar de que se trata de uma
prática absolutamente normal.
No entanto, vou me permitir fazer algumas observações que
não afetam minha opinião sobre o tema - reitero que não vejo problema algum -,
mas que podem ajudar o leitor a refletir a respeito, já que não podemos
desprezar um componente que tem o poder
de fragilizar todo o racional descrito acima: a paixão.
Trazendo
para a analogia que foi feita anteriormente com o mercado corporativo, devemos admitir que por mais que um cliente ou fã de alguma empresa a admire, ele não acompanha – nem se tem como – seus resultados com a
frequência e emoção que se faz em relação aos times.
Além do que,
a rivalidade entre empresas não chega ao ponto de haver torcedores que discutam
ou mesmo se provoquem.
A própria paixão que jogadores e afins nutrem por um time, é relegada a um plano secundário em função da adrenalina da disputa e da sede de vitória presente na personalidade de qualquer ser humano.
Sendo assim, talvez o único ponto em que a paixão possa ser
um fator que iniba a contratação de um executivo torcedor de um clube por parte
de outro, diz respeito ao grau dessa paixão e como ela vinha sendo e será demonstrada.
Não digo que o grau da paixão possa vir a prejudicar o
trabalho desse executivo, pois tenho a plena convicção de que profissionais
competentes empregam 100% de sua capacidade no exercício das atividades para que
foram contratados, porém acho muito difícil que um torcedor fanático torça para o clube que o emprega quando este jogar contra seu time de coração.
O que também nada atrapalha, desde que o faça de forma
silenciosa.
Aí chegamos ao segundo ponto que é a forma como essa paixão
foi e/ou é demonstrada. Volto a dizer que por mais que o executivo tenha alguma
vez no passado exagerado nas demonstrações de fanatismo e paixão por seu
clube de coração, isso em nada afeta o desempenho de um bom profissional. Evidentemente, que por uma questão de respeito, é inadmissível que tais
demonstrações continuem a existir quando ele estiver sendo remunerado por outro
clube.
O problema, no meu modo de ver, ocorre em relação à pressão da
própria torcida, que costuma ser tradicionalmente crítica das gestões - mesmo sem ter o
devido embasamento para tal - e dessa forma agregam às usuais reclamações, o covarde argumento de que
fulano torce para outro time, como se a competência do profissional pudesse ser
aferida por suas preferências.
Enfim, penso se tratar de uma questão de foro íntimo, ou
seja, o executivo que já tenha dado provas de sua paixão exacerbada, deve antes
de aceitar qualquer proposta de trabalho em clubes rivais, deixar claro para
quem o convida os problemas que sua contratação pode acarretar para a estabilidade
da gestão, mesmo que tecnicamente esteja convicto de sua utilidade.
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