A escolha do título teve como objetivo adaptar uma frase de um dos maiores escritores brasileiros
– o tricolor Nelson Rodrigues – para um assunto que julgo bastante pertinente:
a distorção do uso da palavra "criatividade".
Antes de seguirmos com o texto, quero deixar claro que sou defensor ferrenho da “criatividade”, que considero fascinante a análise dos
processos criativos e que tal característica tem um peso considerável nas minhas
escolhas, inclusive nas de colaboradores e fornecedores.
No
entanto, existem alguns dogmas acerca da criatividade que precisam ser
esclarecidos:
- O primeiro é aquele que coloca a criatividade como substituta de todo e qualquer fator importante para a gestão de uma organização.
Perdi
a conta do número de vezes que ouvi alguém replicar alguma explicação sobre
falta de recursos – sejam humanos, financeiros, econômicos ou temporais – com a
expressão “use a criatividade”.
Falam
com uma autoridade, tal qual a de um idiota da objetividade.
Passam,
assim, o atestado de que se houver recursos, a criatividade é dispensável.
Ora
bolas, a criatividade é sempre necessária, independentemente dos recursos. Ou
será que acham que a criatividade pode ser economizada, dosada ou desperdiçada?
- O segundo dogma é achar que todas as soluções advêm de ideias criativas.
Como
escrevi acima, não se deve jamais abrir mão da criatividade, porém, não se pode
esquecer ou desprezar que a solução de grande parte dos problemas, se não a
totalidade, passa inicialmente pela definição da estratégia que será adotada.
Essa
envolve o conhecimento sobre a percepção do cliente para daí se chegar a um
posicionamento que fará da empresa / produto / serviço algo único na mente do
consumidor.
Nada
adiantará ter uma ideia criativa para um problema, se essa não estiver em consonância
com a estratégia, e mais, existe grande risco de adotá-la, resolver um problema
imediato e criar no longo prazo uma condição que nem o mais criativo dos
gestores conseguirá sanar.
O
argumento de que a criatividade auxilia na elaboração das estratégias até pode
fazer algum sentido, mas deixando bem claro que se trata de uma mera
contribuição, visto que o processo de planejamento envolve ferramentas e
conceitos científicos de gestão, que a criatividade, para decepção de seus defensores,
não consegue substituir.
Chegamos
ao final do texto e nada sobre esporte foi mencionado.
É
verdade, porém, o desenvolvimento do tema foi inspirado naqueles que, motivados
por interesses políticos, pela ignorância acerca de gestão, pelo desconhecimento da própria estrutura
das organizações esportivas e desprovidos de coerência de raciocínio citam a “criatividade” como argumento para suas críticas.
Dentro
desse contexto, até poderia mudar o título - que tanto gostei - para "Padre de
passeata" (aquele que troca a batina pela política) ou até para "Palhares, o
canalha" (oportunista sem nenhum escrúpulo), ambos tipos criados por Nelson
Rodrigues, o qual, aliás, já dá o cunho esportivo que faltava, por se tratar de
um torcedor fanático pelo Fluminense.
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