Se por um lado a
disponibilidade de números facilita as análises sobre qualquer tema, por outro pode
se tornar uma armadilha para os poucos afeitos à matemática e à lógica.
Na verdade, os erros
não costumam ocorrer na divulgação dos números, esses na maioria das vezes estão corretos. Os problemas acontecem quando são utilizados como
parâmetros descabidos ou sem a devida significância estatística.
Não são poucas as vezes
em que vemos percentuais obtidos em pesquisas qualitativas como se fossem a
representação de um extrato significativo da população. Isso sem falar das
pesquisas que, sem a devida segmentação, viram verdades absolutas.
As referentes ao tamanho das torcidas dos clubes de futebol são bons exemplos dessa última observação, pois se colocam
num mesmo bolo torcedores fanáticos - que consomem tudo relativo ao seu time - com outros que nem sabem sequer o nome de algum jogador. E o pior, tais números viram padrão para inúmeras decisões acerca
de patrocínios e divisão de receitas.
As análises
comparativas, como dito acima, são também foco de graves erros de inconsistência.
Recentemente vimos
excelentes artigos sobre os números envolvidos na Maratona de Nova York, esses
versavam sobre as receitas geradas para o comércio da cidade através do consumo
de quem lá estava, dos impostos gerados, da quantidade de turistas, etc.
Informações
interessantíssimas, que podem até servir como benchmarking para outras
maratonas ou demais eventos que contemplem esportes de participação.
No entanto, muitos
resolveram comparar com números do GP Brasil de Fórmula 1 ou até com os de partidas de
futebol.
É o que chamo de somar
bananas com laranjas.
O esporte
de participação tem a capacidade de atrair tanto os “participantes”, como seus
acompanhantes, além do público que vai às ruas incentivá-los e torcer pelos favoritos.
No caso da maratona de
Nova York, os “incentivadores” dos mais de 50 mil atletas ficam espalhados por
todo percurso de 42 km contínuos, ou seja, em nenhum momento o corredor passa
duas vezes pelo mesmo local.
O fato do evento acontecer em Nova York
também traz viés às “análises”, pelo fato de a rede hoteleira ser maior, o que
aumenta a capacidade de hospedagem, e dos valores dos produtos e serviços serem mais
caros. O site Expatisan calcula que o custo de vida em Nova York é mais de 130%
maior do que em São Paulo, isso para ficarmos na análise em relação ao GP de
Fórmula 1.
É importante ressaltar
que as críticas contidas no presente artigo não se dirigem à utilização de números nas
análises, muito pelo contrário, sou defensor incondicional das ferramentas
quantitativas para embasamento das conclusões e reflexões.
O que ataco é a
superficialidade na mineração dos dados e as conclusões que não consideram, nem
explicam as possíveis causas que levaram aos números apurados, pois dessa forma,
verdades "não tão verdadeiras" passam a se constituir instrumentos de argumentação
por parte dos menos afeitos aos detalhes.
Fantástico, meu caro! Uma belíssima abordagem, didática, fácil de entender e de explicar.
ResponderExcluirST
Obrigado, amigo!
ExcluirST