terça-feira, 27 de março de 2018

E o vencedor é...

Sempre considerei meio sem sentido prático as comparações, principalmente as mais subjetivas, que se tentam fazer acerca de quem é o melhor em algo, as razões dessa convicção podem ser vistas no artigo https://halfen-mktsport.blogspot.com.br/2014/02/quem-e-o-melhor.html.
Entendo, no entanto, que esse tipo de iniciativa tem o poder de engajar as pessoas seja votando ou opinando sobre os resultados das “enquetes”.
Ao final dos campeonatos brasileiros, por exemplo, são elencados os melhores em cada posição, a revelação e o craque da competição. Em 2017, o título de melhor jogador coube ao atacante Jô, artilheiro do time que se sagrou campeão.
Em termos técnicos, podemos concordar ou não com a escolha, assim como aconteceria se fosse outro nome, razão pela qual não entraremos nessa discussão. O problema aqui, no meu modo de ver, está relacionado ao fato desse jogador ter feito um gol com a mão e na entrevista após o jogo ter negado a infração, mesmo com câmeras evidenciando a violação. Vale também lembrar que nesse mesmo campeonato o citado jogador deixou de levar um cartão amarelo, que o suspenderia da próxima partida, em razão de o adversário ter assumido a execução de uma falta que o juiz tinha originalmente  creditada ao "artilheiro".
Entrar no mérito se ele deveria ter se acusado no momento do lance, apesar de tentador, levaria a discussão para o lado do “calor do jogo”, o qual poderia, em tese, atenuar a falha em não reconhecer a infração. Prefiro assim direcionar o foco para aqueles que votaram no jogador como o craque do campeonato, pois esses no momento do sufrágio não estavam sob efeito do “calor do jogo”, ou seja, nada mais natural que escolhessem qualquer outro que não estivesse no centro de alguma polêmica de tamanha magnitude, de forma a mostrar que atos desonestos não devem jamais serem ignorados.
Há que se ter em mente que potenciais patrocinadores buscam associar suas marcas a atividades que passem credibilidade e sejam percebidas como sérias.
O caso atinge maior gravidade por ter ocorrido no esporte - atividade que deve ter como propósito ser um agente de transformação educacional – e num país onde escândalos e julgamentos se sucedem numa elevada frequência.
Como escrevi acima, vejo essas enquetes com um cunho meramente promocional, válidas, portanto, para o que se propõem. Muitas empresas também instituem premiações relativas aos “melhores” fornecedores, parceiros e clientes, os quais são avaliados dentro de alguns critérios objetivos e referendados – ou não – por atributos subjetivos relacionados a interesses estratégicos e adoção de práticas de governança.
No caso do “Craque do Brasileirão” pode até ser que os “votantes” tenham se esquecido do incidente ocorrido três meses antes, o que é mais grave, pois pode denotar não ter havido a devida indignação ou, ainda, ser normal que se tenha sucesso independentemente dos meios utilizados para isso.
Quem sabe esse mesmo “eleitor” não tenha discursado publicamente contra o jogador após o gol de mão, mas no “silêncio do voto” tenha preferido instituir  alguma ética própria.
Em vista disso, receio demais que esse “colégio eleitoral” seja uma estratificação de uma sociedade que brada contra a desonestidade, mas que no fundo a tolera, a exalte e, quem sabe, a pratique se tiver oportunidade.



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