terça-feira, 30 de abril de 2019

Não se meta com o marketing!


Uma das formas mais interessantes para se debater temas relacionados à gestão é se aproveitar de notícias que chegam à mídia, se popularizam e causam discussões acaloradas. A partir daí fica mais fácil a reflexão, principalmente para aqueles que sabem e estão dispostos a ouvir com a devida isenção.
Nesse formato de discussão, utilizaremos a polêmica campanha desenvolvida pelo Banco do Brasil, a qual teve sua repercussão aumentada por ter sido retirada do ar em função de uma determinação do presidente da república. 
Inicialmente é preciso esclarecer que a melhor pessoa, em tese, para aprovar ou reprovar uma campanha é o diretor de marketing da empresa, visto ser ele o detentor do conhecimento do mercado, das pesquisas e dos objetivos da instituição. Consequentemente, seria ele também a pessoa a ser cobrada pelos resultados, devendo ficar claro que uma campanha de marketing não envolve apenas a comunicação, mas todos os demais componentes do composto de marketing (preço, distribuição e produto), ou seja, avaliar o marketing simplesmente em função da publicidade é um erro patético, mas comum, infelizmente.
Além disso, as avaliações feitas por quem está de fora demandam uma dose exagerada de “achismo”, variável que não cabe no marketing, tampouco em gestão de uma forma geral. Aliás, o erro de basear decisões simplesmente em achismos e sem embasamento técnico é altamente perigoso, pois deixa a organização agindo de forma instintiva, fazendo com que os sentimentos passem a pautar as decisões.
Assim sendo, não creio que nenhum profissional de conduta ilibada esteja capacitado para ser definitivo em avaliações sobre campanhas sem ter acesso aos números, metas e estratégia da empresa. O máximo aqui permitido é opinar subjetivamente se gostaram ou não.
Nesse contexto, a interferência do presidente da república no tema, além de expô-lo por estar se metendo em um assunto que não domina, ainda contraria os mais primários conceitos de governança.
Por outro lado, não devemos também ignorar que o motivo para a intervenção teve como causa o desalinhamento dos conceitos e princípios preconizados pelo presidente com o conteúdo do campanha. Tal fato até amenizaria o imbróglio, desde que o Banco do Brasil não atuasse em um mercado competitivo, o que requer de seus executivos a elaboração de refinadas estratégias mercadológicas. Todavia, no cenário em que essas passam a ser preteridas por situações políticas, é mais aconselhável privatizar todas as empresas que estão nesta situação para deixá-las competirem em condições de igualdade, isto é, sem interferências indevidas no mercado que atuam.
A título de atualização, o citado "desalinhamento" ocorreu pelo fato de a campanha ter incluído atores retratando a diversidade da população, o que no meu modo de ver não justifica a intervenção, pois como escrevi acima, as avaliações devem ser técnicas. Por outro lado, também não é razoável que os defensores da causa se utilizem da situação como uma plataforma de defesa da diversidade, afinal de contas o patrocinador da campanha é o Banco do Brasil e não uma organização defensora da tolerância à diversidade.
Claro que a causa é importante e deve ser valorizada por todos, porém, para que a mesma não perca sua importância é fundamental que tenha vida própria e não se aproveite de "oportunismos" e táticas de guerrilhas. Agindo dessa forma, leva o assunto para um território de batalhas ao invés de penetrar no campo da discussão de ideias e argumentações racionais.
O tema abordado, apesar de aparentemente ter enveredado pelo lado político-social, teve como intuito descrever uma situação bastante comum não só no mundo corporativo como na vida: a miopia quanto ao dimensionamento das próprias posições e causas.





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