terça-feira, 3 de novembro de 2020

Chefe burro

Selecionar executivos é um processo de extrema complexidade. Não é fácil decidir através de análises de currículos, testes e entrevistas qual candidato é o mais adequado para determinado cargo. Por mais que haja um roteiro relativamente padrão, cada executivo tem sua forma de tentar identificar o potencial dos profissionais. 
Como, particularmente, costumo privilegiar os skills comportamentais, tendo a explorar as perguntas que permitam  observar valores, princípios e a forma de conduta de cada candidato, abordando para isso situações relacionadas ao que ele gostaria, toleraria e o que não admitiria numa relação corporativa. Nessa linha, vale citar que numa dessas entrevistas ouvi como condição  inadmissível para o candidato a resposta: “ter chefe burro”. Achei a resposta genial, primeiro por mostrar segurança e depois por colocar ali uma situação desafiadora.
Habitualmente me pego usando a citada resposta para avaliar meu grau de satisfação com as funções que estou exercendo e, diante da conclusão, iniciar - ou não - eventuais movimentações. Aliás, a resposta do candidato também serviu como fonte de inspiração para o presente artigo, mas antes de continuar a desenvolvê-lo, convém explicitar que a avaliação a respeito de inteligência, e consequentemente burrice, não tem nesse caso relação exclusiva com a facilidade de aprendizado, mas sim com uma série de fatores que serão enumerados no decorrer do texto.
You are who you hire (você é quem você contrata) é um dos fatores que ajudam na avaliação de quão inteligente é o executivo. Vendo o perfil dos colaboradores que contrata, promove e desliga, dá para se ter uma boa noção da estirpe do profissional.
Medo como ferramenta para liderar é outra característica dos burros, pois, não possuindo a capacidade de conquistar o respeito e a admiração de seus subordinados, resta-lhes como solução impor uma gestão repleta de bajuladores e, evidentemente, de protegidos. 
Uma vez confrontados, passam a ter quem o faz como uma ameaça a sua gestão, já que, cientes da falta de argumentos e da covardia, fruto da própria essência, apelam para a usual citação que caracteriza um inseguro: “isso não vai dar certo, já foi tentando no passado”, como se o passado fosse garantia de futuro e que a forma de se implementar não pudesse ser alterada. 
Raramente, ou nunca, dão continuidade aos projetos dos pouquíssimos executivos oriundos do mercado, o que faz com que o tempo de permanência destes nas organizações lideradas pelos burros seja bem reduzido. Curiosamente não percebem que, na melhor das hipóteses, são péssimos gestores de pessoas, tanto no que diz respeito ao recrutamento quanto ao desenvolvimento das mesmas, já que nunca se mostram satisfeitos. Na verdade, a covardia os impede até de darem feedback quando estão a sós com seu subordinado, utilizando algumas vezes para isso a figura de um coach que, na ânsia por parecer útil,  faz o ridículo papel de "leva e traz" ou, melhor, de assessor de relações covardes.
A lista de características que define um néscio é muito maior, daria para escrever um livro, o que não seria inédito, mas para não deixar o artigo muito longo, terminamos com uma frase de Jacques Defforey, fundador do Carrefour: "só pode cobrar quem ensina, só pode ensinar quem sabe, só sabe quem faz".




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