terça-feira, 24 de maio de 2022

Futebol, uma indústria milionária?

 

O futebol é uma indústria milionária! 
Quantas vezes já lemos ou ouvimos essa frase, a qual se reforça em nossa mente ao tomarmos ciência dos salários e bens adquiridos por alguns jogadores.
Não há como negar que as cifras que ganham as manchetes geram grande impacto, até porque para a maioria das pessoas que acompanha o futebol tais valores soam como algo inatingível e longe das respectivas realidades.
Mas será mesmo uma indústria milionária? 
Se formos simplesmente olhar as receitas dos principais clubes poderemos responder afirmativamente ao questionamento, no entanto, se compará-las com algumas empresas, veremos que a discussão pode Se formos simplesmente olhar as receitas dos principais clubes poderemos responder afirmativamente ao questionamento, no entanto, se compará-las com as de algumas grandes empresas, veremos que a discussão pode tomar outro rumo.
Visando buscar uma parametrização no que tange à relação de consumo das marcas por cliente, assim como é no futebol, onde, em tese, cada torcedor tem um único time, utilizaremos como balizador o setor de telefonia móvel, no qual quase toda a população é cliente, no mínimo, de uma operadora. Claro que não se trata de uma comparação perfeita, porém, entre os setores que analisamos em termos de recorrência e acesso às cifras do consumo é o que nos pareceu mais coerente. Não sabemos, por exemplo, quanto uma pessoa consumiu ao longo do ano de cada marca de biscoito, mesmo porque, o produto muitas vezes é consumido por toda a família.
Em nosso exercício, conforme pode ser visto no quadro a seguir, comparamos o clube de maior receita recorrente no Brasil com a operadora de telefonia móvel líder no país.

1 - Dados do site Teleco.com.br
2 - Dados da 26 ª edição do Football Money League - Deloitte  
3 - Valores em euros, convertido com a cotação de 31/mai/23
4 - Dados estimados por pesquisas de mercado
5 - Quantidade de seguidores no Instagram em 14/jun/23

Constatamos assim que a Vivo tem uma quantidade de assinantes que é equivale a 2,3 vezes do que o clube possui de torcedores, porém o faturamento em 2022 foi 28 vezes maior. 
Reiteramos que a comparação tem falhas, visto haver casos de um mesmo cliente ter mais de uma linha, assim como pode estar na relação de torcedores pessoas que mal saibam dizer as cores do time. O que se pretende com o exercício é mostrar os montantes envolvidos, tanto que nem fazemos menção ao EBITDA ou a qualquer outro indicador econômico-financeiro.
Nessa linha, vale inclusive observar que número de seguidores nas redes sociais não apresenta correlação com as receitas, vide no quadro o número de seguidores do Instagram do clube (17,5 milhões) e o da operadora líder (apenas 701 mil).
Visando entender se o cenário detectado seria exclusivo do Brasil, realizamos a mesma análise comparando o Real Madrid - clube com maior receita na Espanha, segundo a 26ª edição do estudo feito pela Deloitte acerca dos clubes que mais faturam no mundo - e a Vodafone na Espanha. Escolhemos essa empresa pelo fato de ela ter o número de assinantes – 13,3 milhões - similar ao de torcedores do time de Madrid, valendo salientar que o clube tem características de uma organização multinacional, vide a quantidade de seguidores, 141 milhões, o triplo da população espanhola. Mesmo diante de tanta pujança, o Real Madrid teve as receitas recorrentes na temporada 2021-21 na ordem de 713,8 milhões de euros, enquanto a operadora de telecomunicação faturou 3,514 bi em 2022 (cinco vezes maior). 
Claro que são valores significativos e que pode evoluir ainda mais, o Real Madrid, por exemplo, cresceu 116% de 2006 a 2019 – expurgamos o período da pandemia e pós por razões óbvias. Mas será que ele pode chegar ao nível dos grandes players de outras indústrias? 
Não creio!
O futebol mexe com paixão, o que por si só tem a capacidade de incentivar atos de consumo por impulso, por outro lado, essa mesma paixão impõe pressões por resultados esportivos de curto prazo, que prejudicam eventuais tentativas de se gerir os clubes como se administra uma corporação, onde marketing, responsabilidade financeira, projetos que não visem simplesmente o imediatismo, compliance e planejamento estratégico, entre outros, são fatores indispensáveis.


ATUALIZADO EM 17/JUN/23





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