terça-feira, 13 de setembro de 2022

Marketing para fanáticos

 
A proximidade das eleições tem nos feito novamente refletir sobre um ponto que deveria nortear todo gestor de marketing: o comportamento do consumidor.
Em um primeiro momento, nosso exercício sobre o tema buscou equiparar os candidatos a um produto e os eleitores como os clientes responsáveis pela escolha. Nessa analogia evocamos os 4 P’s de marketing, entendendo que o P de ponto não proporciona nenhum diferencial, afinal as opções estão disponíveis a todos, e o P de preço idem, ainda que futuramente talvez fosse possível ter alguma noção do quanto pode ter custado a escolha. Assim haveria algum tipo de variação apenas no P de publicidade e no P de produto, embora seja muito difícil atestar a veracidade/viabilidade das propostas apresentadas - quando elas existem, é claro.
Após inúmeras observações sobre as motivações que levam a escolha de um candidato, entendemos que, infelizmente, o ato de votar tem sido para grande parte dos eleitores uma manifestação de paixão que chega muitas vezes às raias do fanatismo. Nesse contexto, não seria absurdo supor que o comportamento desses "eleitores" mais se assemelha ao de um torcedor do que o de um cidadão consciente das necessidades do local que habita.
Por mais triste que possa parecer essa comparação, as situações que levam a encampá-la aparecem a todo momento.
Qual torcedor nunca reclamou do árbitro? Qual torcedor nunca achou que a imprensa protege descaradamente o time adversário?
Trazendo para o universo da política, quem já não se deparou com eleitores se referindo a veículos de comunicação como lixo e/ou culpando os poderes judiciários por alguma conjuntura que o desagrade?
Em tempo, é mandatório esclarecer que não vai aqui nenhum tipo de juízo de valor acerca das instituições e entes citados, apenas sobre a similaridade das reações a respeito.
Corrobora para a mesma suposição, o comportamento nas redes sociais, onde as pessoas defendem seus candidatos sem nenhum embasamento mais elaborado, simplesmente repetindo ou encaminhando mensagens que deixem seus “heróis” como seres infalíveis que nunca erram e estão sempre com razão. 
Como parte desse processo, vemos o país se transformar de uma hora para outra em um celeiro de especialistas em cibersegurança, que sabem tudo sobre urnas eletrônicas, hackers e fraudes, nem que para isso precisem se utilizar de argumentos infelizes, os quais só servem para mostrar os limitados conhecimentos que possuem e para agrupá-los junto aos demais membros da torcida organizada contra ou a favor de algum candidato.
Não podemos nos esquecer dos “médicos” que, mesmo sem terem cursado medicina, são taxativos sobre remédios, tratamentos e vacinas.
Reiteramos que não vai aqui nenhum juízo de valor sobre as posições, apenas sobre o pouco valor que dão à própria credibilidade quando se trata de defender o político de estimação ou de coração.
Tais posturas remetem à brincadeira que costuma ser feita quando comparamos nosso time ao do rival, onde, sob nossa ótica, nossos jogadores são melhores do goleiro ao ponta esquerda. E o pior é que alguns até acreditam na própria avaliação passional.
As consequências desse tipo de comportamento são péssimas e entre elas estão: 
- o aumento da polarização, visto que a outra parte, ao perceber o radicalismo sem embasamento, passa a agir de forma idêntica, encampando posicionamentos tão absurdos quanto os dos "adversários".
- fazer com que que as perspectivas de desenvolvimento e melhoria tendam a zero, visto o contentamento advir de quem sugeriu/implantou a solução e não da solução em si.
Nesse cenário, criar estratégias de marketing para atrair quem tem o comportamento calcado no fanatismo só faz sentido se abdicarmos dos aspectos racionais e incentivarmos a adoração a símbolos, frases feitas e costumes, mesmo que na prática não sejam seguidos.
Um perigo!












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