A edição 2024 do campeonato mundial do ironman em Kona nos brindou com mais uma quebra de recorde através do alemão Patrick Lange, que completou a prova em 7:35:53, baixando em quase cinco minutos o antigo recorde.Vale também relatar que em 1987, Dave Scott, hexa campeão da prova e uma das maiores, se não a maior referência nela, venceu com o tempo de 8:34:13, ou seja, quase uma hora mais lento.
Questionar o limite da superação seria um tema interessante para ser desenvolvido, no entanto, fugiria da proposta do blog. Vamos usar o evento para falar de um assunto que guarda relação com o marketing, a marca do tênis utilizado pelo terceiro colocado, Rudy Von Berg: TYR.
Talvez muitos dos leitores aqui nunca tenham ouvido falar da marca, que foi fundada em 1985 por Joseph DiLorenzo e Steve Furniss, esse um ex-nadador olímpico dos EUA, daí o seu começo voltado à produção de trajes de alta qualidade para atletas de natação. Nos anos 90, a empresa iniciou um processo de diversificação, acrescentando ao portfólio itens como óculos de natação, toucas e acessórios de treinamento, sem deixar de focar o aprimoramento dos trajes, o que tem sido uma constante ao longo de sua existência.
Nos anos 2000, passou a oferecer também roupas de neoprene, para utilização na etapa de natação das provas de triathlon.
Como parte da estratégia de crescimento, patrocina atletas, provas, confederações, além de estar fortemente presente digitalmente, reforçando sempre seu posicionamento voltado à qualidade dos seus produtos.
Feita a resumida apresentação sobre a marca, vamos ao ponto que considero interessante discutir: quais as chances de a marca ter sucesso no segmento running? Trazendo para o jargão de marketing, quais as chances de sucesso nesse processo de extensão de marca? Guardadas as devidas proporções, imaginemos a Coca-Cola desenvolvendo um biscoito.
Ainda que possa haver a argumentação de que se trata de um produto para o triathlon, esporte em que a TYR já está presente, é usual que a escolha do calçado tenha como referência o desempenho de corredores.
A possibilidade de “encampar” um discurso que defenda a tese de ser o melhor tênis para o triathlon – e não para a corrida -, até poderia ser adotado, porém, as vendas ficariam restritas a calçados de competições, o que traria como consequência uma reposição mais lenta, visto se competir menos do que se treina.
Esse processo de extensão de marcas quando não envolve aspectos muito relacionados à performance, como é o caso de vestuário, costuma até lograr êxito e contribui para a maior exposição e associação. Minha provocação aqui está voltada ao caso da TYR, lembrando que a adidas, por exemplo, tem óculos de natação em seu portfólio, contudo, a marca está longe de ser uma referência nessa modalidade.
Nessas situações de tentativa de se entrar em um novo mercado, muitas marcas optam por adquirir alguma outra que já esteja consolidada naquele setor, vide a compra da TaylorMade – especializada em golfe – pela adidas, que tempos depois a vendeu. Aliás, mesmo no segmento de bens de consumo, essa é uma estratégia bem utilizada, reparem que a Coca-Cola preferiu comprar a marca Minute Maid para atuar na categoria de sucos do que batizar algum produto da categoria com seu nome.
Claro que há casos de sucesso, mesmo utilizando uma solução diferente, vide a Nestlé que dá nome a várias categorias.
Definir a melhor estratégia exige detalhados estudos.
No caso da TYR, o desafio promete ser mais árduo do que o próprio Ironman citado no início, pois, ainda que tenha seu comércio eletrônico e esteja presente em alguns market places que não demandam capital de giro para definição do mix, a entrada no varejo físico requer condições especiais para convencer o comprador, o que, no caso de uma marca premium deixa as coisas ainda mais difíceis, visto que a opção de precificar agressivamente conflita com o posicionamento.