terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Gramado sintético ou natural?

O questionamento que dá título ao artigo é o começo de uma nova polarização que em breve estará ainda mais presente em diversos círculos de conversas. Um lado defendendo o campo de grama sintética, alegando maior durabilidade, o que é correto, enquanto outro lado atacará a citada superfície acusando-a de ser responsável por um maior número de contusões.
A propósito, como a maioria das discussões atuais, as partes não se aprofundarão no tema, mas proferirão “verdades incontestáveis”. Acrescento que alguns se pautarão em estudos até bem elaborados, mas que não serão conclusivos, não obstante a argumentação enfática por parte dos "defensores" de cada lado.
Tive a oportunidade de ler dois materiais muito interessantes e com alto teor científico, isto é, com boas metodologias, amostragens aceitáveis e bem detalhadas. Cada um concluindo que a grama do vizinho é pior.
Na verdade, ambos os estudos deixam de contemplar a superfície onde os atletas treinam, os desgastes acumulados, a carga de treinamento, os equipamentos utilizados e a constituição genética dos atletas, entre outros. Óbvio que a inclusão de todas essas variáveis deixaria os estudos extremamente complexos, até porque necessitaria de se ponderar cada uma delas, o que, certamente daria margem a contestações.
Isso significa que não é possível concluir? 
Pois é, provavelmente qualquer conclusão estará sujeita a indagações cujas respostas não darão a assertividade necessária.
O exemplo do gramado, por mais que tenha sua importância dado o crescente número de estádios que estão aderindo ao artificial, serve aqui para jogarmos luz nas fragilidades encontradas nos mais diversos tipos de análises, o que não necessariamente guarda relação com algum tipo de manipulação, ainda que elas existam.
Penso que, na maioria das vezes, a preguiça de minerar dados, aditivada pela ignorância a respeito, seja a responsável por essa espécie de superficialidade.
Qual área comercial nunca foi cobrada por uma queda nas vendas? Qual delas mostrou de forma embasada o comportamento daquele setor? Qual delas apresentou um estudo de elasticidade? Qual delas solicitou ao departamento de inteligência de mercado algum estudo comparando as compras dos clientes nos últimos meses, índices de positivação e demais indicadores que ajudassem a entender as razões dos resultados?
Também não surpreenderia tomar ciência que, no caso do aumento de vendas, houvesse certo desinteresse na detecção das causas.
Falta tempo para isso! Falta recurso para isso! São afirmações que procedem, pois,  de fato, no curto prazo a análise de indicadores acaba sendo preterida em relação à busca por receitas imediatas. Todavia, se houvesse investimento e, principalmente, crença na sua utilidade, as chances de crescimento sustentável dos resultados seriam muito maiores.
Parecem preferir o “achismo” ou o estudo superficial como base para suas decisões, assim como temos os que preferem algum tipo de gramado pinçando estudos que lhes deem razão.







terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

O dono do bem

A negociação que envolveu o suco Do Bem, vendido pela Ambev para a Tial, nos brinda com uma situação bastante interessante para refletirmos sobre estratégia mercadológica.
Para a Tial, indústria mineira fabricante de sucos sem conservantes, a aquisição propicia, além da expansão da produção já que a transação incluiu o maquinário, a diversificação do portfólio, incluindo um produto mais premium. Faz parte dos planos da empresa entrar no mercado em outras categorias de produtos como chás, energéticos e infusões, entre outros.
Essa estratégia, além de reforçar a imagem de produtos saudáveis e inovadores, permitirá a entrada em novos canais de distribuição. 
Já pelo lado da Ambev, a motivação é focar nas demais marcas, o que segundo alguns analistas será uma tendência dos fabricantes de bens de consumo de alimentos e bebidas que, após um período incorporando marcas e produtos ao portfólio, estão voltando ao básico - back to basis.
Particularmente, tenho dúvidas se tal movimento pode ser considerado uma tendência, creio ser mais um ajuste interno de forma que haja mais fôlego para atuar em mercados mais rentáveis, nos quais se requeira mais investimentos diante da agressividade da concorrência.
Nesse cenário, é usual que marcas menos rentáveis, ainda que com bom posicionamento como é o caso do Do Bem, sejam descontinuadas ou vendidas para outros grupos.
Vale notar que as justificativas dadas pela Tial e pela Ambev são divergentes, pois, enquanto a primeira evoca a diversificação, a outra opta por restringir o foco para algumas categorias. Não há um lado certo e outro errado, são simplesmente estratégias diferentes baseadas nas respectivas estruturas, momentos e crenças. 
Outro ponto que chamo a atenção é para o movimento back to basis, que nos mostra que o dinamismo da sociedade e do mercado pode exigir desvios de rotas, o que não significa que a estratégia definida anteriormente esteja errada. 
A propósito, o discurso da Ambev reforça essa opinião. A marca alega estar deixando de ser uma companhia de bebidas, o que fez com que diversificasse o portfólio de produtos, incluindo sucos, para se tornar uma plataforma digital de marcas e produtos que se conectam a um ecossistema inteiro, que vai do campo ao copo.
Voltando ao mercado de sucos, penso que ainda veremos “bons lances”, até porque, as marcas que dominam o segmento health & welness, talvez não representem fidedignamente esse conceito, o que pode dar espaço para o crescimento de outras como a GreenPeople, cuja produção é totalmente voltada à saudabilidade e sustentabilidade.





terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Faturamento dos clubes - 2023-24

O estudo “Football Money League” publicado recentemente pela Deloitte foi base para a Jambo Sport Business preparar um relatório sobre os números apurados, o qual pode ser acessado pelo link https://www.linkedin.com/posts/halfen_os-clubes-de-futebol-que-mais-faturaram-2023-activity-7294632009337827328-Dbzm?utm_source=share&utm_medium=member_desktop. A seguir destacamos algumas informações a respeito.

O somatório das receitas dos 10 clubes com maiores faturamentos cresceu 5,5%. Dentre esses times, três tiveram decréscimo no faturamento – Chelsea, Tottenham e Barcelona, enquanto os demais atingiram seus recordes.
O montante de receitas desses clubes com matchday cresceu 12,3% e equivale a 18,4% do total. Embora esse percentual tenha melhorado em relação à temporada passada (17,3%), ele ainda se encontra bem distante das demais. Situação que é lógica, visto haver limitação de assentos nos estádios, ou seja, só uma majoração de preços seria capaz de impactar, a qual pode não ser suficiente, visto a possibilidade de sofrer com a elasticidade do preço dos ingressos. Oito dos TOP10 aumentaram o faturamento nessa linha. 
Já o faturamento com broadcasting caiu 0,8% e contribuiu com 33,5% do total, a propósito, essa queda de participação também foi detectada na temporada passada.
Os ganhos com commercial aumentaram 7,6% e representam 48,1% - a segunda participação mais alta da história do estudo se expurgarmos a temporada da pandemia. Apenas o Paris St. Germain, entre os TOP 10, não evoluiu sob essa ótica.
Vale atentar para o enorme crescimento da indústria “futebol”, pois em 18 anos a receita total dos TOP10 saiu de € 2.505,2 para € 7.577,2, um aumento de 202,5%, salientando que poucos negócios evoluíram tanto e de forma praticamente constante neste período.
A temporada 2023-24 trouxe pelo segundo período seguido, o Real Madrid como o clube com maior faturamento, fato que ocorre pela 12ª vez. Vale enfatizar que essa foi a primeira vez que um clube arrecadou mais de € 1 bilhão. 
O clube merengue foi também o com maior incremento de receitas - € 126 milhões entre os TOP20, sendo em termos percentuais o que teve o terceiro maior incremento (25,8%), ficando atrás sob esse indicador do Arsenal 34,5% e do Newcastle com 29,2%.
O Manchester City se manteve na segunda posição, lembrando que em 2020-21 e 2021-22 o clube inglês esteve na liderança.
A diferença do Real em relação ao City, foi de € 207,7 milhões. Na temporada anterior essa distância ficou em apenas € 5,5 milhões. Para entender essa variação na diferença entre os dois clubes que mais faturaram, vale registrar que o Real Madrid ganhou tanto o título espanhol como a Champions League, enquanto o City, ainda que tenha conquistado a Premier League, foi eliminado nas quartas de final do principal campeonato da Europa.
Os times que tiveram as maiores quedas de faturamento foram: Juventus (€ 76,7 milhões), Chelsea (€ 43,9 milhões) e Barcelona (€ 39,8 milhões). Em termos percentuais manteve a ordenação com 17,7%, 7,4% e 5,0%, respectivamente. 
Vale destacar o decréscimo de € 63 milhões em matchday do time catalão e de € 70 milhões do Chelsea em broadcasting. 
A Premier League se mantém como a liga com mais clubes entre os TOP 10 (seis). Em segundo aparece a LaLiga (Espanha) com duas equipes. Completam a relação com um time cada: Bundesliga (Alemanha) e Ligue 1 (França).

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

O nome do Golfo

Entre as primeiras medidas anunciadas pelo presidente Donald Trump dos EUA, uma vale ser aqui explorada: a mudança do nome do Golfo do México para Golfo da América.
Resistindo à tentação de entrar na seara política, vou focar nas chances de o Golfo passar a ser conhecido e chamado pela nova nomenclatura ao longo do tempo, ressalvando que o mandato dura quatro anos, que não há certeza de que o próximo presidente manterá a nomenclatura, que não haverá uma campanha de alcance mundial para “fixação” do novo nome, que o “atual ou anterior” existe há mais de quatro séculos, sem falar dos livros e demais manifestações culturais que fazem menção ao Golfo do México.
Alguns podem aproveitar o ocorrido e citar as operações de naming rights e title sponsor para embasar uma eventual crença de que o “Golfo da América” se popularizará, aliás, a ideia de explorar o tema foi justamente a comparação com esse tipo de patrocínio.
No caso dos naming rights, mesmo em instalações centenárias, há um universo menor de público a ser trabalhado que, impactado por campanhas e ações orgânicas acabam incorporando o nome às suas menções sobre estádios e arenas. Não podemos desprezar que identidade visual, imprensa e atletas, entre outros, têm forte contribuição nesse processo. Isso sem falar na menor rejeição por parte da população de forma geral e no tempo de duração dos contratos que não chegam nem perto dos quatrocentos anos do Golfo do México.
Já em relação ao title sponsor, as expectativas de incorporação do nome à competição/espetáculo não são tão otimistas ou, pelo menos, não deveriam ser em contratos cuja duração não exceda dez anos. As equipes e torcedores querem, na verdade, ganhar as competições pouco se importando com o nome dos patrocinadores, portanto é difícil que alguém, por livre e espontânea vontade, faça menção ao detentor do title sponsor. Tais peculiaridades, de forma alguma, relegam esse tipo de propriedade a um produto inferior, longe disso, pois as possibilidades de associação de marcas, co-branding, relacionamento e ativação são enormes e trazem um belo retorno, caso sejam feitas de forma estratégica e integrada aos objetivos da marca.
Para enriquecer a reflexão sobre o tema, podemos citar as marcas que mudaram de nome, cujo processo é bastante ajudado tanto por campanhas como pelo próprio consumo. Países e cidades, principalmente por questões políticas, podem ser exemplos que legitimam, pelo ponto de vista de naming, a decisão do Trump, embora, no caso do Golfo exista um enorme contingente mundial disposto a boicotar a denominação.
Cravar com a devida acurácia se novos nomes serão incorporados ao cotidiano é muito difícil, mesmo porque depende bastante de investimentos e características do que será mudado, daí a razão de se preconizar a avaliação criteriosa dos benefícios e riscos da empreitada. 
Mesmo reconhecendo a dificuldade de se prever "popularizações", não vou me eximir de palpitar sobre o tema que deu origem ao presente texto: o Golfo continuará sendo do México.