terça-feira, 30 de dezembro de 2025

Havaianas, todo mundo palpita...




Escolher o tema do último artigo do ano não tem sido fácil: esportes parcialmente em recesso, leitores e mercado, idem. Eis que surge a campanha da Havaianas, na qual a atriz Fernanda Torres brinca com a superstição de entrar no ano com o pé direito e sugere que se entre com os dois pés.
Pois bem, foi o que bastou para os fanáticos — dessa vez os de direita — se levantarem contra a campanha, a atriz e a marca, a ponto de, pasmem, sugerirem o boicote ao produto. Todo esse movimento porque, supostamente, haveria uma motivação esquerdista por trás da publicidade. 
Será que esses “revoltados” acreditam que a campanha poderia moldar a ideologia das pessoas? Provavelmente sim, dado que, pela régua deles, a população é composta por indivíduos altamente manipuláveis. 
Não duvido, e não estou exagerando, que jogadores como Messi, Ganso e outros canhotos possam, um dia, ser perseguidos em função dos seus pés dominantes. 
E, quando afirmo que não estou exagerando, evoco os tempos da Idade Média, época em que pessoas que escreviam com a mão esquerda eram queimadas vivas sob a acusação de bruxaria. Antes que considerem a analogia absurda, lembrem-se que uma campanha bem-humorada sobre chinelos está tendo o poder de mobilizar, de forma irracional, vários setores da sociedade.
As versões para maldizer os sujeitos canhotos foram (são) inúmeras e vão desde citações bíblicas até as teorias tendo como base o movimento de rotação da terra — no qual o sol aparenta se mover da direita (alvorecer) para a esquerda (poente), trajetória que, sob a lógica dos ineptos, teria relação com o ciclo de nascimento e morte.
Quanto à campanha em si, tenho a opinião de que ela poderia comportar alguns ajustes, talvez conferindo-lhe um tom maior de "brasilidade", embora, o mercado externo seja extremamente importante para a marca, vide, por exemplo, o expressivo aumento de 110% no EBITDA da Alpargatas no terceiro trimestre de 2025, impulsionado fortemente pelas receitas internacionais.
Creio ainda que a marca não considerou que a quantidade de pessoas radicais sem discernimento crítico forma um contingente significativo de "seguidores" à espreita dos comandos de seus líderes para extravasarem suas frustrações nas redes sociais, o que pode, de alguma forma, desvirtuar o objetivo de marketing da campanha.
Ou não...
Marcas como Balenciaga, Ryanair e Burger King, entre outras, buscam deliberadamente o buzz para convertê-lo em valor. Particularmente, não sou entusiasta deste tipo de estratégia, contudo, ser taxativo em relação às decisões de marketing de grandes corporações, analisando-as apenas "de fora", beira a irresponsabilidade com a própria credibilidade.
Como parte das deduções dos militantes políticos, que agora se arvoram em especialistas em marketing, a expressiva queda no preço das ações da Alpargatas em 22 de dezembro — dia seguinte à primeira veiculação da campanha — deixou evidente, para eles, o tiro no próprio pé que a empresa deu. Esqueceram-se, infelizmente, de verificar que, desde o dia 17 de dezembro, havia um viés de queda neste papel. Da mesma forma, ignoraram — ou nem se preocuparam em checar — que, em 23 de dezembro, o valor das ações da Alpargatas voltou a subir para patamares superiores aos do período anterior à campanha, conforme pode ser visto no gráfico acima.
Tal postura é muito similar ao comportamento de muitos diante das fake news: se parecem positivas para o lado pelo qual estão "torcendo", eles as reverberam, caso contrário, deletam e rezam para que os adversários não usem o mesmo golpe baixo. O pior é que vão usar.
Encerro o artigo desejando um FELIZ 2026 a todos. 
Que entrem no novo ano da forma que bem entenderem: pé direito, pé esquerdo, dois pés...pode até ser plantando bananeira. O importante é que tenham o ano inteiro repleto de  saúde, paz e realizações.


Nenhum comentário:

Postar um comentário