terça-feira, 23 de dezembro de 2025

Pênalti não é loteria

Na semana passada tivemos a final da Copa Intercontinental de Clubes, sim, é esse o nome, mesmo que parte da a imprensa, sabe-se lá por quais razões, insistisse em chamar de Mundial de clubes. Para ser honesto, após o jogo, vimos alguns destes mesmos jornalistas passarem a chamar de Intercontinental, provavelmente foram se inteirar sobre o tema, embora não duvide que venham a esquecer o nome correto em situação similar.
Deixando a nomenclatura de lado, vamos falar da disputa de pênaltis que decidiu a competição, exaltando a iniciativa da comissão técnica do time vencedor, a qual embasou seu goleiro – o russo Safonov – acerca dos padrões de batida dos jogadores adversários.
Apesar de o fato ter sido bastante divulgado, não vimos nenhuma abordagem sob o prisma da disciplina de inteligência competitiva.
Presente em estruturas governamentais, vide CIA e KGB, algumas empresas também já a adotam em suas estruturas de planejamento estratégico, todavia, é muito raro vê-la no ambiente esportivo, mesmo porque, muitos que lá habitam mal sabem o que significa. A propósito, o assunto já rendeu aqui o artigo…
De forma sintetizada, a Inteligência Competitiva consiste na aplicação sistemática de coleta, análise e uso de informações com o fim de reduzir incertezas e aumentar a probabilidade de sucesso nas decisões.
Na citada disputa de pênaltis, o goleiro do Paris Saint-Germain defendeu quatro das cinco cobranças (80%), o que muito se deveu aos estudos prévios e bem estruturado sobre os padrões de “comportamento” dos adversários, os quais provavelmente contemplaram alvos preferencias, perna dominante, inclinação do corpo e tempo de decisão. Evidentemente, há uma série de outras variáveis, inclusive de cunho emocional, as quais não creio que tenham sido incluídas nos “estudos”.
Dessa forma, a disputa de pênaltis, dita por muitos como uma espécie de “loteria”, passa a ser um evento de probabilidade estatística gerenciada, onde é possível aumentar marginalmente as chances de sucesso.
O grande desafio para se implantar uma cultura de inteligência competitiva no esporte é similar ao que acontece no meio corporativo, onde a confusão com inteligência de mercado é frequente. Nesta, as análises se voltam ao entendimento do que acontece com o mercado (comportamento do consumidor, tendências, elasticidade, segmentação, market share e demais métricas de desempenho), enquanto a competitiva se volta mais à análise das estratégias da concorrência, dos possíveis cenários futuros e das forças e fraquezas parametrizadas, entre outras ações voltadas aos aspectos estratégicos tendo como ponto focal os “competidores”. 
Hoje, no esporte, já é possível encontrar clubes com áreas dedicadas à coleta de dados sobre o desempenho, desenhos táticos e performances individuais tanto dos próprios jogadores como dos adversários, todavia, assim como no mercado corporativo, nem todo o material coletado se transforma em informação, tampouco em decisões e planos de ações.
A ansiedade e as cobranças pelos resultados de curto prazo, sem contar a ignorância sobre o tema e a incapacidade analítica de alguns gestores, acabam fazendo com que iniciativas que poderiam redundar em valiosas vantagens competitivas, sirvam apenas para gerar números desorganizados em algum banco de dados subutilizado.

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