terça-feira, 9 de junho de 2015

As terceiras camisas

As terceiras camisas dos clubes de futebol costumam ser temas geradores de boas discussões. Além das divergências entre os tradicionalistas que defendem a manutenção das cores originais do clube e os que são entusiastas de modelos inovadores, vemos também “debates acalorados” entre os que simplesmente gostam e os que não gostam do modelo.
Antes de dar minha opinião sobre o tema, é importante que fique bastante claro o objetivo de se ter uma 3ª camisa, o qual nada tem a ver com a possibilidade do uniforme ficar diferente em relação ao do adversário em alguma partida, pois para isso cada clube tem dois uniformes, o da camisa #1, também chamada de home,  usada nos jogos em que o time tem o mando de campo  e o da camisa #2, chamada de away para os jogos fora.
O objetivo da #3 é poder oferecer ao torcedor mais um produto do clube, e esse, por sua vez, obter uma receita maior através das vendas, além, é claro, de fortalecer a marca através da frequência do uso.
Dentro dessa premissa, respeito, mas não vejo muito coerência nos pleitos dos “tradicionalistas”, afinal de contas, receitas bem planejadas são importantes para qualquer  clube. Evidentemente, a preocupação em relação à utilização de cores que remetam a rivais históricos, faz total sentido, porém, a título de exemplo, no caso do Fluminense essa possibilidade está totalmente descartada em função do que prevê o estatuto.
Já a discussão sobre a beleza da camisa eu  acho bastante interessante, pois desperta ainda mais a curiosidade da torcida em função dos debates nas redes sociais e matérias na imprensa, situações que geram ótima divulgação para o produto. Nessas contendas teremos sempre parte achando bonita, parte achando feia e quase todos dando sugestões de alteração em algum detalhe.
Os próprios responsáveis pela aprovação divergem em relação à estética, porém o foco maior dos decisores deve se dar na esfera mercadológica, ou seja, se o modelo tem ou não potencial de venda.
Sendo que essa venda é bastante sensível à quantidade de jogos que o time faz com a camisa, pois quanto maior a exposição -  inclusive pela TV - maior será a possibilidade de os torcedores tomarem conhecimento do novo produto, o que é um passo importante no processo de aquisição.
Deriva dessa condição, uma decisão extremamente difícil, que é a data da estreia da nova camisa, o ideal é que seja num jogo com transmissão nacional pela TV e contra um adversário mais fraco, já que uma derrota pode dar à camisa uma fama de “sem sorte” e fazer com que os jogadores pressionem para ela ser pouco ou não mais usada.
Outro fator que influencia fortemente a demanda é o momento do clube, se o time estiver bem, o torcedor irá comprar todo e qualquer produto com a marca do seu time que estiver ao alcance de suas possibilidades, ao passo que a recíproca é verdadeira.
Como podemos ver, o fator “beleza” pouco influencia no consumo das camisas, costumo até brincar dizendo que torcedor não compra camisa para combinar com a calça ou com qualquer outra peça do vestuário.
Quadro que até poderia vir a ser diferente caso o produto fosse distribuído em larga escala no mercado externo, onde os torcedores compram camisas de times estrangeiros para suas coleções em função da estética, não importando a simpatia pelo clube.
Situação similar encontramos no Brasil, onde podemos ver pessoas um dia com a camisa do Real Madrid e no outro com a do rival Barcelona.
Voltando mais uma vez ao Fluminense, as terceiras camisas grená e laranja obtiveram vendas excelentes, caminho que começa a ser trilhado pela verde. São números, de fato, bastante expressivos, mas incapazes de deixar os uniformes imunes às críticas.
Diante do que foi exposto, concluo com a opinião de que a camisa #3 deva ser bastante ousada, e que jamais tenha qualquer cor ou característica que possa remeter às dos tradicionais rivais, contudo, tenho plena convicção de que, mesmo cumprindo essas condições, o sucesso pleno só existirá se o desenvolvimento do produto e o planejamento de lançamento forem  embasados por rígidos critérios mercadológicos.




2 comentários:

  1. O autor, um renomado experto em marketing esportivo, teria mais facilidade em praticar sua respeitada teoria se ao invés de usar como exemplo as cores do Fluminense, tivesse usado as cores rubro-negras do mais querido.

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  2. Grato pelo comentário, mas discordo da sugestão.
    ST

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