terça-feira, 26 de maio de 2020

Entendimento difícil...

Para o melhor entendimento do que pretendo abordar, sugiro fazermos um singelo exercício de fantasia.
Imaginem que você foi convidado e contratado para ser palestrante em um evento cuja plateia é constituída por pessoas com diplomas de mestrados, doutorados e pós-doutorados. Sua primeira reação é se sentir honrado pelo reconhecimento, mas quase ao mesmo tempo vem um pequeno receio, o qual é instantaneamente dissipado, pois você tem a consciência de dominar muito bem o tema que será apresentado.
No dia do evento, mesmo bem preparado, vem aquele nervosismo que costuma tomar conta dos atletas minutos antes das competições, algo perfeitamente normal e que nada interfere na performance, pois sabemos que é passageiro.
Chegando ao local, você recebe a notícia de que os recursos audiovisuais, inclusive o microfone e os equipamentos de tradução simultânea, foram extraviados e para culminar, a grande maioria dos mestres e doutores não domina o idioma que seria o da palestra.
Pois bem, ao concluir o exercício acima vocês certamente estarão capacitados para entender os problemas que os executivos de marketing têm passado em grande parte das corporações.
Ressalto que não estão incluídos aqui os profissionais de comunicação, eventos e de demais ações de ordem mais tática, pois tais funções já são bem compreendidas e demandadas pelas empresas, ainda que muitas não saibam o que pedir, situação que acaba redundando na subutilização dos profissionais bem capacitados dessas áreas. 
Dados da consultoria Spencer Stuart apontam que o tempo médio que um CMO – chief marketing officer ou diretor de marketing - fica numa empresa é de 43 meses, cerca da metade do que é o de um CEO. Vale ainda atentar que das 500 empresas que compõem o ranking Fortune 500, apenas 70% têm essa função no organograma.
A principal causa desse cenário é a frustração que toma conta tanto dos executivos de marketing, como dos CEO’s e membros do Conselho de Administração. Por parte dos profissionais de marketing, a situação é bem semelhante à que nos transportamos no exercício que provocamos no início do artigo, pois, apesar de ter como atribuição as definições das estratégias mercadológicas, posicionamento da marca, lançamento de produtos e relacionamento com clientes, suas falas e projetos se comparam às do nosso palestrante, sem recursos audiovisuais e tradutores.
Já do outro lado, a expectativa é majoritariamente por ações relacionadas à comunicação, até porque os conselhos das empresas costumam ter poucos integrantes oriundos da área de marketing e, excetuando as empresas de bens de consumo, a maior parte dos CEO’s também tem vivência maior em outras áreas que não o marketing.
A solução para o citado “desencontro” não se restringe à mudança de nomenclatura do cargo, tema que já abordamos ao citar o aparecimento da função do CGO (Chief Growth Officer) - http://halfen-mktsport.blogspot.com/2019/11/o-fim-do-marketing.html
Ela passa, principalmente, pelo esforço dos demais executivos para entender o que o marketing é capaz de propiciar, sendo que para isso é fundamental se despir de paradigmas sobre o tema.
Caso contrário, parafraseando o Djavan: “mais fácil aprender japonês em braile.”




2 comentários:

  1. Excelente ponto de vista. Como não sou da área, desconhecia estes difíceis desafios na carreira do especialista em marketing. Parabéns!

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  2. Obrigado, meu amigo!
    Infelizmente tem muita gente que se diz especialista da área que também desconhece.
    Abração

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