terça-feira, 12 de maio de 2020

Idiotas confiantes


Todos aqueles que são responsáveis pelo exercício de alguma função, muito provavelmente, já receberam alguma espécie de crítica advinda de pessoas que mal conhecem o assunto.
Tal fenômeno se faz presente em todos os setores da sociedade, seja nas corporações - onde colaboradores “acham” que colegas, chefes e outras áreas estão sempre errados -, seja no esporte - onde técnicos, jogadores e dirigentes são julgados como incompetentes pelos torcedores e pela imprensa - , ou ainda na população de modo geral que emite pareceres sobre política, direito e tudo mais que saia na mídia, ainda que se baseie apenas no conteúdo dos veículos, ou pior, das redes sociais.
Vale lembrar que, apesar de termos feito referência ao "ato de criticar", esse tipo de acontecimento pode ser equiparado também àqueles que assumem cargos sem estarem devidamente capacitados, embora aqui haja a cumplicidade do contratante. 
Em busca das causas desse fenômeno, dois psicólogos da Universidade de Cornell enunciaram uma hipótese conhecida como efeito Dunning-Kruger, seus sobrenomes, onde deduziram que um distúrbio cognitivo é responsável por fazer com que indivíduos que possuem pouco ou nenhum conhecimento sobre um tema acreditem saber mais do que outros realmente capacitados. Os portadores dessa síndrome recebem dos autores o apelido de “idiotas confiantes”. 
Segundo  a dupla, a falta de conhecimento faz com que algumas pessoas se sintam capacitadas justamente por não terem noção do assunto. É o que chamam de superioridade ilusória. 
A recíproca também se fez verdadeira de acordo com o estudo, pois algumas pessoas qualificadas muitas vezes não se sentem encorajadas o suficiente para opinar ou mesmo desenvolver algum tipo de trabalho, situação que vem a ser fruto da consciência em relação à complexidade das funções. 
Seria até engraçado, se não trouxesse consequências graves, ver as intervenções dos sujeitos “confiantes”, pois, sem a menor vergonha ou discernimento, apresentam projetos e propostas inviáveis como se fossem espetaculares, aplicam jargões de forma indevida e o mais perigoso: se consideram inteligentes e infalíveis. 
Nesses casos, reconheço ser difícil não concordar com a nomenclatura "idiotas confiantes", que admito ser agressiva, mas que descreve com grande fidelidade tais indivíduos.
Como complemento dessa discussão é importante deixar claro que existe uma enorme diferença entre opinar, o que é um direito de todos, e ser definitivo no parecer. 
Opiniões e palpites são, na verdade, muito bem-vindos e podem se tornar bastante úteis. Aliás, muitas vezes o fato de não se conhecer bem determinado tema pode propiciar uma visão menos “viciada”, de forma que ideias interessantes venham dali surgir. Parte daí minha convicção de que é sempre salutar ouvir pessoas bem intencionadas, deixando claro para elas que isso não significa necessariamente acatar o que falam. 
Já os “confiantes”, incapazes de reconhecer suas limitações e as qualidades dos outros são totalmente dispensáveis, dado que só servem para criar um clima organizacional ruim e descrédito nas - e para as - instituições que representam.



6 comentários:

  1. Excelente texto Idel! Você sempre nos apresenta relevantes abordagens de forma sucinta, uma grande qualidade. Descobri que estou cercado de idiotas confiantes. Abração

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    1. KKKKK
      Obrigado!
      Sofro dessa sensação há algum tempo. E só piora...
      Abração

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  2. A minha impressão é que é o que mais tem por aí no esporte hoje. Voce definiu, como sempre com maestria e elegância, o que eu reputo ser o elemento mais danoso para projetos esportivos e a gestão esportiva, do que a própria falta de dinheiro para por projetos em prática. Não querer se informar com humildade e emitir "pareceres" com cautela, parece ser uma tônica na vida profissional - muitas vezes nem o são - desses indivíduos. Vou guardar bem o nome desse "efeito". Tenho certeza que vou precisar usar ou pelo menos me lembrar futuramente. Abs

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  3. Grande Rui
    Tudo bem?
    Obrigado pelo seu comentário.
    Realmente é muito desanimador ver o mercado infestado de pessoas com essas características, e o pior é que não se vê perspectivas de melhorias.
    Abraço

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  4. Vivemos tempos de uma clara inversão da lógica. Assunto muito bom e potencializado pelo nossos tempos de comunicação de larga escala. Texto ótimo Idel.
    Desejo que os ensinamentos deste período fique para que em breve o respeito aos estudiosos e profissionais de um assunto sejam respeitados, não como donos da verdade absoluta, mas como fontes de informação e não como mero debatedor. Precisamos perguntar mais e melhor.

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    1. Obrigado pelo comentário!

      Meus votos são os mesmos.

      Abraço

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