terça-feira, 10 de maio de 2022

Os sanduíches e as fake news

 
Após inúmeras reclamações de órgãos como Ministério Público, CONAR e PROCON, o McDonald’s tomou a decisão de suspender as vendas do seu sanduíche chamado McPicanha, pois o mesmo não trazia picanha na sua composição, e sim o molho com sabor relacionado ao produto.
Como a própria cadeia de fast food já admitiu o erro, não cabe aqui nenhum tipo de discussão sobre a suspensão da campanha, todavia, o lançamento do sanduíche é um bom tema para ser abordado.
A propósito, vale acrescentar que seu arquirrival, o Burger King, incorreu no mesmo tipo de erro com o seu sanduíche Whooper Costela que, ao contrário do que o nome induz, não traz tal tipo de carne em sua receita.
O que passa pela cabeça dos gestores de marketing dessas redes de lanchonetes? 
Será que acham que a nomenclatura é suficiente para se desenvolver um produto? Será que não ponderam que ao desvirtuarem o conceito do produto correm o risco de contaminar os demais sanduíches? Aliás, será que o McFish é mesmo de peixe? E o Chicken Crisp é efetivamente de frango?
Temo, sinceramente, que a cultura das fake news possa estar se alastrando para as corporações. 
E por favor não venham com argumentos do tipo: o que é uma informação falsa? Todo mundo age assim! E a liberdade de expressão?
O caso pede seriedade e merece ser observado por dois prismas: 
- o primeiro em relação ao poder das redes sociais que reverberaram um caso que, quem sabe, pode já ter acontecido e ignorado inúmeras vezes com diversas outras empresas no passado . É ótimo saber que a população está vigilante e pronta a questionar de forma massiva eventuais desconfianças, porém, por outro lado, há também o risco de uma mentira ser fortemente divulgada e não haver um órgão de arbitragem ágil e confiável que venha restabelecer e dar publicidade à verdade a tempo. Se no caso do Mc Donald’s o produto contivesse realmente picanha, quem arcaria com os prejuízos que o levantamento da questão teria causado?
- o segundo quanto à tese frequentemente discutida nesse blog de que o marketing está sendo desvirtuado e virando muitas vezes sinônimo de mentira.
Para explicitar este último ponto, podemos resgatar a campanha do refrigerante Fys, que teve como mote o fato de o produto ter 50% menos açúcar e menos marketing, relegando implicitamente o marketing a algo nocivo. Na verdade, a coisa funciona ao contrário, um produto com pouco marketing está fadado também a pouco sucesso. 
Não custa resgatar o caso que foi narrado em outro artigo aqui do blog acerca de uma entrevista na revista Exame, onde o jornalista fez a seguinte pergunta ao economista Pavan Sukhdev: a movimentação do mercado financeiro em direção à economia verde é verdadeira ou marketing? 
Sim, para tal repórter, e muitas outras pessoas, o antônimo de verdade é marketing, pasmem!
Aonde as mentiras irão parar é difícil prever, até porque muitos mentirosos fazem uso da alegada liberdade de expressão para lançarem inverdades ao vento e/ou justificam que as fake news fazem parte da vida deles. Por sua vez, os “marqueteiros”, profissão que foi criada pelos que atuam em marketing e sequer sabem o que é marketing, desenvolvem suas campanhas abusando das narrativas, palavra que virou modinha e que acabou virando sinônimo de versão conveniente para se aplicar em uma situação inconveniente. 
Diante desse quadro, penso que a tendência é que as mentiras aumentem, porém com algum nome mais pomposo. Uma pena, seria ótimo poder terminar esse artigo parafraseando o refrigerante Fys, prevendo um futuro com 50% menos mentiras.






6 comentários:

  1. Ótimo texto, Idel!

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    1. Obrigado, Rogério!
      Abraço e ST

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    2. Minha opinião sobre o questionamento de quem arcaria com prejuízo se realmente tivesse Picanha no sanduíche, seria um marketing positivo e aproveitando para levantar a questão se teve alguma punição a rede.
      Abraço

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    3. Obrigado pelo comentário.
      A punição, pelo que sei, foi a retirada do produto do cardápio, o que por si só envolve custos com a publicidade contratada, insumos comprados e demais consequências no que diz respeito ao planejamento de marketing. Isso sem falar na credibilidade arranhada.
      Não sei dizer se é suficiente,
      Quando eu me referi ao prejuízo caso o produto fosse feito realmente com picanha, quis jogar luzes sobre a necessidade de se apurar com responsabilidade qualquer suspeita.
      Abraço

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