terça-feira, 29 de outubro de 2024

"Influenziadores"

Entre as inúmeras mudanças que a sociedade vem passando em função da popularidade das redes sociais, há uma que vale aqui ser analisada mais detalhadamente por ter forte relação com o marketing: a utilização dos influenciadores. 
Importantes para as marcas? Se bem escolhidos, sim, pois, conseguem falar com o público objetivado sem a dispersão usual das mídias tradicionais, com uma mensagem mais facilmente assimilada por esse público e, não menos importante, com custos menores. Por mais que alguns influenciadores recebam um valor avaliado como alto pelos que não são remunerados por essa função, tais gastos ficam mais em conta do que o que seria gasto na maioria das mídias que envolvem produção, agência, veiculação, cachê etc.
Mas o que significa “bem escolhidos”? Seria uma seleção de influenciadores cujo processo se baseiea em métricas que avaliem número de seguidores, engajamento e aderência ao perfil de público objetivado. Resposta aparentemente óbvia. 
Faltou esclarecer como conseguir seguidores e engajamento. Então, vamos lá, "há várias possibilidades..."
A resposta acima - "há várias possibilidades" - é um exemplo de como não conseguir seguidores, tampouco engajamento, sabem por quê? Porque não é isso que um seguidor do Instagram, por exemplo, quer ler/ouvir. Ele quer fórmulas infalíveis para o suposto sucesso, linguagem acessível, se sentir íntimo do influenciador, não precisar refletir muito acerca do que ouve e nem ler grandes textos, enfim, ele quer ter uma resposta assertiva e direta sem divagações.
Alto lá, essa descrição pode passar a percepção de que os “seguidores” não possuem grandes qualificações culturais e/ou intelectuais, o que não seria verdade. Esse, aliás, é um dos perigos da generalização.
A ideia da reflexão proposta não é traçar perfis, tampouco julgar quem quer que seja, mas, sim, mostrar o quão ávidas as pessoas estão por soluções infalíveis e por ambientes onde as preocupações e angústias do cotidiano possam ser deixadas de lado por algum tempo ao se distrair com uma espécie de série ou novela estrelada por pessoas "comuns" sempre sorridentes.
Quer dizer então que esses influenciadores são excelentes em marketing? O pior é que a pergunta pode até fazer sentido, afinal, encontrar um público-alvo que se interesse pelo produto que oferta – no caso o próprio influenciador -, manter esse produto atrativo, fazê-lo chegar aos clientes e gerar dinheiro de forma rentável e recorrente tem tudo a ver com marketing. Só não vou afiançar o julgamento, por entender que para ser excelente em marketing é imprescindível estudá-lo, ter experiência e capacidade para aplicá-lo a qualquer produto ou marca, o que não parece ser o caso.
Ilustra a afirmação anterior a conta no Instagram de Philip Kotler, efetivamente uma das maiores, se não a maior, referência em marketing do mundo, cujo perfil tem “apenas” 24 mil seguidores. Ainda que o conteúdo dele ali não tenha o fim de atrair seguidores, provavelmente também não lograria êxito caso usasse esse tipo de plataforma para passar seus conhecimentos. Esse raciocínio coloca por terra a tentativa de correlacionar ser “bom de marketing” com engajamento, ressalvando que não são condições excludentes.
O que quero dizer é que se Kotler fosse usar o Instagram para falar de marketing, ou mesmo um renomado médico o fizesse para falar de medicina, eles provavelmente frustrariam os "poucos" seguidores por não serem definitivos em suas colocações, visto entenderem que “conclusões” carecem de diagnósticos e que soluções "gerais" não costumam existir. 
Vale, por fim, registrar que o artigo, apesar de guardar bastante relação com a geração Z, é extensivo à sociedade de forma geral, visto que os hábitos acabam geralmente sendo integrados entre as gerações que convivem entre si.









terça-feira, 22 de outubro de 2024

O marketing, o socialismo e a preguiça

Que título sem nexo! 
Reconheço, que sim, afinal qual a relação entre as três palavras?
Aparentemente, nenhuma! Mas se indagarmos as pessoas a respeito do que entendem por marketing e por socialismo, as chances de haver um contingente extremamente significativo de explicações erradas são enormes. Aliás, poderíamos incluir nessa lista o capitalismo, o planejamento estratégico e alguns outros, o que não foi feito para não deixar o título ainda mais extenso.
Tá, e daí? As pessoas são obrigadas a saber sobre tudo? Evidentemente que não, o problema se dá quando usam essas palavras e conceitos de forma equivocada como se fossem experts nos assuntos, construindo “verdades” que só servem para a disseminação da ignorância.
Marketing há anos tem sido sinônimo de “propaganda”, de “aparecer” a qualquer custo e até de enganar o consumidor. Percepção que vai desde cidadãos comuns até gestores, pasmem! A propósito, a quantidade de executivos que confundem o marketing com divulgação é assustadora, isso para não dizer, desmotivadora.
E planejamento estratégico? Aqui a falta de entendimento acerca da diferença entre estratégia e tática beira o constrangimento. Particularmente, tive o desprazer de participar de apresentações, nas quais um “CEO” discorreu horas, municiado de avançadas ferramentas audiovisuais, sobre o planejamento estratégico da empresa, quando, na verdade, mostrava um plano de ação - imaginem o que aconteceu com a empresa.
Deixando o lado corporativo e partindo para o socialismo/capitalismo, a situação quanto ao entendimento é ainda pior, pois, através da influência das redes sociais e da ignorância que tem a generalização como aliada, se imputam uma série de questões que nada têm a ver com os respectivos regimes econômicos e políticos. O que deveria se restringir às discussões sobre a propriedade dos meios de produção, distribuição de recursos e organização da sociedade, se perde na inclusão exacerbada das pautas de costumes e dos conceitos utópicos de justiça e de meritocracia. 
Nesse processo generalizam e demonizam o lado oposto, inclusive com adjetivos que não guardam relação com o contexto, como se fosse possível introduzir algum regime de forma totalmente pura, isto é, sem se utilizar de conceitos da outra parte. Excluem da linha de raciocínio o dinamismo e a evolução da sociedade, os quais deixam as devidas teses originais obsoletas, mas, ainda assim, proferem baboseiras defendendo ou atacando alguma das ideologias.
E a preguiça? Bem, ela entra nessa relação por ser a responsável pela perenidade da ignorância daqueles que, em busca da oportunidade de opinar, optam por mostrar desconhecimento, enveredando para o debate sobre costumes, o qual não demanda tanto estudo quanto as teorias econômicas. Além do que, as eventuais interações entre comportamento e economia não são lineares e variam em função dos momentos históricos e das características da sociedade, o que deixa a discussão ainda mais complexa, favorecendo a preguiça.




segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Segundo livro

Dessa vez, excepcionalmente, além da alteração na data de publicação, não abordarei nenhum tema específico de marketing e gestão. Usarei o presente espaço para comunicar que hoje, 14 de Outubro, lanço meu segundo livro: “O marketing é muito mais”.
A ideia de escrever esse livro surgiu após inúmeras solicitações de indicação sobre publicações de marketing, o que me fez avaliar a possibilidade de produzir algo que ajudasse os leitores a pensarem o “marketing” em sua essência.
Claro que a distorção do termo “marketing”, seja por seu uso como adjetivo ou por modismos de momento do mercado digital, também pesou na decisão escrever. Há, na verdade, um certo desconforto de minha parte em constatar que muitas empresas e negócios não se aproveitam dos benefícios que o marketing pode propiciar em termos de resultados, pelo fato de não o adotarem de forma efetiva e correta.
A proposta do livro consiste em aliar os aspectos teóricos e acadêmicos à prática, buscando, sobretudo, esclarecer a importância do marketing para a gestão de qualquer negócio, independentemente de porte e ramo de atividade.
Para isso, os principais conceitos de marketing são aplicados a casos reais do dia a dia, muitos dos quais já abordados aqui no blog, visando provocar reflexões e discussões sobre situações ocorridas no universo de bens de consumo, varejo, esportes, distribuição de combustíveis e telecomunicações, entre outros em que atuei como executivo.
Se haverá um terceiro livro, não tenho como saber, mas, certamente, se Deus quiser, o blog voltará à sua linha editorial normal na próxima semana.
O lançamento de "O marketing é muito mais" ocorre na Livraria da Travessa do Shopping Leblon - Av. Afrânio de Melo Franco, 290 - Loja 205 A - 2o piso - Leblon, Rio de Janeiro a partir das 18h30. 
Será um prazer encontrá-los. Não obstante, o livro estará disponível nas principais livrarias físicas e virtuais.




terça-feira, 8 de outubro de 2024

Como avaliar um líder

Na semana passada, o Fluminense, atual campeão da Libertadores, teve uma vitória importantíssima contra o Cruzeiro pelo campeonato brasileiro de futebol.
Mas fiquem tranquilos, não quero aqui falar de futebol, tampouco ficar exaltando o triunfo, até porque, ganhar de um time que tem como técnico o Fernando Diniz e nas condições atuais, não é tão prazeroso como as demais vitórias sobre rivais e que nos colocam em lutas por títulos.
Prefiro falar sobre liderança, aproveitando as demonstrações de afeto e gratidão por parte dos ex-comandados e demais companheiros de Diniz na ocasião do citado jogo.
Nesse momento me veio à cabeça um vídeo que recebi recentemente mostrando a despedida de um executivo da empresa em que trabalhou durante anos, no qual foi mostrada a comoção e reconhecimento dos colaboradores. Infelizmente não lembro os nomes e detalhes que certamente deixariam o texto mais rico.
Diante dessas duas situações e outras que o espaço não comporta, não tenho dúvidas em afirmar que a melhor forma de se avaliar um profissional se dá através das demonstrações de respeito e admiração por parte de sua equipe.
Óbvio que os resultados obtidos são também fundamentais nesse processo de “julgamento”, porém, pelo fato de a performance sofrer forte influência das expectativas e de fatores exógenos de mercado, há margem para questionamentos.
Já a admiração dos colaboradores, não! Essa é, digamos, mais genuína, pois inclui momentos de cobrança, eventuais cortes, algumas broncas, discordâncias e até fatores externos, afinal todos passam por problemas particulares.
Sair de um lugar que convivemos com pessoas, seja por vontade própria ou não, tem como lado bom a oportunidade de se autoavaliar através da observação das demonstrações de seus colegas, principalmente pares e equipes.
Feliz daquele que tem a oportunidade de viver essa experiência.
Tenho certeza que o artigo ficaria mais elegante e positivo se fosse encerrado por aqui, mas, por outro lado, perderia a oportunidade de mostrar o antiexemplo, uma maneira de reforçar o correto.
Tentando resgatar a elegância perdida ao não ter encerrado o texto anteriormente, não citarei nomes, mas chamo a atenção para uma postagem feita no instagram, após a vitória citada no primeiro parágrafo, na qual o autor, um tricolor, debochava do Fernando Diniz.
Gostar ou não de alguém, é direito de todos, debochar também, só que nesse caso denotou muito mais recalque do que algum tipo de humor sarcástico e inteligente.
Piora a situação saber que o autor da indelicadeza, além de levar a empresa que dirigiu à beira da falência, não desperta a menor admiração por parte do capital humano que lá deixou. 
Isso talvez explique seu rancor e seu recalque.





terça-feira, 1 de outubro de 2024

Esportes coletivos e as marcas - Paris 2024

Em relação ao fornecimento de material das equipes de esportes coletivos que disputaram os Jogos de Paris, o levantamento da Jampo Sport Business analisou as competições de basquetebol 5x5, basquetebol 3x3, futebol, handebol, hockey, rugby e voleibol de quadra, todas elas nos dois gêneros. O estudo também comparou as movimentações ocorridas, tendo como parâmetros os Jogos de 2012, 2016 e 2020.
Os números apresentados deixam evidente que as marcas globais como Adidas, Nike, Puma e Asics, costumam estar presentes em mais de uma modalidade, o que denota, não apenas maior capacidade de investimento e atenção ao fortalecimento da marca, mas também maior flexibilidade para a "produção"/"disponibilização de itens, principalmente os têxteis, de forma mais diversificada.
Mesmo diante dessas características, é possível constatar uma espécie de “maior domínio” de algumas delas em dadas modalidades, o que vem a ser o caso da Nike com o basquetebol 5x5 e 3x3, a Mizuno no vôlei e a Adidas no hockey e no rugby.
No futebol, identificamos a mesma disputa entre marcas que há no futebol profissional, onde Adidas, Nike e Puma vestem as principais seleções.
Os números que embasaram o estudo permitem também especular sobre o grau de interesse despertado pelos países perante às marcas. Sob essa ótica, vemos que o Brasil, mesmo com representantes em cinco das modalidades: voleibol, rugby, handebol, basquetebol e futebol, só aparece com fornecedores globais nos dois últimos, sendo as demais supridas por marcas regionais.
O levantamento mostra ainda: 
  • A Adidas como a marca presente em mais modalidades, ficando ausente apenas nas competições de basquetebol 3x3 e 5x5 nos dois gêneros. Ainda sob essa ótica, vemos Nike e Puma empatadas na 2ª posição com nove modalidades cada.
  • Das quarenta e duas marcas encontradas na amostra, vinte (47,6%) tiveram equipes em apenas uma modalidade cada.
  • Quando voltamos nossa análise para a marca que vestiu mais times, a liderança passa a ser da Nike com 28, seguida por Adidas com 24 e Puma com 14. 
  • Em relação às medalhas conquistadas, as equipes que competiram com uniformes da Nike subiram doze vezes ao pódio, sendo quatro vezes no lugar mais alto. A Adidas foi a 2ª marca ao ganhar oito medalhas, das quais quatro foram de ouro.
  • As competições coletivas foram disputadas por 52 países. Pelo fato de ser facultado ao país que sedia o direito a participar de todas as competições coletivas, a França é a líder nesse quesito, seguido pelos Estados Unidos com onze e o Japão com dez.
  • A maior parte dos países teve mais de um fornecedor, vide, por exemplo, os casos do Japão com seis e da Alemanha com cinco. Já outros como a Austrália, a Sérvia e a África do Sul tiveram todas as modalidades supridas por apenas uma marca.
Vale, por fim, destacar que a maior parte das equipes vestiram uniformes das marcas que têm contratos com as respectivas federações, havendo, no entanto, aquelas que usaram as dos comitês olímpicos locais. Ilustram essas situações: o basquete da Austrália que tem a iAthletic como patrocinadora e que jogou com Asics e o rugby da África do Sul que tem contrato com a Nike, mas vestiu Maxed nos Jogos de Paris.