terça-feira, 4 de novembro de 2025

Cuidado com a manada digital

Creio não haver dúvida quanto à eficácia das ferramentas digitais, o que não significa dizer que devam ser encaradas como a solução perfeita para qualquer tipo de negócio, tampouco de que os casos de sucesso que aparecem a todo instante são realidades extensivas a todos.
Essa introdução se faz necessária diante do crescente número de pessoas, principalmente profissionais liberais ou cidadãos comuns, que ao se depararem com o suposto sucesso de alguns dos seus “seguidos”, passam a acreditar que poderiam estar no lugar deles e/ou que mudarão de patamar financeiro ao dedicarem mais atenção ao digital.
Inicialmente, é importante lembrar que, mesmo reconhecendo a utilidade das ferramentas, são raros os casos de produtos ruins que se transformam em bons, além do que, replicar a mesma forma para realidades diferentes é um erro dos mais infantis que se pode cometer.
Ainda assim, vez por outra, nos deparamos com profissionais que passam a ponderar a contratação dos serviços de especialistas em “marketing digital”, porém, quando questionados a respeito do objetivo para a iniciativa, grande parte dos profissionais demandantes se vê sem respostas ou cita algum exemplo desconexo à sua realidade.
Apliquemos o exercício, a título de exemplo, aos médicos. O que eles podem vir a querer ao contratar o serviço dos profissionais citados no parágrafo anterior? Aumentar o número de clientes? Sim, óbvio, mas, será que pararam para pensar ou mesmo quantificar a capacidade ociosa nesse momento? Será que o objetivado incremento não redundará em filas de espera ou mesmo em um atendimento mais rápido do que o usual, o qual, talvez, tenha sido a característica que o levou a ter conquistado a clientela atual? Será que não trarão um outro tipo de público? Será que esse maior fluxo não contaminará o “posicionamento” que construiu, ainda que empiricamente?
Óbvio que estar em pontos de contatos digitais auxilia na “construção” da marca, afinal poder ser encontrado através de meios digitais auxilia no fortalecimento dos atributos de modernidade e inovação. Por outro lado, a presença massiva em posts, pode passar a percepção de que a dedicação à atividade-fim – estudar, atender e participar de cursos, congressos e seminários - esteja sendo comprometida.
Claro que há um público que baseia sua escolha na popularidade do profissional, mas há outros que não, cabe, então, definir o que efetivamente se quer.
Enfim, a mensagem que o texto pretende passar é que estar presente digitalmente é, sem dúvida, de fundamental importância, porém, a escolha de como, onde e quanto dependerá dos objetivos previamente definidos. 
Ir na onda da manada ou mesmo achar que o impulsionamento de posts, fará da pessoa uma referência, é mais ou menos como um nadador achar que se fizer o mesmo treino do Messi, ganhará uma medalha de ouro na modalidade.








terça-feira, 28 de outubro de 2025

Terceiro lugar

Antes que o título possa de alguma forma remeter a conquistas esportivas, adianto que o texto aborda um conceito de marketing que tem sido bastante adotado no varejo. 
A origem da nomenclatura visa “hierarquizar” o varejo no terceiro lugar como ambiente social, onde as pessoas podem se reunir e interagir. A casa é considerada o primeiro lugar, seguida pelo trabalho.
O racional do conceito sugere que o estabelecimento varejista precisa oferecer atrações aos que lá frequentam, de modo a atrair públicos com interesses similares e assim propiciar uma sensação de pertencimento aos que participam dessas “atrações”.
A título de exemplos da iniciativa, podemos citar a Apple através do Today at Apple, no qual as lojas dedicam espaço para aprendizado, e a Lululemon, que oferece aulas de yoga em suas instalações. Obviamente, todas essas atividades proporcionam a possibilidade de interação entre as pessoas.
No segmento esportivo, temos a Bandit Running que, além de comercializar produtos para a modalidade, organiza treinos e reúne praticantes. No ciclismo, A Rapha, marca inglesa especializada em ciclismo faz algo similar.
No Brasil, o varejo ainda está bem atrasado no que tange ao conceito, fato que tem entre as causas, o perfil do nosso consumidor que privilegia o preço à experiência. Essa característica acaba fazendo com que os varejistas não invistam no conceito para não terem que repassar os custos para o preço dos produtos. A argumentação de que “boas experiências” atraem mais público é correta, a dúvida que paira diz respeito ao tempo necessário para a conversão dos frequentadores em consumidores. Deve também ser acrescentado que a concentração no varejo brasileiro deixa as marcas, digamos, mais acomodadas do que em países em que haja maior competição pelo mercado.
Apesar dessas dificuldades conjunturais do país, o conceito do “terceiro lugar” não deveria ser ignorado, visto a crescente necessidade de as pessoas buscarem conviver e pertencer a todo momento. Ilustra esse quadro, a proliferação das assessorias esportivas, grupos que treinam principalmente corrida e ciclismo sob a supervisão de treinadores. 
Nessas, vemos amizades e casais serem formados, fotos das atividades registradas e até a realização de treinamentos propriamente ditos, ainda que, aparentemente, esse não seja o objetivo principal.
Vale relatar que as assessorias esportivas, muitas sem essa denominação, começaram a surgir no final da década de 80, só que na época, a relação de motivação era inversa da atual - ou seja, treinar era o objetivo precípuo – e o número de praticantes menor.
É muito bom acompanhar esse movimento e constatar que mais pessoas estão praticando atividades físicas, além de poder ver as assessorias adotando o conceito do “terceiro lugar”, mesmo que nunca tenham lido artigos ou livros do sociólogo Ray Oldenburg, talvez a maior autoridade sobre o tema.
Por outro lado, a massificação também preocupa, já que aumenta o risco de o esporte ser desvirtuado tamanha a incidência de treinadores e “alunos” que não dignificam os valores do esporte. 
A prática de atividades não condizentes com os melhores hábitos de saudabilidade e discursos que preconizam métodos de treinamento claramente enganosos são ofensores do esporte.
Jamais podemos ignorar que o treinador é, antes de tudo, um profissional de educação e, como tal, precisa colocar os princípios nobres do esporte à frente dos interesses financeiros e do egocentrismo.




terça-feira, 21 de outubro de 2025

O marketing "genérico" assola o mercado

Recentemente li um excelente artigo no Meio & Mensagem, o qual foi escrito pelo fundador da Fort Consulting e tinha como título “O futebol precisa de mais marketing”. Título cirúrgico e conteúdo perfeito para explicitar a importância do posicionamento quando se quer trabalhar efetivamente com marketing.
No texto, o autor cita vários exemplos de clubes que entenderam a necessidade de se posicionar, tais como o Forest Green Rovers da Inglaterra, o Paris St. Germain, o Como da Itália e o Athletic Bilbao, que aqui já foi tema em 2013, vide https://halfen-mktsport.blogspot.com/2013/01/athletic-bilbao-um-case-de-uma-causa.html.
A título, puramente, de atualização, informo que o Fluminense poderia fazer parte do seleto grupo que o texto do Meio & Mensagem retrata, pois, no passado, sua equipe de marketing desenvolveu um trabalho de posicionamento mercadológico, no qual se chegou ao “Nós somos a história”. 
Infelizmente, como o artigo “O futebol precisa de marketing” enfatiza, a falta de visão de marketing levou o clube a não explorar fortemente o conceito.
Hoje, o “Nós somos a história” vive dos residuais de postagens aleatórias em redes sociais e de um vídeo produzido internamente que, vez por outra, surge em alguns grupos de tricolores no WhatsApp.
Uma pena...
As causas dessa “pouca atenção” ao marketing estão diretamente ligadas ao desconhecimento do que efetivamente vem a ser marketing, costumeiramente confundido com comunicação e vendas.
Embora estejamos focando o futebol, é preciso registrar que muitas confederações de esportes olímpicos, comitês e até marcas, em tese consolidadas, denotam ignorância sobre o tema e também negligenciam a importância do posicionamento.
A situação se agrava em função da ansiedade por espaço na mídia e por engajamento, o que contribui  por uma quase cristalização disforme do marketing.
O processo de propagação da incompreensão é bastante curioso: os CEOs/presidentes, ao não terem o juízo correto sobre os benefícios do marketing e para o contemplarem no organograma, estabelecem como objetivos a captação de patrocínio, o engajamento e o número de seguidores, entre outros de cunho tático, preterindo, deste jeito, o aspecto estratégico que é sua essência.
Consequentemente, o recrutamento para se ocupar as posições deste departamento acaba sendo voltado para profissionais de comunicação e vendas.
Pronto, está criada a cultura de “marquetingue” naquelas organizações, desperdiçando assim um terreno fértil que poderia proporcionar ganhos muito maiores no longo prazo.
Será que não passa pela cabeça dos gestores das organizações que as marcas estão ávidas para se associarem a valores que são abundantes no esporte?
Será que não enxergam que o mercado de “patrocináveis” é imenso e que os valores do esporte são ferramentas de vantagem competitiva que poucos concorrentes possuem.
Pois é, parafraseando o autor do artigo no Meio & Mensagem, o esporte de forma geral precisa de mais marketing, mas marketing mesmo, não o genérico.



terça-feira, 14 de outubro de 2025

Economia da nostalgia

Frequentemente surgem expressões para a descrição de conceitos de marketing que, mesmo facilmente identificáveis, acabam passando despercebidos aos olhos da maioria das pessoas. Basta, no entanto, ganharem uma "denominação" para serem notados e até adotados por algumas marcas.
Agora está em voga a "economia da nostalgia". Ela visa explorar as emoções provocadas por ligações afetivas do passado, seja com produtos, trilhas musicais e demais formas de lembranças.
A Netflix, ao produzir o  filme Strangers Things, apostou numa ambientação dos anos 80 através de vestuários, músicas e produtos, fazendo até com que alguns, como o Eggo Waffles,  tivessem expressivo aumento de vendas. 
Continuando na seara cultural, os remakes de novelas como Vale Tudo e as turnês de grupos musicais ajudam a ilustrar o conceito.
No esporte, a Adidas com o lançamento do tênis retrô Stan Smith e a Nike, através do Air Jordan 1 em que manteve o design, mas com materiais e cores diferentes, também obtiveram sucesso com a estratégia.
Os relançamentos das câmeras Polaroid e de modelos clássicos de celulares da Nokia são outros exemplos da estratégia “nostálgica”, assim como a volta dos tênis Bamba e dos chocolates Surpresa da Nestlé, nos quais os cards colecionáveis vêm em versões digitais.
Pelo prisma do incremento das vendas e engajamento, a explicação para o sucesso da estratégia está relacionada ao aumento de expectativa de vida da população e o provável maior poder de compra da geração que, na época áurea desses produtos, os consumia com o dinheiro da mesada e/ou o dos pais. 
Pelo lado emocional, considera-se também a reconexão com a memória afetiva dos bons sentimentos vividos na infância e adolescência.
Espera-se com isso que a gratidão pelo respeito às suas memórias, se traduza em fidelidade e propagação.
Expectativas legítimas, sem dúvida, porém, se bem trabalhada, a "nostalgia" tem ainda o poder de servir como elo entre gerações.
Filhos e netos, ao se depararem com histórias ou mesmo se lembrarem de produtos usados pelos pais e avós, podem se tornar novos consumidores, mantendo assim a perenidade da marca.
No segmento de luxo, a Antonio Bernardo aposta nessa estratégia ao lançar uma pulseira e um colar chamados New Wish, que nada mais são do que as versões em prata dos tradicionais produtos Wish em ouro - objetos de desejo de toda uma geração.
Tal ação, além de trabalhar a "economia de nostalgia", traz para o mercado de joias, uma nova geração que, talvez, não o priorizasse em sua escala de desejos.
Evidentemente, há outras maneiras de se trabalhar a construção de vínculos emocionais entre marcas e consumidores, porém, em termos de investimento e tempo, elas certamente demandariam mais do que a "economia da nostalgia".





terça-feira, 7 de outubro de 2025

Educação vem de berço!

Alguns fatos, independentemente do período em que ocorrem, possuem o dom da atemporalidade, ou seja, passam anos e continuam atuais quando divulgados.
Através das redes sociais, tal característica fica ainda mais evidente, além do que, pela quantidade de informações que nos “bombardeiam” diariamente, muitas postagens e notícias antigas acabam passando despercebidas.
Pois bem, semana passada recebi um vídeo que mostrava uma cafeteria, onde um mesmo café recebia três precificações, as quais se baseavam na forma de se solicitar a bebida. Quando o cliente pedia “um café”, o preço era 7 €, se falasse “um café, por favor”, caía para 4,25 € e dizendo “bom dia, um café, por favor”, pagava 1,40 €.
Pesquisando sobre a ação, descobri que ela se deu em 2013 numa cafeteria chamada La Petite Syrah em Nice, na França 
Na prática, mesmo para os mal-educados, o valor cobrado foi sempre o mais baixo, visto que o objetivo principal era chamar a atenção para a importância da gentileza de forma divertida.
Alguns estabelecimentos, inclusive fora da França, adotaram ações similares. 
Marcas consolidadas também realizam ações de fomento aos bons modos.
Uma delas, a Southwest Airlines, costuma ter iniciativas reforçando que o bom humor e a gentileza melhoram a experiência do vôo. Na  campanha “Abra a Felicidade” da Coca-Cola, máquinas automáticas liberavam produtos mediante ao recebimento de abraços.
Apesar de citarmos poucas marcas, muitas outras adotam a educação, a gentileza, a solidariedade e a empatia como diferenciais de marketing, pois, além de cumprirem assim um dever social, conseguem criar um vínculo emocional com os consumidores e geram mídia espontânea.
E como começamos o artigo falando de “atemporalidade”, é lamentável constatar que a “falta de educação” não se erradica, aliás, talvez esteja até aumentando ou, quem sabe, ficando mais visível, visto que os pontos de interação entre as pessoas aumentaram graças às ferramentas digitais.
O “bom dia” , o “por favor” e o “obrigado” que foram por muito tempo um bom balizador do grau de educação das pessoas, hoje recebem outras companhias.
O retorno - ou não - das ligações que recebe e não pode imediatamente atender e as respostas - ou não - às mensagens diretas no WhatsApp têm a capacidade de aferir com boa dose de assertividade o quão educada e interesseira a pessoa é. 
O mais encantador dessa análise é observar que educação não está associada ao poder aquisitivo, ao grau de instrução ou à hierarquia, ela está relacionada ao berço, ou seja, à criação recebida.
Diante desta conclusão, tenho duas notícias, uma ruim e uma boa para as marcas que investem em campanhas com cunho educativo: a ruim é que é bem provável que a mudança pretendida não ocorra, já a boa é que as peças publicitárias continuarão atemporais por muito tempo.



terça-feira, 30 de setembro de 2025

"Com as redes sociais, acabou o futebol!"

A frase que dá título ao artigo tem como autor o ex-treinador do Fluminense, Renato Gaúcho, e foi proferida em seu  pedido de demissão na semana passada.
Apesar do erro ao decretar a morte do futebol, pois ele vive e até com mais pujança em termos de fortalecimento da indústria, é fato que as redes sociais estão assumindo um protagonismo que beira às raias do absurdo. E não só no futebol.
A tão propalada liberdade de expressão tem formado sumidades no direito, na economia, no futebol, no marketing, na nutrição, aliás, até na medicina com suas cloroquinas e remédios infalíveis.
O desejo de estar incluído em conversas/debates e a preguiça de pesquisar explicam bem esse fenômeno de crescimento. Poderíamos também incluir entre as causas, a ignorância proporcionada pela paixão, que faz com que muitas pessoas queiram ter acesso apenas às publicações que expressem o que concordam. 
Reitero que o sentimento do ex-treinador é bastante legítimo,  afinal, ler pessoas, que não acompanham os bastidores de um time, criticando seu trabalho é, de fato, ruim.
Entretanto, esses “apedrejamentos" não se restringem aos técnicos no caso do futebol. Executivos de marketing, por exemplo, também são bombardeados nas redes quando o time vai bem. Isso mesmo, no futebol a reclamação vai sempre existir, se o desempenho esportivo está bom, pancada no marketing, se está mau, sobra para o técnico, jogador, presidente...até preparador físico.
Saindo da esfera esportiva, vale citar que, mesmo sem a leitura de autos e a devida formação acadêmica, as redes sociais estão repletas de "juízes" opinando sobre os julgamentos mais populares. 
Parece que o que importa é opinar, até porque, mesmo os maiores absurdos, arrebanham defensores. 
Esperar que as redes sociais caiam em desuso como aconteceu com o telex e o fax, exigiria muita paciência e fé numa improvável mudança no comportamento da população.
Regulá-las? O direito à opinião é sagrado, já as mensagens ofensivas são inaceitáveis. A discussão passa, então, pelo prazo para eliminá-las: antes de reverberarem, o que caracterizaria regulação, ou depois de tramitações nas esferas judiciais, quando pode ser tarde demais.
Certamente os que agridem defenderão a opção pelas vias judiciais, até porque acreditam que nada de grave acontecerá. Os agredidos preferirão a “regulação”. O problema é o dinamismo da sociedade, visto que os que agridem hoje, serão agredidos amanhã e vice-versa.
Assim, para evitar maiores celeumas, penso ser mais fácil ignorar as redes sociais. 
Os que defendem o acompanhamento das redes como forma de se medir a "temperatura" da opinião pública trazem um bom argumento, falta, contudo, nessa equação avaliar se os que se posicionam nas redes possuem credenciais que realmente agreguem valor e o quão volátil é a convicção dos que vão consultá-los. 
Evidente que se fechar na própria convicção sem ouvir contrapontos é errado, porém, estes precisam partir de quem possua capacitação tanto técnica como moral para emiti-los.
Acho que todos concordam com os possíveis malefícios das redes, principalmente os advindos de mentiras e críticas com pouco ou nenhum embasamento, todavia, pedidos de demissão em função  delas, deixa o demissionário sem espaço para exercer qualquer função pública.
Aguardemos os próximos passos do treinador.



terça-feira, 23 de setembro de 2025

A Economia e o Marketing

Se fosse estabelecer um propósito para este blog, tenderia a achar que ele seria o "esclarecimento acerca do que é realmente marketing".
Como não consigo ter a certeza se há um efetivo interesse no assunto, acabo optando por manter uma linha editorial mais voltada ao relato de situações que tenham o marketing como engrenagem, para, quem sabe, dessa forma, incutir naturalmente os conceitos da disciplina. 
Já os textos com foco em situações que trazem casos envolvendo RH, finanças e vendas, entre outros, têm como intuito mostrar que as áreas são interdependentes e cabe ao marketing auxiliá-las e ser por elas auxiliado em qualquer organização.
Outra tecla que também é bastante batida por aqui diz respeito à importância de se conhecer economia para atuar em marketing, isto é, ler e entender sobre microeconomia, contabilidade – principalmente de custos -, econometria e macroeconomia.
Antes de entrarmos no tema, esclareço que não preconizo que apenas economistas possam trabalhar na área de marketing, até porque defendo que a formação acadêmica não é a variável mais importante para o exercício de certas funções. O que quero dizer é que o conhecimento sobre Economia pode ajudar bastante o desempenho do profissional de marketing.
O assunto que agora abordamos, e  que ilustra a relevância do conhecimento econômico, tem como motivação as tarifas de importação impostas pelo presidente dos Estados Unidos e as respectivas reações/especulações por elas provocadas. 
Como ficará a inflação? E o déficit público? Qual o impacto na taxa cambial? E o mercado de certos setores? Quais os países que serão mais afetados? Haverá desemprego? 
Essas e outras perguntas envolvem previsões sobre o comportamento do mercado, da população e dos mecanismos de intervenção econômica de cada país. Assim como também acontece no marketing, quando uma eventual alteração de imposto em algum estado traz reflexos para empresas cujas operações ali estejam e faz com que ações visando a manter a competitividade precisem ser implementadas.
Demonstro o que quero dizer com um “debate” trazendo em lados opostos o economista francês Jean-Baptiste Say, que formulou a Lei de Say, e o também economista inglês John Maynard Keynes.
A tese de Say defende que a oferta de produtos é capaz de criar sua própria demanda. Trazendo seu raciocínio para a prática, seria algo, por exemplo, como uma fábrica produzir calçados, necessitando para isso da compra de insumos, de remunerar funcionários e de pagar aluguéis, entre outros gastos. Esse dispêndio gera renda para os envolvidos (fabricantes de insumos, colaboradores e proprietários de imóveis) e propicia que eles consumam outros produtos, inclusive calçados.
Para Keynes, no entanto, a produção nem sempre gera demanda suficiente, pois, em momentos de crise pode ocorrer retração de investimentos, o que afeta o índice de emprego e, consequentemente, o consumo, daí a necessidade da intervenção do estado.
Vemos assim que, enquanto o francês vê o mercado suficientemente capaz de se autorregular, focando a oferta como fator dominante, o inglês tinha a demanda como variável prevalecente.
Afirmar quem está certo ou mais perto da verdade seria ir contra o que preconizo em relação a ser definitivo no que tange à gestão, além do que, há dezenas de variáveis que podem influenciar o comportamento do mercado, inclusive e, especialmente, o marketing, que nas citadas teorias não foi considerado.












terça-feira, 16 de setembro de 2025

Marcas esportivas no futebol - 2025-2026

 
Realizado pelo 12º ano consecutivo, o estudo produzido pela Jambo Sport Business acerca das marcas esportivas que fornecem para os times das 20 principais ligas do mundo nos mostra que a liderança conquistada pela Adidas na temporada 2022-23, quando desbancou a Nike, vem sendo ampliada.
Ao todo foram analisados 382 times – dois a mais do que na temporada anterior – e setenta e quatro marcas, agrupando todas as marcas próprias em uma. Vale notar que quatro times estão sem fornecedor de material esportivo e cinquenta e um vestem uniformes de fornecedores diferentes dos que usaram na temporada passada, aqui considerando os que estiveram presentes na anterior e atual.
A marca alemã aparece com 32 times a mais do que a norte-americana. Em 2022-23 a diferença era de apenas um time, em 2023-24 subiu para nove e na temporada passada chegou a dezesseis, valendo ressaltar que a maior diferença imposta pela Nike, quando líder, foi de 19 times em 2019-20.
Tais números parecem indicar que a Adidas voltou a acreditar fortemente no futebol como plataforma de marketing ao vestir 87 times da amostra. 
Além da expressiva quantidade, a qualidade também se faz presente em sua estratégia, fato que pode ser constatado tanto na análise referente à participação entre os 30 clubes que mais arrecadam como também entre os que jogam as cinco ligas mais valiosas, onde também lidera. A conquista de clubes como Liverpool, Sevilla, Eintracht Frankfurt, Fenerbahçe e América do México corroboram para essa afirmação.
A propósito, até no que tange às seleções, a marca das três listras assumiu a primeira posição.
A Nike, agora com 55 times, permaneceu na 2ª colocação, mesmo tendo ficado com cinco times a menos do que em 2024-25. No 3º lugar, vem a Puma se consolidando na posição que ocupa desde 2017-18 e diminuindo sua diferença para a marca norte-americana. 
As três primeiras somadas atingiram 47,9% de participação, um índice de concentração considerável, mas abaixo do alcançado em 2013-14, que foi de 54%.
Completam a relação das TOP 10, na verdade TOP 11, já que há um empate na 10ª colocação: Macron, Kappa empatada com a Umbro, Joma, Hummel, New Balance, Castore e Robbey.
No Brasil, a liderança também pertence à Adidas, empatada com a Umbro, porém, deve ser destacada a queda no número de marcas próprias, apenas duas, sendo que na temporada passada eram três e na retrasada quatro. 
O declínio detectado ganha traços de tendência ao olharmos para a série B, que em 2023 tinha sete times vestindo marca própria, quantidade que caiu para cinco em 2024 e quatro na atual.
Esse movimento, caso se confirme, não significa que as marcas globais voltaram a aportar verba indistintamente nesse formato de patrocínio.  Na verdade, mais parece fruto de uma eventual decepção dos clubes com o modelo de marca própria, atrelado aos projetos das marcas regionais visando esse mercado.
Entre tantas outras informações interessantes do estudo,  finalizamos o artigo citando duas: 
i - no campeonato mexicano, o Pachuca trocou a Charly pela Skechers, marca norte-americana que sempre aparece entre as maiores do setor, mas, até então, pouco ativa no futebol;
ii - no campeonato belga, o Sporting Charleroi passou a ter como fornecedora a Decathlon, gigante francesa do varejo esportivo. Tal iniciativa mostra a importância da ação de patrocínio para os objetivos de branding das marcas, reforça essa conclusão o fato de que anteriormente o time vestia uniformes da Kipsta, que vem a ser a marca da categoria futebol da Decathlon, ou seja, diante da identificação dos benefícios de marketing proporcionado pela modalidade, os franceses optaram por colocar a marca guarda-chuva como destaque e assim fortalecer o institucional. 










terça-feira, 9 de setembro de 2025

O sonho da arena própria

O sonho da casa própria é um desejo que ultrapassa gerações e representa mais do que um bem material, simboliza segurança, estabilidade, independência e realização pessoal. No esporte, isso também acontece.
Apesar de tentador, não vamos nesse artigo contemplar especificamente as motivações que muitas vezes norteiam os interesses dos clubes brasileiros, entre os quais está o de proclamar que tem estádio, como se isso fosse um indicador de pujança esportiva. Vamos falar de como a “arena própria” pode contribuir para o aumento da receita e fortalecimento da marca, usando como ilustração o Los Angeles Clippers, equipe de basquete da NBA, que recentemente inaugurou o Intuit Dome, ao custo de dois bilhões de dólares e que será o espaço destinado à modalidade nos Jogos Olímpicos de 2028.
Entre os destaques da instalação em Inglewood, está uma arquibancada batizada de “The Wall” com 4.500 lugares destinados aos torcedores do time, sendo que 300 são em pé. Certamente se inspiraram na famosa “Muralha Amarela” do estádio do Borussia Dortmund.
No que tange às receitas, essas advirão das vendas de ingressos, camarotes e espaços publicitários, além do naming rights – a Intuit pagou US$ 500 milhões – e de acordos como o que fez com a Aspiration, de serviços financeiros que, segundo se especula, equivale a US$ 400 milhões.
Para os que acham que marketing se resume à geração de receitas, o artigo pode se encerrar no parágrafo acima, porém, não aconselho. 
Na verdade,  a parte relativa ao fortalecimento da imagem também se beneficia sobremaneira, pois, até então, a equipe jogava na Crypto.com – ex-Staples Center -, uma arena em que, mesmo com a customizações na quadra, o roxo e o dourado do Lakers são dominantes nas instalações. Além do rival, os Kings da NHL e o Sparks da WNBA mandam seus jogos lá.
A franquia que começou em Buffalo em 1970 com o nome de Braves, se mudou para San Diego em 1978 - ali passou a se chamar Clippers - e em 1984 foi para Los Angeles.
Embora nunca tenha conquistado o título da NBA, creditar o desempenho esportivo apenas à “falta da arena própria” não parece justo. Por outro lado, não deve ser descartado que uma “instalação própria” que propicie melhores experiências ao torcedor, permite a construção de comunidades e se consegue um engajamento maior, os quais, são capazes de fazer com que bons jogadores vejam a franquia como uma  opção atrativa.
Afirmar que o investimento em propriedade individual é uma tendência não é errado. Nos EUA, desde 1990 se vê esse movimento, influenciado também pelo fim de alguns contratos de aluguel que as equipes tinham junto aos proprietários, muitos dos quais, o próprio município. Importante relatar que até equipes universitárias seguem esse caminho.
Contudo, mesmo reconhecendo essa migração, vemos arenas como a American Airlines Center em Dallas ser dividida entre o Mavericks (NBA) e o Stars (NHL) e o Wells Fargo Center na Philadelphia ser compartilhada por 76ers (NBA) e Flyers (NHL). Em New Jersey, o MetLife Stadium recebe os jogos de Giants e Jets, ambos da NFL, enquanto que o SoFi Stadium em Los Angeles é o estádio em que Rams e Charges da NFL, assim como o Bowl da NCAA mandam seus jogos.
Trazendo para o universo brasileiro, vemos, de fato, uma movimentação dos times em busca da “casa própria”, fato que, em tese, pode fazer sentido, desde que haja uma avaliação racional – não passional – e que a conta feche, tanto no que diz respeito às finanças como em relação ao impacto na sociedade, aqui faço menção aos recursos públicos e aos riscos de deixar sem serventia estádios já existentes. 







terça-feira, 2 de setembro de 2025

Conflito de interesses

A expressão que dá título ao artigo é uma das mais negligenciadas e ignoradas no mercado corporativo.
Ainda que negligência e ignorância possam parecer sinônimos, a ideia da utilização de ambas no texto é diferenciar simploriamente algo feito em “não conformidade” com os códigos de ética - um de forma consciente, o outro impensada.
Não saberia dizer qual das situações é mais preocupante, pois, se a negligência atesta negativamente o caráter de quem comete atos imorais de forma proposital, a ignorância evidencia uma sociedade pouco aculturada com princípios e valores dignos.
No que tange à ignorância, é preciso reconhecer que existem linhas tênues de interpretação sobre certas situações, muitas delas “normalizadas” pela frequência com que ocorrem, daí a importância da existência de códigos de conduta bem elaborados, divulgados e acessíveis.
Preâmbulo concluído, lanço a pergunta:
O que vocês acham de um time ter como patrocinador a mesma marca que patrocina o campeonato que ele disputa?
Para evitar elocubrações, rechaço veementemente qualquer “tese” que venha lançar suspeitas sobre influências na arbitragem, elaborações de tabelas mais favoráveis ou quaisquer outras teorias que venham colocar em discussão a lisura da competição. Claro que numa sociedade tolerante a fake news e recheada de teóricos conspiratórios, as postagens sobre fatos que justifiquem as infundadas suspeitas serão, infelizmente, viralizadas, o que é ruim para a marca e para a própria competição, independentemente de as suposições não passarem de mentiras torpes.
Meu ponto é outro, ele diz respeito a um dos conceitos que rege o esporte, no qual se preconiza a igualdade de condições de oportunidades para que as competições sejam mais justas e, consequentemente, mais atrativas.
Evoluindo nessa premissa, quando vemos uma marca patrocinar um clube aportando valores extremamente superiores ao que os concorrentes recebem de seus patrocinadores, poderíamos, de alguma forma, alegar que tal investimento contribui para o desequilíbrio da competição. 
Visto de forma isolada, tal alegação não faz o menor sentido, afinal, cabe aos demais clubes desenvolverem estratégias para se tornarem mais valorizados aos olhos dos potenciais patrocinadores. 
Evidentemente, essa busca pela “maior atratividade” deveria considerar os benefícios e malefícios em termos de branding da associação da marca do clube com a da empresa patrocinadora, porém, o atual grau de maturidade da indústria do esporte faz com que os clubes foquem principalmente a busca por receitas de curto prazo, enquanto as marcas priorizam a mera exposição.
Há, no entanto, uma faixa que deveria servir de limite para que a busca pela divulgação não venha trazer reflexos negativos à marca, que é o que pode acontecer quando se está em duas propriedades como o patrocínio ao clube e o title sponsor da competição que o clube disputa de forma simultânea.
Então quer dizer que as confederações não deveriam comercializar o title sponsor de suas competições? 
Quando se tratar de confederações/ligas com boa saúde financeira, tendo a responder que "não deveriam", pois, além de dar margem a ataques contra a credibilidade do campeonato,  o title sponsor desvaloriza as propriedades patrocináveis dos clubes, vide a desproporção no volume de exposição. Ressalto que a Premier League, desde a temporada 2016-17, não tem patrocinador intitulando seu campeonato, mesmo diante de propostas milionárias para tal.
Responsabilizar os gestores de marcas e das confederações/ligas pelos possíveis conflitos de interesse não me parece o mais adequado.  No meu modo de ver, esses problemas poderiam ser mitigados através da adoção de um código de conduta que seja elaborado sob as óticas de compliance, planejamento estratégico e marketing.
Por fim, cabe esclarecer que a coincidência de patrocínios não se dá exclusivamente no Brasil.







 

terça-feira, 26 de agosto de 2025

Maturidade do LinkedIn?

No segmento de bens de consumo é bastante comum e perceptível o conceito conhecido no marketing como “ciclo de vida do produto”, o qual descreve as fases que um bem percorre durante a sua existência: introdução, crescimento, maturidade e declínio.
Para exemplificar o processo, podemos citar o caso do Bombril, palha de aço usada para a limpeza, cujo crescimento se deu fortemente nas décadas de 80 e 90. No período de maturidade, tornou-se sinônimo de categoria e as vendas tornaram-se estáveis, até que a fase de declínio chegou em função da proliferação de utensílios antiaderentes e de produtos de limpeza multiuso, que impactaram a sua demanda.
Havia algo a fazer para evitar tal desenlace? Talvez! 
A existência do tal “ciclo” não significa que o fim certamente chegará, vide as recuperações de produtos como Danoninho, Omo Líquido e o emblemático case das Havaianas, entre outros, que conseguiram reverter o declínio.
As redes sociais também expressam bem o citado processo. Grande parte delas surge focada em nichos, vai crescendo organicamente atingindo outros públicos, passa a atrair geradores de conteúdo e anunciantes até se tornar uma plataforma de dimensão universal. A maturidade acontece com a estabilização da base de inscritos, da monetização intensa e da adoção de algoritmos que priorizam a geração de receitas.
Essa mudança de algoritmos, associada à saturação de anúncios e ao surgimento de novas redes concorrentes fatalmente contribuem para o início do declínio.
A título de ilustração, lembremos que o Orkut foi substituído pelo Facebook que, voltado ao público das universidades em seu início, cresceu globalmente entre 2006 e 2012, porém, a partir de 2019, sofreu com o envelhecimento da base e da preeminência em publicidade. 
O Instagram, cuja origem data de 2010 e foco inicial em fotógrafos, cresceu bastante graças ao advento de filtros, stories, reels e e-commerce, mas tem sofrido com a saturação que redunda na queda do engajamento orgânico e na concorrência do TikTok.
Nessa relação, poderíamos incluir o Twitter/X e até mesmo o Snapchat, mas para não nos estendermos, vamos passar para o LinkedIn.
Criado no início dos anos 2000, a plataforma arregimentou um milhão de membros no seu primeiro ano. A expectativa de crescimento veio se concretizando até que em 2011, ao alcançar 100 milhões de inscritos, abriu seu capital. Em 2016, a Microsoft o adquiriu por US$ 26,2 bilhões, o que contribuiu para um crescimento ainda maior: 500 milhões em 2017 e 1 bilhão em 2024. 
Mas em que fase do ciclo o LinkedIn se encontra?
Bem, não é difícil constatar que nesse período a plataforma já teve várias "utilidades": “buscador de emprego”, rede de conteúdos, fonte de recrutamento, marketing B2B...
Será que a maturidade chegou?
Em relação ao público, diria que não, vide o seu crescimento entre os zoomers, que buscam na plataforma a construção de sua primeira rede de contatos profissionais e a oportunidade de tomar ciência sobre o mercado de trabalho. Por outro lado, o ambiente mudou muito em relação aos primórdios, e para pior.
A autopromoção excessiva de grande parte dos usuários e os conteúdos superficiais, muitos deles até gerados por inteligência artificial saturaram a rede com posts irrelevantes, que só contribuem para a queda do alcance orgânico e para desvirtuar o conceito original em prol do “eu me amo”.
Vaticinar que a plataforma já entrou na fase de declínio seria exagerado, até porque ainda não surgiram concorrentes fortes que favorecessem o êxodo, mas, certamente, a maturidade chegou e o mais curioso: tendo como causa a imaturidade de certos usuários que, em busca da auto exaltação, deformaram o conceito da rede através de suas excessivas fotos em eventos, das frequentes mensagens comunicando estarem honrados com algo, dos inúmeros agradecimentos piegas, das incontáveis polêmicas de cunho político e dos demais conteúdos sem conteúdo.
Será que há como reverter?





terça-feira, 19 de agosto de 2025

Meu antecessor é...

Por mais que os processos de recrutamento e seleção sejam aprimorados, a perfeição sempre estará longe, visto a quantidade de variáveis envolvidas nesse tipo de avaliação.
Nem me refiro aqui aos hard skills, as habilidades técnicas, pois essas podem ser adquiridas com estudos, treinamentos e experiência. Meu ponto de preocupação está relacionado aos soft skills, à parte comportamental.
Uma situação bastante interessante e corriqueira acontece quando há a substituição de líderes e os que assumem adotam como discurso a crítica aos antecessores.
Insegurança, mesquinharia, burrice ou simplesmente falta de caráter estão entre as causas dessa postura, não descartando aqui o mix delas.
Óbvio que existe a possibilidade de a gestão anterior ter falhas, aliás, é certo que elas existem, assim como as próximas também terão. Além do que, gestão não é uma ciência exata e, como tal, permite visões diferentes, fazendo com que o conceito do que é certo ou errado seja relativo.
O que não se admite discussão é quanto à postura de criticar publicamente os antecessores, por mais que esses tenham performado mal. Por sinal, performance pode ser outro conceito relativo, visto sofrer a influência da conjuntura do momento, da situação herdada e das metas objetivadas.
Reforço aqui que me refiro às críticas públicas de cunho pejorativo, já as que são feitas internamente tanto para si próprio quanto para as pessoas que compõem o círculo de confiança são bem-vindas, pois ajudam a reforçar as convicções e as linhas de atuação.
Abro aqui, mesmo contrariado, uma exceção à política, já que as críticas aos adversários se tornaram plataformas de campanha e armas de defesa.
Meu foco no artigo são os gestores de empresas e de organizações envolvidos num ecossistema, onde stakeholders como fornecedores e clientes estão a todo momento avaliando seus parceiros, principalmente com o advento das redes sociais, onde a exposição chega a níveis alarmantes.
Como justificativas para essas infelizes declarações, as de que o cargo subiu à cabeça e que é difícil resistir à tentação dos holofotes são umas das mais exaltadas. Elas, talvez, até possam fazer algum sentido a título de explicação, mas não justificam, afinal, se tais situações são capazes de influenciar a postura de um líder, esse, definitivamente, não é um líder.
Será que em sã consciência tais sujeitos acreditam que, agindo dessa forma, conseguirão a admiração da equipe ou mesmo acordos comerciais nos quais os parceiros focarão negociações justas e de longo prazo? O pior é que acreditam que sim, tamanha a miopia e o despreparo, só lamento informar – ou não – que estão redondamente enganados.
Para finalizar, fica a reflexão: como alguém pode escolher figuras dessa estirpe para liderar algo?






terça-feira, 12 de agosto de 2025

Os novos donos

A quantidade de casos de jogadores de futebol adquirindo participação em times da modalidade começa a atingir índices dignos de observação. Nesse movimento podemos citar: David Beckham (Inter Miami), Zlatan Ibrahimovic (Hammarby, clube sueco), Mbappé (SM Caen, da segunda divisão francesa), Kanté (Royal Excelsior Virton, da terceira divisão belga), Fabregas e Henry (Como da Itália) e Piqué (FC Andorra), entre outros.
Não vamos aqui entrar no mérito da participação acionária deles, pois, entendemos que tão ou mais importante do que isso, é a governança a ser implantada.
Mas o que será que leva ex-jogadores a investirem em clubes de futebol?
A resposta para essa indagação passa inicialmente pelo fato de a carreira de jogador ser relativamente curta, além de facultar para alguns a oportunidade de amealhar uma boa reserva financeira. Esse cenário propicia a possibilidade de se aplicar tais recursos numa atividade que, em tese, dominam, unindo-a com o “prazer” de poder continuar no ambiente que lhes proporcionou sucesso. 
Não são raros os casos de ex-jogadores que, após a aposentadoria, tentam carreiras que lhes permitam se manter, digamos, atuantes. Parte assume cargos em comissões técnicas, parte vira empresário, enquanto outra vai para a imprensa comentar sobre o esporte. Já o número de jogadores que se tornam gestores não é tão grande e o de proprietários de equipes é ainda menor.
Aqui me vejo na obrigação de explicar a razão pela qual utilizei o “em tese” quando me referi ao domínio da atividade. Meu ponto é que não basta ter vivido em uma função para se tornar apto acerca de tudo o que ela envolve, isto é, o fato de ter sido um bom jogador, não transfere automaticamente a capacidade de gerir um clube, da mesma forma que um bom gestor não vai se tornar um bom jogador pelo fato de ter experiência gerindo times de futebol.
Embora tenha citado o futebol, o movimento de ex-atletas que adquirirem participações em equipes ocorre em outras modalidades, como ilustra a aquisição do Charlotte Hornets pelo Michael Jordan em 2010 (vendeu em 2023) e da tenista Serena Williams, que se tornou sócia do Toronto Tempo da WNBA.
A discussão que se faz urgente é sobre a importância em se ter uma boa gestão numa atividade que, apesar de não ser nova, passa por um processo de mudança nos controles acionários e faz com que o desempenho esportivo - cobrado pelos torcedores - fique cada vez mais dependente dos resultados financeiros, os quais, por sua vez, são cobrados por acionistas como forma de renumerar os investimentos alocados.
Na verdade, o mesmo questionamento sobre a capacidade de um ex-atleta gerir um clube, ou mesmo uma confederação, se estende aos neófitos na atividade que acabam entrando nesse mercado por variadas razões, entre as quais, o provável conhecimento esportivo e/ou "popularidade".
Muitas vezes, parecem ignorar que ter conhecimentos sólidos de administração, finanças, planejamento estratégico, recursos humanos e marketing é fundamental, assim como, evidentemente, da parte esportiva. 
Dessa forma, tendo a concluir que um dos grandes desafios da gestão esportiva é estabelecer uma governança capaz de determinar responsabilidades e objetivos para as organizações que atuam numa indústria com características bastante peculiares e pouca similaridade com qualquer outra. Cumprindo tal etapa, o processo de formação de equipe fica muito mais assertivo.
Infelizmente não é o que temos visto no Brasil.


terça-feira, 5 de agosto de 2025

Qual o "tamanho" da torcida?


A recente pesquisa realizada pelo O GLOBO/Ipsos-Ipec acerca do perfil e tamanho das torcidas dos clubes brasileiros, apesar de conceitualmente interessante para o esporte, deve ser observada com restrições em função da metodologia utilizada e às interpretações distorcidas que ela pode provocar.
“Você só está criticando porque a torcida do seu time apareceu com uma participação percentual pequena”!
Certamente tal frase passará pela cabeça de alguns leitores, mas posso garantir que a quantidade em si pouco me importa, afinal, quantos provedores de conteúdo possuem milhares de seguidores, sem que isso caracterize qualidade? Quantos países têm populações gigantescas e nem por isso atraem imigrantes, turistas, tampouco são desenvolvidos em termos econômicos, esportivos e educacionais? Pois é...
“E a maior atratividade para se obter patrocinadores por parte dos clubes com, supostamente, mais torcedores, não conta”?
Boa provocação, porém, tal réplica só reforça o meu receio quanto às interpretações equivocadas.
Primeiramente, é preciso entender que a pesquisa apresentada busca  estimar o "market share" de torcedores, entretanto, vale salientar que quantidade de pessoas não necessariamente está correlacionada a consumo, já que esse é sensível à capacidade financeira e à oferta de produtos/serviços que gerem demanda. Portanto, diante do que foi divulgado, fica claro que a pesquisa em referência não permite que se infira o potencial de consumo.
Há ainda dois grandes pontos que fragilizam o material:
1 - O tamanho da amostra utilizada é insuficiente para pesquisas que contemplem uma grande quantidade de clubes/opções, fato que se agrava em função da complexidade de se estratificar geograficamente amostras representativas em um país como o Brasil.
No caso das quatro maiores torcidas, esse problema é até mitigado, pois a amostra obtida consegue oferecer significância para algumas análises segmentadas. Todavia, no caso dos demais isso se torna impossível.
Peguemos, por exemplo, o caso do Fluminense - quarto colocado na Copa do Mundo de Clubes e melhor time entre todos das Américas na competição -, que aparece com 0,9% do total de 2.000 entrevistados, o equivalente a 18 torcedores, quantidade que deixa irrelevante qualquer observação sobre o perfil de sua torcida.
Dessa forma, não há como se concluir que seus fãs têm mais ou menos chances de consumir dado produto/serviço do que os de outros times. 
2Por mais que a pesquisa tenha tentado de alguma maneira segmentar o torcedor por, digamos, níveis de fanatismo, essa classificação considerou prioritariamente a autoanálise do respondente, ou seja, bastava o entrevistado dizer o quão fanático era numa escala de 1 a 10 para se categorizar.
No estudo encontramos torcedores se intitulando como fanáticos na escala máxima, mas ao serem questionados sobre os hábitos em relação ao time não passam de meros “simpatizantes”.
A propósito, até a categoria "simpatizantes" pode ser questionada, visto que o "share of mind" (participação na lembrança) e modismos podem interferir na resposta.
Talvez a "categorização" ficasse mais fidedigna se fosse aplicado um pequeno pré-questionário sobre hábitos e até conhecimento a respeito do time. Lembro que em pesquisas de mercado, a classificação socioeconômica de cada respondente costuma se dar tendo como base perguntas filtro que, dependendo do critério, contemplam indagações sobre posse de alguns bens, renda, nível de escolaridade e ocupação, entre outras.
Reafirmo, no entanto, que uma amostra mais robusta é imperioso para que pesquisas possam vir a embasar projetos relacionados ao marketing. 
Além disso, o cruzamento com dados secundários, tais como receitas advindas de sócio torcedor, presença de público, seguidores e assinaturas de pay-per-view, mesmo enviesados por questões relacionadas à capacidade financeira, contribuem para a análise, principalmente quando se busca a estimativa de consumo.
Qualquer coisa diferente disso será mero casuísmo ou um provedor de infantis argumentos para zoações em grupos de WhatsApp e/ou mesas de bar.









terça-feira, 29 de julho de 2025

A geração Z no mercado corporativo

As análises sobre o comportamento da Geração Z (nascidos entre 1997 e 2010) têm trazido números curiosos sob os mais diversos prismas, os quais, certamente, inspirariam artigos bem interessantes, porém, dessa vez, vamos focar a participação deles no mercado de trabalho, cuja entrada se deu justamente no período da pandemia.
Uma pesquisa da Resume Genius, plataforma de criação de currículos, divulgou que 60% dos empregadores já tinham demitido colaboradores dessa geração.
A explicação para tão expressivo percentual pode estar relacionada a três causas:
i - Desmotivação - a qual se deve ao fato de os zoomers terem presenciado quadros de demissão e cortes salariais de seus pais e pessoas próximas mais velhas no período da pandemia. Muito provavelmente a percepção de “instabilidade” os deixaram pouco “entusiasmados” com a carreira corporativa.
Essa explicação ganha mais força ao vermos as gerações anteriores se encantarem com o mundo corporativo graças ao que testemunhou através de seus pais.
ii - Comunicação - aqui as redes sociais têm estreita contribuição com essa linguagem diferente do, por ora, convencional.
Siglas para dar agilidade às conversas, gírias incorporadas ao vocabulário, principalmente o escrito, dificultam os diálogos e causam mal entendidos, que dão margem a avaliações errôneas acerca do interesse desses colaboradores.
Além do que, no período em que a geração Z entrou no mercado, as reuniões presenciais não existiam em função da pandemia, porém, o convívio diário voltou, ainda que muitas vezes em proporções menores.
iii - Bem-estar pessoal - o que significa valorizar a vida, além do trabalho. Esse anseio é extremamente legítimo, que se registre, o problema é que ele se perde ao não possuir uma gradação que estabeleça a relação de equilíbrio adequada. 
É bem provável que as gerações anteriores tenham falhado nesse balanceamento em prol do trabalho. Por outro lado, a geração Z parece dar mostras do contrário.
Talvez o advento do home office tenha acostumado mal, principalmente aqueles sem uma experiência prévia e duradoura no presencial. Casos de pedidos de demissão por terem que comparecer no escritório, ou mesmo de recusar um emprego em função dessa exigência não são raros, daí a tentação de considerar esse comportamento como fruto de uma personalidade preguiçosa, o que pode não ser justo. Afinal, por mais que eu particularmente goste e veja muitas vantagens no trabalho presencial, seria leviano não reconhecer que o home office pode ser mais produtivo em alguns aspectos.
Cabe também aos “antigos”, um olhar mais condescendente em relação à nova geração e refletir sobre os paradigmas já cristalizados, já a geração Z precisa entender que estão entrando em um sistema maduro e que para as mudanças acontecerem é necessário inicialmente se adequar ao padrão estabelecido, para, então, se conquistar a confiança e voz para que as sugestões de mudança sejam bem-vindas.





terça-feira, 22 de julho de 2025

Janela de Overton no marketing


Mais conhecido no ambiente político, a janela de Overton, que tem esse nome derivado de seu criador, Joseph P. Overton - ex-vice-presidente do Centro de Políticas Públicas de Mackinac no Michigan - é um conceito que classifica ideias e iniciativas perante à opinião pública em determinado momento. Dessa forma, analisa e organiza as “posições” numa escala que vai do aceitável ao impensável passando pelo sensato, popular e a política vigente.
Vale, no entanto, ressaltar que o dinamismo da sociedade faz com que ideias consideradas radicais e impensáveis no passado se tornem aceitáveis, sendo a recíproca verdadeira, visto o processo evolutivo no que tange às mudanças sociais, culturais e políticas, as quais recebem forte influência de eventos como protestos, crises, mídia, comunicação e ativismo de grupos.
A proibição do casamento gay e os assédios sexuais e morais são alguns exemplos de situações que passaram do aceitável para o impensável e referenda a utilidade de acompanhar atitudes e políticas públicas sob a ótica da Janela de Overton, principalmente por pessoas públicas que busquem a aceitação popular.
Apesar de voltada ao ramo da ciência política, a janela de Overton tem bastante serventia para o marketing, pois, ainda que empiricamente, é recomendável que as marcas elaborem suas estratégias dentro dessa janela - algumas vezes até ampliando-as gradualmente -, de forma que produtos e serviços sejam desejados pelo seu público-alvo.
Para ilustrar essa argumentação, citaremos a seguir algumas situações sobre produtos ocorridas no mercado.
Na década 90, o veganismo era algo voltado a nichos, uma alimentação alternativa com pouquíssimos consumidores, os quais, inclusive, eram tidos como hippies ou coisas do gênero. Campanhas educacionais, ativismo e o aumento da consciência ambiental mudaram o quadro, a ponto de vermos grandes marcas como a Burger King disponibilizando produtos dessa categoria em seu cardápio.
Nos séculos XVII e XVIII, o café, devido ao seu efeito estimulante, era considerado em alguns países como uma “bebida do diabo”, de tal forma que no Império Otomano e na Inglaterra seu consumo chegou a ser proibido. Hoje é a segunda bebida mais consumida do mundo, ficando atrás apenas da água.
O próprio sushi, que fora da Ásia era tido como um alimento insalubre, nos dias atuais é considerado uma iguaria sofisticada.
Há muitos mais casos de produtos que ilustram o conceito da janela, tais como o chá e o azeite de oliva. 
Em termos de marcas, o fenômeno também ocorre. A Natura, que em seu início era vista como uma marca alternativa com produtos demasiadamente naturais e rejeitada por alguns, atualmente é reconhecida como uma marca global comprometida com a sustentabilidade e o desenvolvimento da Amazônia.
A Ben & Jerry’s, associada ao combate ao racismo, à comunidade LGBTQIA+ e às causas ambientais, também chegou a sofrer boicotes que, de alguma forma, trouxeram reflexos comerciais.
Não faltam exemplos, embora reconheça que no campo político, pelo fato de a decisão envolver muitos fatores intangíveis e a pressão das “manadas” interferir mais fortemente nas escolhas, o conceito da Janela de Overton é bem mais preponderante, todavia, vale, pelo menos a título de exercício, aplicá-lo ao marketing.