terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Vai acontecer!

Escrever um artigo para ser publicado no último dia do ano não tem sido uma tarefa das mais fáceis. Embora haja sempre a possibilidade de simplesmente ignorar a data e seguir normalmente, a opção de adotar uma linha temática combina mais com a proposta do blog: discorrer sobre marketing e, quando possível, praticar marketing que, entre outras conceituações, recomenda a adoção de calendários promocionais como fator de atratividade.
Depois de muito refletir, veio à cabeça que a mídia nessa época, além de exibir retrospectivas, costuma dar espaço a videntes, profetas, ou seja, lá o nome que se queira dar aos que dizem ter a capacidade de prever o futuro. 
Aliás, se antecipar aos acontecimentos acaba se tornando um objetivo não apenas dos curiosos, mas também de pessoas em diversos setores da sociedade. Atletas tentam adivinhar a jogada do adversário, investidores tentam estimar a variação do preço das ações, executivos de marketing tentam prever o comportamento do consumidor e por aí vai.
Tratam-se de exercícios fundamentais para a elaboração de planejamentos, sendo necessário se calcar em séries históricas, pesquisas e toda sorte de indicadores. Erros, dependendo da magnitude podem redundar em enormes prejuízos, os quais, dificilmente passam impunes.
Voltando às atrações de final de ano, certamente, veremos uma série de previsões sendo feitas, todavia, o que causa maior perplexidade é saber que essas terão espaço na mídia ao cravarem acontecimentos vagos do tipo: “uma grande personalidade irá nos deixar”, “haverá uma catástrofe climática”, “dois países entrarão em conflito” e demais coisas do gênero.
Qual a graça?
Retrocederemos agora para o dia 7 de julho do presente ano, data em que o Fluminense jogou sua 15ª partida no campeonato brasileiro, tendo na ocasião um aproveitamento de apenas 15,6%. Situação extremamente complicada, embora houvesse tempo para se recuperar, visto faltarem ainda 69 pontos para serem disputados. Somado a isso, o clube possui um histórico de reação no qual se destaca a campanha de 2009, quando, faltando apenas 11 rodadas, apresentava 98% de chances de ser rebaixado e escapou. 
Como era de se esperar, previsões sombrias e pessimistas foram feitas, ainda que muitas dessas ignorassem os mais básicos conceitos de probabilidade e estatística, chegando ao ponto de um desses “jornalistas-torcedores” afirmar que o Fluminense já tinha caído, não tinha mais chances. O “sábio” nem tentou colocar a previsão como algo muito provável, foi definitivo!
Pois bem, cinco meses se passaram e o Fluminense não caiu. 
Creio não haver grande diferença entre as tradicionais previsões realizadas ao fim dos anos e a desses torcedores, digo, jornalistas com transtorno de ansiedade, no que tange ao objetivo das afirmações: popularidade, engajamento e pouca valorização da própria credibilidade. 
A dúvida que paira diz respeito aos veículos que dão espaço e muitas vezes emprego para esses “profetas”. Será que a audiência é mais importante do que a confiabilidade? Será que o público-alvo que estão buscando é o mesmo das marcas que poderiam ser anunciantes? Será que os questionamentos anteriores fazem parte do planejamento ou simplesmente só se importam com os índices quantitativos de audiência? Mais grave do que isso tudo: será que não se atentam para o risco de estarem construindo um posicionamento baseado em conteúdo sem a devida veracidade?
Apesar de haver fortes indícios que apontem para uma preferência a favor da audiência quantitativa em detrimento da verdade por parte dos veículos que dão espaço a “profetas”, o blog não será definitivo nas conclusões referentes às indagações acima, preferindo acrescentar a palavra “provavelmente”, em nome da credibilidade que defende e o posiciona.
Feliz 2025!





terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Papai Noel e o marketing

Vocês sabiam que até meados do século XIX, o Papai Noel era representado com roupas na cor verde ou marrom?
Antes de falarmos da mudança no visual, é interessante narrar que a história do Papai Noel teve sua inspiração no bispo Nicolau, nascido na Turquia em 280 d.C., e que costumava ajudar os menos favorecidos com sacos de moedas que eram colocados junto às chaminés das casas.
E como se deu a mudança para o vermelho?
No mundo das fake news, habita a “lenda” de que se trata de uma invenção da Coca-Cola, fato narrado inclusive por alguns “especialistas em marketing”, mas que a própria empresa desmente, afirmando que o “bom velhinho” já usava as cores antes de a empresa adotá-lo como personagem em suas campanhas, o que não significa dizer que a marca não contribuiu para o processo de construção, ao difundir a versão conhecida hoje mundialmente.
Consta que já no final do século XIX alguns ilustradores, como Thomas Nast, passaram a usar cores mais vivas para retratar nosso personagem, daí a inclusão do vermelho.
Deixando o lado histórico de lado, passemos para o marketing. Sim, daqui também podemos tirar lições bastante úteis, entre elas, a da já citada Coca-Cola que, além de criar campanhas que associam a marca a um período de paz, alegria e confraternização – valores almejados por todos -, conseguiu aumentar o consumo da bebida no inverno no hemisfério norte.
Aliás, esse é um dos grandes desafios do marketing: fazer com que produtos tradicionalmente sazonais passem a ser demandados também fora das estações que os caracterizam.
Nessa linha, podemos citar também o sorvete, que deixou de ser posicionado como um produto “refrescante” para entrar nas opções de sobremesa e até de alimentos de forma geral.
Vinhos e cafés, associados ao frio, já estão incorporados ao cotidiano independentemente da temperatura, assim como roupas que, graças aos tecidos utilizados invadem estações.
Evidentemente, a tecnologia tem sua participação em alguns desses processos, ao fazer, por exemplo, com que frutas chamadas de época possam ser encontradas o ano todo e sem alterações significativas de preços.
Não podemos também desprezar a globalização como fator de influência nesse processo, visto estimular a mudança de hábitos na medida em que o acesso à ciência de comportamentos fica mais acessível até para quem está distante.
Todavia, penso que o marketing, que também tem forte relação com a inovação, é o principal responsável por essa fenômeno de dessazonalização. Reparem os ovos de Páscoa, que passaram a ocupar espaço nos estabelecimentos varejistas cada vez mais cedo, assim como as decorações natalinas, o que, consequentemente, influencia seu consumo.
Mas deixo, por ora, o marketing, para desejar a todos os leitores e familiares, um Feliz Natal, independente das cores da roupa do Papai Noel, crenças, ideologias e até times.





terça-feira, 17 de dezembro de 2024

As marcas se valorizam através do esporte?

Recentemente li alguns artigos dando conta que um percentual bastante significativo das marcas consideradas como as mais valiosas, costuma ter o esporte como uma das estratégias para seu fortalecimento.
Notícias alvissareiras!
Minha dúvida sobre o tema versa acerca da efetiva razão para essa opção de investimento, isso no universo nacional. Será que avaliaram a indústria e concluíram sobre sua eficácia? Será que estão seguindo os concorrentes? Ou será que os orçamentos delas são mais “permissivos”? Formulando melhor a pergunta: qual o percentual de participação de cada uma dessas razões, devendo incluir entre as opções de respostas o mix delas. 
Qualquer que seja o resultado da apuração, é certo que a resposta “avaliaram a indústria e concluíram sobre sua eficácia” não terá 100% de participação, o que arranha um pouco a felicidade propiciada pelo levantamento citado no primeiro parágrafo.
Zero surpresa! 
Infelizmente não é grande a quantidade de gestores capazes de entender o retorno que pode se obter através do patrocínio esportivo, preferindo, ou só conseguindo, focar na exposição que a marca passa a ter. Vez por outra, ainda fazem algum tipo de ativação, porém, quase sempre influenciados pelas ideias das agências, as quais, também não se esmeram para entender as necessidades dos clientes no âmbito mercadológico.
E já que falamos sobre “entender as necessidades dos clientes”, são poucas as organizações esportivas que elaboram propostas customizadas aos prospects. O máximo que usualmente fazem é mudar o cabeçalho e a aplicação da marca nas apresentações. Se o cliente quer aumentar a participação de mercado, atingir um público específico ou simplesmente popularizar a marca, pouco importa, o que interessa é vender o patrocínio, embasado pela quantidade de peças onde a marca irá aparecer, número de postagens etc.
Associar a marca aos valores do esporte? Nem pensar, aliás, aqui cabe a pergunta: quantos clubes e/ou confederações no Brasil possuem um posicionamento estruturadamente definido? Aprimorando a pergunta, quantas organizações dão atenção a isso? Continuando, qual a causa dessa, digamos, “desatenção”? 
Vou me abster de quantificar, mas em relação à causa não é difícil concluir que a indústria que envolve o esporte é carente no que tange ao marketing, o que pode ser fruto de falta do conhecimento da disciplina ou do excesso de comodidade, o que leva simplesmente à exploração dos aspectos relacionados à parte comercial e/ou de comunicação.
Mas fiquemos com as boas notícias advindas do levantamento que correlaciona marcas valiosas com investimento no esporte, essa correlação é inquestionável, ainda que o potencial não seja explorado em sua plenitude.







terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Associativo ou SAF?


Ao fim de mais uma temporada do campeonato brasileiro, surge um debate que tem como objeto de discussão o modelo gestão no que tange à competitividade: associativo ou SAF?
Certamente os defensores do modelo SAF vão evocar o campeonato brasileiro e a Copa da Libertadores de 2024 como argumento de convencimento. No lado oposto, a Copa do Brasil e as três citadas competições em 2023 embasarão a defesa pelo modelo associativo.
Já sob o prisma dos rebaixamentos, dos quatro ocorridos na atual temporada, dois times são SAF, mesma quantidade de 2023.
Embora sejam parametrizações interessantes, é preciso considerar que análises que se baseiam em recortes, na maioria das vezes não inspiram muita confiança, visto carecerem de bases históricas robustas, as quais são essenciais para se avaliar a sustentabilidade dos resultados, isto é, entender se há realmente um projeto duradouro ou se não passa de algo ocasional. 
Nesse contexto, um questionamento se faz mandatório: por quanto tempo os investidores das SAFs estarão dispostos a manter a posição acionária até realizarem seus lucros? Ainda que títulos tragam reflexos nas receitas, 20% dessas, em razão do regime centralizado de execuções (RCE), devem ser direcionadas à justiça para o pagamento das dívidas cíveis e trabalhistas, sendo que muitos juízes excluem do montante as advindas das vendas de jogadores e premiações. Preciso ser mais explícito?
Pelo outro lado, é preciso ver até quando os clubes “associativos” conseguirão rolar suas dívidas sem prejuízo das respectivas competitividades e operações. Há consideráveis casos de times que, numa espécie de all in, foram sendo geridos irresponsavelmente, até não conseguirem mais suportar o endividamento, culminando na conclusão de que o modelo de SAF era a única solução que restava.
A alegação de que as SAFs apresentam uma melhor governança pode até fazer sentido, mas não é regra, vide os escândalos que aparecem frequentemente no mundo corporativo, inclusive em empresas listadas na Bolsa e com fortes iniciativas de compliance. Claro que, no caso dos clubes “associativos”, o modelo de gestão costuma ser retrógrado em grande parte deles, o que torna maior o risco de desvios de conduta.
Mas voltando nossa análise para o prisma de desempenho esportivo, veremos que, desde que se iniciou o formato de pontos corridos em 2003, apenas três clubes nunca foram rebaixados - Fluminense, São Paulo e Flamengo -, todos sob o modelo associativo. Tal condição, aparentemente favorável a esse tipo de governança, também não significa que esta seja a melhor alternativa, até porque, em grande parte das vezes, a transformação para SAF acaba sendo consequência de algum rebaixamento, cujo impacto nas finanças é invariavelmente maléfico.
Dessa forma, reitero que, embora não seja um fã incondicional do atual modelo de SAF, penso ser ele fundamental para clubes que chegaram a um elevado nível de endividamento, só chamo a atenção de que esse tipo de processo requer estudos muito minuciosos, alinhamentos de expectativas e contratos que resguardem as organizações de “aventureiros”.
Mesmo não sendo impossível encontrar investidores que originariamente torçam para os times que aportam, vide os principais clubes mineiros, essa não é uma situação usual, o que aumenta o risco da continuidade dos projetos de performance esportiva, já que o objetivo da gestão de médio e longo prazo passa a ser voltado intensamente aos indicadores financeiros e remuneração dos investidores, situação que se agrava nos casos de grupos econômicos que detenham a participação em mais de um clube - multi-club ownership -, os quais precisam estabelecer prioridades para a alocação de recursos.
Quanto à pergunta em relação ao modelo mais competitivo, não vou me eximir de responder: partindo da premissa que se tenha a devida estabilidade financeira, aquele que for gerido por quem realmente conhece futebol e, evidentemente, gestão, terá uma sequência mais duradoura de bons resultados, independentemente de ser SAF ou não.






terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Você conhece a TYR?

A edição 2024 do campeonato mundial do ironman em Kona nos brindou com mais uma quebra de recorde através do alemão Patrick Lange, que completou a prova em 7:35:53, baixando em quase cinco minutos o antigo recorde.Vale também relatar que em 1987, Dave Scott, hexa campeão da prova e uma das maiores, se não a maior referência nela, venceu com o tempo de 8:34:13, ou seja, quase uma hora mais lento.
Questionar o limite da superação seria um tema interessante para ser desenvolvido, no entanto, fugiria da proposta do blog. Vamos usar o evento para falar de um assunto que guarda relação com o marketing, a marca do tênis utilizado pelo terceiro colocado, Rudy Von Berg: TYR.
Talvez muitos dos leitores aqui nunca tenham ouvido falar da marca, que foi fundada em 1985 por Joseph DiLorenzo e Steve Furniss, esse um ex-nadador olímpico dos EUA, daí o seu começo voltado à produção de trajes de alta qualidade para atletas de natação. Nos anos 90, a empresa iniciou um processo de diversificação, acrescentando ao portfólio itens como óculos de natação, toucas e acessórios de treinamento, sem deixar de focar o aprimoramento dos trajes, o que tem sido uma constante ao longo de sua existência.
Nos anos 2000, passou a oferecer também roupas de neoprene, para utilização na etapa de natação das provas de triathlon.
Como parte da estratégia de crescimento, patrocina atletas, provas, confederações, além de estar fortemente presente digitalmente, reforçando sempre seu posicionamento voltado à qualidade dos seus produtos. 
Feita a resumida apresentação sobre a marca, vamos ao ponto que considero interessante discutir: quais as chances de a marca ter sucesso no segmento running? Trazendo para o jargão de marketing, quais as chances de sucesso nesse processo de extensão de marca? Guardadas as devidas proporções, imaginemos a Coca-Cola desenvolvendo um biscoito.
Ainda que possa haver a argumentação de que se trata de um produto para o triathlon, esporte em que a TYR já está presente, é usual que a escolha do calçado tenha como referência o desempenho de corredores.
A possibilidade de “encampar” um discurso que defenda a tese de ser o melhor tênis para o triathlon – e não para a corrida -, até poderia ser adotado,  porém, as vendas ficariam restritas a calçados de competições, o que traria como consequência uma reposição mais lenta, visto se competir menos do que se treina.
Esse processo de extensão de marcas quando não envolve aspectos muito relacionados à performance, como é o caso de vestuário, costuma até lograr êxito e contribui para a maior exposição e associação.
Minha provocação aqui está voltada ao caso da TYR, lembrando que a adidas, por exemplo,  tem óculos de natação em seu portfólio, contudo, a marca está longe de ser uma referência nessa modalidade.
Nessas situações de tentativa de se entrar em um novo mercado, muitas marcas optam por adquirir alguma outra que já esteja consolidada naquele setor, vide a compra da TaylorMade – especializada em golfe – pela adidas, que tempos depois a vendeu. Aliás, mesmo no segmento de bens de consumo, essa é uma estratégia bem utilizada, reparem que a Coca-Cola preferiu comprar a marca Minute Maid para atuar na categoria de sucos do que batizar algum produto da categoria com seu nome.
Claro que há casos de sucesso, mesmo utilizando uma solução diferente, vide a Nestlé que dá nome a várias categorias.
Definir a melhor estratégia exige detalhados estudos.
No caso da TYR, o desafio promete ser mais árduo do que o próprio Ironman citado no início,  pois, ainda que tenha seu comércio eletrônico e esteja presente em alguns market places que não demandam capital de giro para definição do mix, a entrada no varejo físico requer condições especiais para convencer o comprador, o que, no caso de uma marca premium deixa as coisas ainda mais difíceis, visto que a opção de precificar agressivamente conflita com o posicionamento. 




terça-feira, 26 de novembro de 2024

Qual campeonato é o mais equilibrado?

Muito se discute sobre o grau de competitividade dos campeonatos de futebol, onde as conclusões, na maioria das vezes, costumam se dar pela quantificação de equipes que foram campeãs em dado espaço de tempo.
Como qualquer critério de avaliação, esse apresenta falhas, pois, o fato de haver poucos campeões, por exemplo, pode ocultar que dezenove equipes chegaram quase que empatadas na 2ª colocação.
No intuito de tentar identificar o tal “grau de competitividade”, a Jambo Sport Business desenvolveu uma análise comparativa, segundo alguns critérios tanto estatísticos quanto esportivos propriamente ditos entre as cinco principais ligas de futebol do mundo (Premier League - Inglaterra, La Liga - Espanha, Serie A - Itália, Bundesliga - Alemanha e Ligue 1- França), e o campeonato brasileiro ao longo de dez anos.
Inicialmente deve ficar claro que escolher um único critério deixaria a análise comprometida, visto ser impossível contemplar todas as variáveis importantes em um único índice, daí a opção por se usar vários, visando extrair através de alguma recorrência, algum indício de conclusão sobre o tema.
Foram utilizados como parâmetros ligados ao desempenho esportivo os seguintes índices: diferença de pontuação entre o primeiro e o último colocado, quantidade de equipes que chegaram na primeira, segunda e terceira posições, número de times que jogaram a divisão principal, assim como o tempo de permanência nela.
Baseado no mercado de bens de consumo, onde o grau de competividade recebe a denominação de “concentração” e tem como balizador a participação de mercado das marcas, o estudo replica o mesmo raciocínio. Para isso, estimou a participação de mercado de cada equipe, dividindo suas pontuações pelo total daquele campeonato em cada temporada. Cumpre, no entanto, alertar que tal “manobra” apresenta falhas conceituais, pois, mesmo que um time ganhe todas as partidas que disputar, a “participação” de mercado jamais será 100%, que é o que aconteceria em qualquer mercado.
Tal falha, embora gritante, pode ser minimizada pelo fato de o estudo ter um cunho meramente comparativo.
Daí, a partir da citada conversão, foram utilizados quatro modelos de avaliação de concentração: O CR4, o IHH, o desvio padrão e o índice de Joly, sobre os quais não discorreremos aqui, mas cuja descrição está no estudo, que também traz quadros comparativos dos citados campeonatos sob todos esses parâmetros.
O que podemos adiantar no presente artigo é que o nosso Brasileirão parece, de fato, ser o campeonato mais equilibrado, quando comparado com os demais analisados
Importante também ressaltar que, embora o modelo norte-americano de procurar sempre o equilíbrio como atributo de atratividade, o fato de haver competitividade não significa necessariamente que haja atratividade. Explico: ainda que o imponderável seja um componente de suma importância para o esporte, isso pouco agrega num cenário em que os participantes tenham pouca qualidade, ou seja, além do aspecto “emoção” é necessário ter lances plásticos e geniais. Modo contínuo, para se ter qualidade, é necessário ter dinheiro para investir na atração e retenção de bons jogadores, todavia, a existência de poucos times “bons” certamente trará reflexos na atratividade, a qual, por sua vez, é fundamental para se auferir receitas.
Tão difícil quanto a escolha dos critérios de avaliação para se medir o grau de concentração – objeto do estudo -, é encontrar uma solução no sentido de aumentar a qualidade da competição, sem prejuízo do equilíbrio, mesmo porque, a própria conjuntura econômica do país tem sua influência nesse processo.






terça-feira, 19 de novembro de 2024

Oportuna mente

Fazer de algo imprevisto uma solução de sucesso, não é das situações mais corriqueiras, tampouco, confortáveis, mas acontece. Vejam o caso da cerveja Coors Light.
Na partida entre o New York Mets e o Los Angeles Angels pela MLB (Major League Baseball), o jogador japonês Shohei Ohtani do time da California, ao rebater uma bola, avariou um telão que trazia uma publicidade da cerveja Coors Light. Numa situação similar, é bem provável que muitos executivos tomassem a iniciativa de consertar a peça o mais rápido possível. A Coors, no entanto, preferiu deixar a peça danificada.
Aproveitando toda a repercussão do “acidente”, utilizou a imagem do painel “quebrado” para ilustrar uma edição especial de latas, de modo a se beneficiar do fato de forma viral. Ainda como parte da campanha, outros painéis da marca apareceram com a “falha original” e slogans foram criados com trocadilhos do tipo “Coors Light Out” – luzes apagadas.
Usualmente, chamamos as ações mercadológicas voltadas às datas comemorativas (Natal, Dia das Mães, Páscoa etc.) de marketing de oportunidade, podendo incluir entre elas eventos, tipo Copa do Mundo, e até situações inesperadas como, por exemplo, essa que foi narrada acima. 
Como as marcas sabem quando serão as datas comemorativos, não é tão complexo elaborar campanhas específicas para elas.
Lançamentos de filmes, como foi o caso do Divertidamente 2, também entram no rol do "marketing de oportunidades”. Nesse caso, até produtos são desenvolvidos, ressalvando que nessa situação também é possível executar e cumprir planejamentos, pois o calendário de lançamento é divulgado com relativa antecedência.
Há ainda aqueles anúncios que trazem como mote alguma competição e mexem com o emocional quando exaltam a vitória ou consolam na derrota. Cabe aqui uma inconfidência: ambas as situações - vitória e derrota - são consideradas na produção, ou seja, na grande maioria das vezes, as peças já estão prontas, ficando à espera do resultado para serem divulgadas.
Particularmente, tendo a achar que as “inesperadas” como foi a da Coors, representam melhor o conceito de oportunidade, exigindo uma ação mais rápida.
Obviamente, o risco desse tipo de iniciativa é maior do que as ações “planejadas”, afinal, o processo criativo requer uma velocidade maior e não há tempo hábil para se testar o conceito da campanha a ser desenvolvida. O risco, no entanto, acaba sendo minimizado em função dos poucos investimentos na campanha, isto é, por não estarem contempladas nos orçamentos originais – como alguém poderia prever uma rebatida que quebrasse o painel? -, não há muita verba disponível e, caso se transforme efetivamente num sucesso, é possível fazer realocações abdicando de outras ações previamente programadas.
No caso da Coors, a iniciativa trouxe reflexos positivos tanto na exposição e engajamento da marca, como no incremento das vendas que, entre os fãs da modalidade, ficaram superiores às da Budweiser, patrocinadora da MLB. Na esteira do sucesso, o painel "quebrado" foi leiloado, a marca ganhou prêmios de publicidade e passou a ser a mais vendida no Japão.
Nada mal, não?







terça-feira, 12 de novembro de 2024

Recrutamento e seleção - case Liverpool

Quando olhamos a indústria do esporte e a parametrizamos com outras já mais consolidadas na economia, nos deparamos com um longo caminho a ser percorrido em termos de gestão, embora já seja perceptível um considerável progresso. Se fizermos um corte em termos de departamento, notaremos também um certo desequilíbrio, ou seja, alguns deles estão mais avançados do que outros.
Aliás, uma das áreas que vejo com bastante potencial de crescimento é a de Recursos Humanos, fato que, evidentemente, traz reflexos nas demais, afinal, selecionar, recrutar, treinar, avaliar, definir política de cargos e salários, entre outras, afeta toda a organização.
Discutir as razões que levam a esse cenário demandaria tempo e um espaço maior, razão pela qual pularemos essa parte e passaremos para a descrição de um case, que deveria servir como benchmarking para muitas organizações, inclusive as que atuam fora do ambiente esportivo. Refiro-me à contratação do técnico que veio substituir o campeoníssimo Jurgen Klopp no Liverpool.
Ao contrário do que o mercado especulava, o time inglês optou por um técnico, digamos, sem muita “grife”: o holandês Arne Slot, que dirigia então o Feyenoord e nunca tinha trabalhado fora do seu país natal, portanto, sem grande popularidade fora de lá.
Trazendo para o universo corporativo, imaginem a Vale trazendo para ser seu CEO, um executivo que nunca tenha liderado nenhuma grande corporação. 
O processo no Liverpool é exemplar porque teve como ponto inicial a definição dos objetivos e do que se queria de um treinador, no caso, manter uma filosofia de jogo similar á de Klopp. A partir daí, baseou-se em dados e métricas que permitissem a identificação dos melhores nomes, até chegarem a Slot.
Quantas empresas têm claramente delineados o que pretende de um executivo quando inicia um processo de contratação?
A análise em termos de números trouxe, entre outras informações, os seguintes dados: o Liverpool costuma ter 94 posses de bola por partida, o Feyenoord tinha 96, quando comandado por Slot. Os adversários do clube inglês completam 77% de seus passes, enquanto os do Feyenoord completavam 74%. O passe médio do Liverpool percorre 17,1 metros, enquanto o do Feyenoord percorre 17,2 metros. O Liverpool leva a bola ao ataque a uma velocidade acima da média de 1,26 metros por segundo, enquanto o Feyenoord vai ainda mais rápido, a 1,33 metros por segundo.
Evidentemente, olhar apenas para os números não é o suficiente, sendo necessário também considerar estilo de liderança, capacidade de resistir à pressão, habilidade no relacionamento, atenção ao desenvolvimento dos mais jovens, visão de logo prazo, além de inúmeras outras variáveis. 
Vale também atentar que, no caso de performance esportiva, a coleta de dados fica mais fácil e disponível. O que quero dizer é que os indicadores corporativos sofrem influência de diversos fatores do mercado, seja a capacidade gerencial da própria empresa, sejam fatores macroeconômicos, além das ações da concorrência, o que torna difícil o exercício de expurgá-los, todavia, o exemplo que o Liverpool nos brinda, serve para mostrar a importância do planejamento e da utilização de métricas para qualquer tipo de decisão.







terça-feira, 5 de novembro de 2024

Bola de ouro, quem merecia?

Premiação da Bola de Ouro. 
A imprensa, sabe-se lá por qual razão, aponta previamente que o brasileiro Vinicius Jr. é o favorito. Algumas horas antes sai a notícia de que o jogador e demais representantes do seu time, o Real Madrid, cancelaram a ida ao evento, o que passa a ser um prenúncio, ou uma quase certeza de que o ganhador seria outro.
De fato, o vencedor foi outro, o espanhol Rodri, fato que provocou uma verdadeira comoção entre os brasileiros. 
Acusações de racismo e de injustiça rechearam as redes sociais.
Fica a dúvida: baseado em quais critérios, pode-se dizer que o Vinícius Jr. foi melhor que o Rodri. E quais os estabelecidos para apontá-lo como pior? Primeiramente é importante ter em mente de que escolhas subjetivas, tal como essa, dão margem a interpretações, as quais, jamais serão unânimes. Outro ponto: acho muito difícil que os "revoltados" tenham assistido a todas as partidas dos dois jogadores, muito menos que tenham o devido embasamento para estarem absolutamente certos.
Já a atitude do Real Madrid foi péssima para o esporte, pois passa um péssimo exemplo de que, não sendo da forma que se objetiva, não há interesse em fazer parte das atividades. 
O juiz nos prejudicou! Quantas vezes ouvimos, e cá entre nós, falamos, após uma derrota do nosso time? Por outro lado, quantas vezes ouvimos ou falamos que vencemos graças à ajuda do árbitro. Certamente a primeira situação ocorre muito mais vezes do que a segunda, se é que essa acontece.
As urnas foram fraudadas! Alguém que tenha o candidato como vencedor de algum pleito político já proferiu essa frase após o sucesso? Já quando perde…
Não fiz um tempo melhor porque o dia estava muito quente! Quem nunca ouviu essa frase de algum amigo após uma competição de corrida ou triathlon, por exemplo?
A verdade é que qualquer coisa que frustre nossas expectativas nos leva num primeiro momento a “terceirizar” a responsabilidade. Faz parte! O problema é ficar com essa percepção durante muito tempo achando que há uma conspiração contra suas predileções.
Voltando à premiação da Bola de Ouro e à especulação sobre racismo, vale lembrar que o Lamine Yamal do Barcelona foi eleito o melhor jogador revelação.
Essa ponderação em nada coloca em dúvida a existência de atos de racismos em inúmeras outras situações, os quais precisam ser punidos de forma dura e exemplar. O alerta que precisa ser feito, diz respeito a um possível exagero, onde suspeitas não confirmadas acabem minimizando a importância da causa. 
Vale também a reflexão acerca do vazamento do resultado, fato que permite divagar se vale a pena ficar insatisfeito com “eleições” cuja proteção da informação é negligenciada.




terça-feira, 29 de outubro de 2024

"Influenziadores"

Entre as inúmeras mudanças que a sociedade vem passando em função da popularidade das redes sociais, há uma que vale aqui ser analisada mais detalhadamente por ter forte relação com o marketing: a utilização dos influenciadores. 
Importantes para as marcas? Se bem escolhidos, sim, pois, conseguem falar com o público objetivado sem a dispersão usual das mídias tradicionais, com uma mensagem mais facilmente assimilada por esse público e, não menos importante, com custos menores. Por mais que alguns influenciadores recebam um valor avaliado como alto pelos que não são remunerados por essa função, tais gastos ficam mais em conta do que o que seria gasto na maioria das mídias que envolvem produção, agência, veiculação, cachê etc.
Mas o que significa “bem escolhidos”? Seria uma seleção de influenciadores cujo processo se baseiea em métricas que avaliem número de seguidores, engajamento e aderência ao perfil de público objetivado. Resposta aparentemente óbvia. 
Faltou esclarecer como conseguir seguidores e engajamento. Então, vamos lá, "há várias possibilidades..."
A resposta acima - "há várias possibilidades" - é um exemplo de como não conseguir seguidores, tampouco engajamento, sabem por quê? Porque não é isso que um seguidor do Instagram, por exemplo, quer ler/ouvir. Ele quer fórmulas infalíveis para o suposto sucesso, linguagem acessível, se sentir íntimo do influenciador, não precisar refletir muito acerca do que ouve e nem ler grandes textos, enfim, ele quer ter uma resposta assertiva e direta sem divagações.
Alto lá, essa descrição pode passar a percepção de que os “seguidores” não possuem grandes qualificações culturais e/ou intelectuais, o que não seria verdade. Esse, aliás, é um dos perigos da generalização.
A ideia da reflexão proposta não é traçar perfis, tampouco julgar quem quer que seja, mas, sim, mostrar o quão ávidas as pessoas estão por soluções infalíveis e por ambientes onde as preocupações e angústias do cotidiano possam ser deixadas de lado por algum tempo ao se distrair com uma espécie de série ou novela estrelada por pessoas "comuns" sempre sorridentes.
Quer dizer então que esses influenciadores são excelentes em marketing? O pior é que a pergunta pode até fazer sentido, afinal, encontrar um público-alvo que se interesse pelo produto que oferta – no caso o próprio influenciador -, manter esse produto atrativo, fazê-lo chegar aos clientes e gerar dinheiro de forma rentável e recorrente tem tudo a ver com marketing. Só não vou afiançar o julgamento, por entender que para ser excelente em marketing é imprescindível estudá-lo, ter experiência e capacidade para aplicá-lo a qualquer produto ou marca, o que não parece ser o caso.
Ilustra a afirmação anterior a conta no Instagram de Philip Kotler, efetivamente uma das maiores, se não a maior, referência em marketing do mundo, cujo perfil tem “apenas” 24 mil seguidores. Ainda que o conteúdo dele ali não tenha o fim de atrair seguidores, provavelmente também não lograria êxito caso usasse esse tipo de plataforma para passar seus conhecimentos. Esse raciocínio coloca por terra a tentativa de correlacionar ser “bom de marketing” com engajamento, ressalvando que não são condições excludentes.
O que quero dizer é que se Kotler fosse usar o Instagram para falar de marketing, ou mesmo um renomado médico o fizesse para falar de medicina, eles provavelmente frustrariam os "poucos" seguidores por não serem definitivos em suas colocações, visto entenderem que “conclusões” carecem de diagnósticos e que soluções "gerais" não costumam existir. 
Vale, por fim, registrar que o artigo, apesar de guardar bastante relação com a geração Z, é extensivo à sociedade de forma geral, visto que os hábitos acabam geralmente sendo integrados entre as gerações que convivem entre si.









terça-feira, 22 de outubro de 2024

O marketing, o socialismo e a preguiça

Que título sem nexo! 
Reconheço, que sim, afinal qual a relação entre as três palavras?
Aparentemente, nenhuma! Mas se indagarmos as pessoas a respeito do que entendem por marketing e por socialismo, as chances de haver um contingente extremamente significativo de explicações erradas são enormes. Aliás, poderíamos incluir nessa lista o capitalismo, o planejamento estratégico e alguns outros, o que não foi feito para não deixar o título ainda mais extenso.
Tá, e daí? As pessoas são obrigadas a saber sobre tudo? Evidentemente que não, o problema se dá quando usam essas palavras e conceitos de forma equivocada como se fossem experts nos assuntos, construindo “verdades” que só servem para a disseminação da ignorância.
Marketing há anos tem sido sinônimo de “propaganda”, de “aparecer” a qualquer custo e até de enganar o consumidor. Percepção que vai desde cidadãos comuns até gestores, pasmem! A propósito, a quantidade de executivos que confundem o marketing com divulgação é assustadora, isso para não dizer, desmotivadora.
E planejamento estratégico? Aqui a falta de entendimento acerca da diferença entre estratégia e tática beira o constrangimento. Particularmente, tive o desprazer de participar de apresentações, nas quais um “CEO” discorreu horas, municiado de avançadas ferramentas audiovisuais, sobre o planejamento estratégico da empresa, quando, na verdade, mostrava um plano de ação - imaginem o que aconteceu com a empresa.
Deixando o lado corporativo e partindo para o socialismo/capitalismo, a situação quanto ao entendimento é ainda pior, pois, através da influência das redes sociais e da ignorância que tem a generalização como aliada, se imputam uma série de questões que nada têm a ver com os respectivos regimes econômicos e políticos. O que deveria se restringir às discussões sobre a propriedade dos meios de produção, distribuição de recursos e organização da sociedade, se perde na inclusão exacerbada das pautas de costumes e dos conceitos utópicos de justiça e de meritocracia. 
Nesse processo generalizam e demonizam o lado oposto, inclusive com adjetivos que não guardam relação com o contexto, como se fosse possível introduzir algum regime de forma totalmente pura, isto é, sem se utilizar de conceitos da outra parte. Excluem da linha de raciocínio o dinamismo e a evolução da sociedade, os quais deixam as devidas teses originais obsoletas, mas, ainda assim, proferem baboseiras defendendo ou atacando alguma das ideologias.
E a preguiça? Bem, ela entra nessa relação por ser a responsável pela perenidade da ignorância daqueles que, em busca da oportunidade de opinar, optam por mostrar desconhecimento, enveredando para o debate sobre costumes, o qual não demanda tanto estudo quanto as teorias econômicas. Além do que, as eventuais interações entre comportamento e economia não são lineares e variam em função dos momentos históricos e das características da sociedade, o que deixa a discussão ainda mais complexa, favorecendo a preguiça.




segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Segundo livro

Dessa vez, excepcionalmente, além da alteração na data de publicação, não abordarei nenhum tema específico de marketing e gestão. Usarei o presente espaço para comunicar que hoje, 14 de Outubro, lanço meu segundo livro: “O marketing é muito mais”.
A ideia de escrever esse livro surgiu após inúmeras solicitações de indicação sobre publicações de marketing, o que me fez avaliar a possibilidade de produzir algo que ajudasse os leitores a pensarem o “marketing” em sua essência.
Claro que a distorção do termo “marketing”, seja por seu uso como adjetivo ou por modismos de momento do mercado digital, também pesou na decisão escrever. Há, na verdade, um certo desconforto de minha parte em constatar que muitas empresas e negócios não se aproveitam dos benefícios que o marketing pode propiciar em termos de resultados, pelo fato de não o adotarem de forma efetiva e correta.
A proposta do livro consiste em aliar os aspectos teóricos e acadêmicos à prática, buscando, sobretudo, esclarecer a importância do marketing para a gestão de qualquer negócio, independentemente de porte e ramo de atividade.
Para isso, os principais conceitos de marketing são aplicados a casos reais do dia a dia, muitos dos quais já abordados aqui no blog, visando provocar reflexões e discussões sobre situações ocorridas no universo de bens de consumo, varejo, esportes, distribuição de combustíveis e telecomunicações, entre outros em que atuei como executivo.
Se haverá um terceiro livro, não tenho como saber, mas, certamente, se Deus quiser, o blog voltará à sua linha editorial normal na próxima semana.
O lançamento de "O marketing é muito mais" ocorre na Livraria da Travessa do Shopping Leblon - Av. Afrânio de Melo Franco, 290 - Loja 205 A - 2o piso - Leblon, Rio de Janeiro a partir das 18h30. 
Será um prazer encontrá-los. Não obstante, o livro estará disponível nas principais livrarias físicas e virtuais.




terça-feira, 8 de outubro de 2024

Como avaliar um líder

Na semana passada, o Fluminense, atual campeão da Libertadores, teve uma vitória importantíssima contra o Cruzeiro pelo campeonato brasileiro de futebol.
Mas fiquem tranquilos, não quero aqui falar de futebol, tampouco ficar exaltando o triunfo, até porque, ganhar de um time que tem como técnico o Fernando Diniz e nas condições atuais, não é tão prazeroso como as demais vitórias sobre rivais e que nos colocam em lutas por títulos.
Prefiro falar sobre liderança, aproveitando as demonstrações de afeto e gratidão por parte dos ex-comandados e demais companheiros de Diniz na ocasião do citado jogo.
Nesse momento me veio à cabeça um vídeo que recebi recentemente mostrando a despedida de um executivo da empresa em que trabalhou durante anos, no qual foi mostrada a comoção e reconhecimento dos colaboradores. Infelizmente não lembro os nomes e detalhes que certamente deixariam o texto mais rico.
Diante dessas duas situações e outras que o espaço não comporta, não tenho dúvidas em afirmar que a melhor forma de se avaliar um profissional se dá através das demonstrações de respeito e admiração por parte de sua equipe.
Óbvio que os resultados obtidos são também fundamentais nesse processo de “julgamento”, porém, pelo fato de a performance sofrer forte influência das expectativas e de fatores exógenos de mercado, há margem para questionamentos.
Já a admiração dos colaboradores, não! Essa é, digamos, mais genuína, pois inclui momentos de cobrança, eventuais cortes, algumas broncas, discordâncias e até fatores externos, afinal todos passam por problemas particulares.
Sair de um lugar que convivemos com pessoas, seja por vontade própria ou não, tem como lado bom a oportunidade de se autoavaliar através da observação das demonstrações de seus colegas, principalmente pares e equipes.
Feliz daquele que tem a oportunidade de viver essa experiência.
Tenho certeza que o artigo ficaria mais elegante e positivo se fosse encerrado por aqui, mas, por outro lado, perderia a oportunidade de mostrar o antiexemplo, uma maneira de reforçar o correto.
Tentando resgatar a elegância perdida ao não ter encerrado o texto anteriormente, não citarei nomes, mas chamo a atenção para uma postagem feita no instagram, após a vitória citada no primeiro parágrafo, na qual o autor, um tricolor, debochava do Fernando Diniz.
Gostar ou não de alguém, é direito de todos, debochar também, só que nesse caso denotou muito mais recalque do que algum tipo de humor sarcástico e inteligente.
Piora a situação saber que o autor da indelicadeza, além de levar a empresa que dirigiu à beira da falência, não desperta a menor admiração por parte do capital humano que lá deixou. 
Isso talvez explique seu rancor e seu recalque.





terça-feira, 1 de outubro de 2024

Esportes coletivos e as marcas - Paris 2024

Em relação ao fornecimento de material das equipes de esportes coletivos que disputaram os Jogos de Paris, o levantamento da Jampo Sport Business analisou as competições de basquetebol 5x5, basquetebol 3x3, futebol, handebol, hockey, rugby e voleibol de quadra, todas elas nos dois gêneros. O estudo também comparou as movimentações ocorridas, tendo como parâmetros os Jogos de 2012, 2016 e 2020.
Os números apresentados deixam evidente que as marcas globais como Adidas, Nike, Puma e Asics, costumam estar presentes em mais de uma modalidade, o que denota, não apenas maior capacidade de investimento e atenção ao fortalecimento da marca, mas também maior flexibilidade para a "produção"/"disponibilização de itens, principalmente os têxteis, de forma mais diversificada.
Mesmo diante dessas características, é possível constatar uma espécie de “maior domínio” de algumas delas em dadas modalidades, o que vem a ser o caso da Nike com o basquetebol 5x5 e 3x3, a Mizuno no vôlei e a Adidas no hockey e no rugby.
No futebol, identificamos a mesma disputa entre marcas que há no futebol profissional, onde Adidas, Nike e Puma vestem as principais seleções.
Os números que embasaram o estudo permitem também especular sobre o grau de interesse despertado pelos países perante às marcas. Sob essa ótica, vemos que o Brasil, mesmo com representantes em cinco das modalidades: voleibol, rugby, handebol, basquetebol e futebol, só aparece com fornecedores globais nos dois últimos, sendo as demais supridas por marcas regionais.
O levantamento mostra ainda: 
  • A Adidas como a marca presente em mais modalidades, ficando ausente apenas nas competições de basquetebol 3x3 e 5x5 nos dois gêneros. Ainda sob essa ótica, vemos Nike e Puma empatadas na 2ª posição com nove modalidades cada.
  • Das quarenta e duas marcas encontradas na amostra, vinte (47,6%) tiveram equipes em apenas uma modalidade cada.
  • Quando voltamos nossa análise para a marca que vestiu mais times, a liderança passa a ser da Nike com 28, seguida por Adidas com 24 e Puma com 14. 
  • Em relação às medalhas conquistadas, as equipes que competiram com uniformes da Nike subiram doze vezes ao pódio, sendo quatro vezes no lugar mais alto. A Adidas foi a 2ª marca ao ganhar oito medalhas, das quais quatro foram de ouro.
  • As competições coletivas foram disputadas por 52 países. Pelo fato de ser facultado ao país que sedia o direito a participar de todas as competições coletivas, a França é a líder nesse quesito, seguido pelos Estados Unidos com onze e o Japão com dez.
  • A maior parte dos países teve mais de um fornecedor, vide, por exemplo, os casos do Japão com seis e da Alemanha com cinco. Já outros como a Austrália, a Sérvia e a África do Sul tiveram todas as modalidades supridas por apenas uma marca.
Vale, por fim, destacar que a maior parte das equipes vestiram uniformes das marcas que têm contratos com as respectivas federações, havendo, no entanto, aquelas que usaram as dos comitês olímpicos locais. Ilustram essas situações: o basquete da Austrália que tem a iAthletic como patrocinadora e que jogou com Asics e o rugby da África do Sul que tem contrato com a Nike, mas vestiu Maxed nos Jogos de Paris.






terça-feira, 24 de setembro de 2024

Deus me livre de ______ CEO

Poderia iniciar o artigo com uma lúdica brincadeira de “complete a lacuna do título”, porém, para não dar margem a generalizações como a que foi cometida pelo então CEO do grupo G4 Educação que, numa de suas declarações, completou a frase em referência com a palavra “mulher”, vamos abolir, por ora, o exercício.
Antes de analisar a fala do citado executivo, convém registrar que todos têm direito à opinião e que, na posição de líder, a preferência por certos caminhos é um direito inerente ao cargo. Esclarecidos esses pontos, vejo na inciativa dois erros crassos: (i) a busca incessante e demasiada pela exposição; (ii) a utilização de generalizações, o que retrata ignorância e irresponsabilidade.
A propósito, não foi a primeira vez que o tal sujeito apelou para discursos preconceituosos. Meses antes da fala infeliz que motivou o presente texto, ele declarou que não contrata esquerdistas. Fico aqui tentado a escrever que toda generalização é burra, só não o faço para não incorrer no mesmo tipo de erro, embora aqui caiba.
Exemplos de mulheres que chegaram ao cargo de CEO e tiveram desempenhos excepcionais não faltam, assim como de homens. Achar que gênero define capacidade denota uma miopia assustadora, sendo aceitável, talvez, alguma preferência em dado momento por questões estritamente pontuais. O que quero dizer é que algumas vezes a urgência da decisão pode implicar em escolhas que tenham o gênero como um dos atributos de avaliação, mesmo assim, trata-se de uma condição cada vez mais rara.
Custo a acreditar que um líder não se preocupe com as consequências que uma fala pode trazer à política de recursos humanos de sua corporação. Será que o autor da frase não pensou no potencial prejuízo aos processos de retenção e atração de talentos, principalmente em relação às mulheres?  
Isso sem falar na imagem perante os demais stakeholders, ainda mais se tratando de uma empresa do segmento de educação. Quem pensava em contratar os serviços da empresa, provavelmente, não estará tão seguro para fazê-lo depois do incidente.
Como desenlace imediato para o imbróglio, temos que o preconceituoso executivo deixou o cargo de CEO da G4 Educação, sendo substituído por uma mulher, além disso, foi expulso do Conselho Consultivo da Hope, empresa líder no segmento de roupa íntima.
Medidas interessantes para atenuar o momento de crise, mas que só o tempo poderá trazer a correta dimensão de sua eficácia.
Creio ser válido também a reflexão sobre o linchamento virtual e social que vem sofrendo o ex-CEO. Era para tanto? Será que a cultura do cancelamento não está passando do limite? Será que pessoas tão ou mais preconceituosas não estão se aproveitando da onda para ficarem “bonitos” diante de suas redes?
Esse último questionamento, então, deve ser muito bem analisado, vide que a declaração sobre a não contratação de esquerdistas, mesmo sendo preconceituosa, não mereceu uma linha de reprovação sequer por parte dos atuais críticos. Será que concordaram? Será que a ojeriza a preconceitos é seletiva? Será que avaliaram que não conseguiriam “lacrar” com eventuais protestos? Todas as hipóteses enumeradas são péssimas, que se registe.
Finalizo, voltando à brincadeira proposta no primeiro parágrafo, completando a lacuna do título com a palavra “generalizador”.




terça-feira, 17 de setembro de 2024

Planejar pra quê?

Já perdi a conta da quantidade de vezes que tentei elucidar o que vem a ser marketing tamanha a distorção sobre o assunto. São conversas com amigos, elaboração de artigos e até entrevistas com executivos e headhunters que, em tese, deveriam saber. Há horas em que me vejo como Dom Quixote num confronto contra os moinhos de ventos e, pior, sem a companhia do Sancho Pança para me dissuadir da empreitada, que pode até ser em vão. Vai saber.
Mas tenho uma notícia boa, ou talvez, ruim. O marketing não está sozinho! Juntou-se a ele o tal do “planejamento”, cuja utilização está mais para retórica do que para prática. E nem falo do pomposo “planejamento estratégico”, esse, ainda que fundamental, tem um entendimento mais difícil, pois envolve a direção estratégica e a definição da alocação de recursos para tal, algo mais na linha do longo prazo.
Refiro-me ao estabelecimento de metas, previsão de eventos futuros municiados do acompanhamento de indicadores e elaboração de planos de contingência para a correção rápida dos desvios.
Algo básico, ou que deveria ser. Pena que a realidade não seja tão risonha e bela...
Pois é, a realidade é que grande parte das pessoas atrelam o planejamento a algo lento e que atrasará as tomadas de decisões, quando é justamente o contrário.
Se uma empresa tiver cenários bem delineados, muito dificilmente será pega de surpresa a ponto de ter que tomar decisões de forma abrupta e sem o devido embasamento acerca das implicações para as opções de reação.
Só que, em nome de uma “suposta agilidade intuitiva”, os detratores do planejamento preferem não “perder” tempo com isso.
Para tentar ilustrar os dois extremos, vamos imaginar a situação em que se tem um compromisso agendado. Há a opção de sair no horário convencional e seguir o costumeiro caminho, ou perder um tempinho consultando um desses aplicativos, tipo Waze. Na primeira opção, caso haja um imprevisto no percurso habitual, o sujeito que não gosta/sabe planejar ficará parado ou tentará alguma alternativa baseada no feeling. Já os afeitos a planejar, consultarão o aplicativo com o celular devidamente carregado, claro. É verdade que há uma pequena perda de tempo na consulta ao Waze, mas nada impactante.
No caso de empresas, não de forma tão simplória, o processo é similar. 
O que se faz quando as vendas ficam abaixo do orçado? Quando há um problema de produção, seja no maquinário ou na falta de insumos? Quando um colaborador sai de férias, pede demissão ou precisa ser desligado? 
Espera para decidir na hora que acontecer? Evidente que não!
Querer previsibilidade numa operação é utópico, há uma série de fatores exógenos interferindo em qualquer processo corporativo, mas isso não é prerrogativa para se rejeitar o planejamento. 





terça-feira, 10 de setembro de 2024

Marcas esportivas no futebol - 2024-2025

Baseado na 11ª edição - temporada 2024-2025 - do estudo elaborado pela Jambo Sport Business acerca das marcas que vestem os clubes da 1ª divisão de 20 principais países, apresentamos a seguir alguns pontos dignos de destaque, lembrando que o estudo pode ser acessado através do link https://www.linkedin.com/posts/halfen_marcas-esportivas-nas-ligas-mais-valiosas-activity-7236310772581056512-PIQP?utm_source=share&utm_medium=member_desktop
Ao todo foram analisados 380 times - um a menos do que na temporada anterior – e sessenta e cinco marcas, considerando a Jordan como Nike e agrupando todas as marcas próprias em uma. Vale notar que cinco times estão sem fornecedor de material esportivo e trinta e nove vestindo uniformes de fornecedores diferentes dos que usaram na temporada passada.
O acréscimo de cinco times manteve a Adidas na liderança, dentre as equipes que passaram a vestir a marca alemã, as mais representativas são: Aston Villa e Newcastle (ambos ex-Castore). Outro fato positivo foi a conquista da liderança isolada entre os 30 clubes mais ricos.
Na Nike, a perda de duas equipes não foi suficiente para ameaçar sua vice-liderança. Entre as perdas destacam-se as do RB Leipzig e do Galatasaray, que passaram a usar uniformes da Puma. Já o Toulouse, ex-Craft, passou a usar Nike.
A Puma se manteve na 3ª posição, agora com sete times a mais do que na temporada passada, diminuindo assim sua diferença para a Nike. Vale mencionar que passou a ser a marca líder quando se considera o somatório dos times das cinco principais ligas. As conquistas do RB Leipzig e do Galatasaray, ambos ex-Nike, como citado acima, são indícios de uma atuação mais agressiva.
Foi identificado um movimento em relação às marcas próprias, que vale ser observado mais de perto. Além da diminuição da quantidade delas na série B do campeonato brasileiro (de sete para cinco), vimos também uma diminuição na série A, o que se deveu principalmente à mudança ocorrida no Fortaleza, o qual trocou sua marca própria a Leão 1918 pela brasileira Volt. Esse movimento, caso se confirme, não significa que as marcas globais voltariam a aportar verba nesse formato de patrocínio.  Na verdade, mais parece uma tentativa das marcas regionais se estabelecerem nesse mercado.
Na segmentação que se restringe à análise das 30 equipes que mais faturaram, vemos a Adidas voltar à liderança de forma isolada. Esse corte é um bom indicativo do esforço e capacidade de investimento das marcas, pois, em tese, tais times possuem maior poder de barganha e exigem das marcas melhores condições contratuais.
Quando se foca apenas os clubes que atuam nas cinco ligas mais valiosas: Premier League (Inglaterra), Bundesliga (Alemanha), La Liga (Espanha), Serie A (Itália) e Ligue 1 (França) - a principal mudança se deu na liderança, onde a Puma, pela primeira vez desde que o estudo é realizado assumiu a posição ao desbancar a Nike.
Já entre os times que compõem a amostra europeia – treze campeonatos - a Nike, como vem acontecendo desde a 1ª edição do estudo, se manteve na liderança, porém, agora empatada com a Puma, que acrescentou oito times ao seu portfólio.
Na América do Sul, que contempla três países no estudo, a Adidas é a marca mais presente pela terceira temporada consecutiva. Vale notar que se reuníssemos todas as marcas próprias em apenas uma, essa ocuparia a 4ª posição de forma isolada.
Considerando apenas o Brasil, a marca das três tiras também é líder ao vestir quatro times. Dos vinte clubes no campeonato brasileiro, treze vestem marcas globais, três próprias, três regionais e um está sem fornecedor.
Não houve alteração no que tange ao fornecimento das seleções, todavia, segundo especulações, a partir de 2025 ocorrerão mudanças em seleções tradicionais.